sábado, 15 de julho de 2017

LIONS, NOTAS FINAIS

Já foi dito e redito: o empate é uma chatice! Como "beijar a irmã", diz Steve Hansen. Sem graça nenhuma dizem os adeptos dos dois lados.
Mas olhando para a média estatística dos 3 testes o empate é o resultado do jogo. Veja-se que, se os All-Blacks têm vantagem no número de bolas disponíveis e de metros conseguidos no transporte da bola, os Lions têm vantagem no número de placagens realizadas. O que apenas dá uma vantagem de 0,4 na média dos ensaios favorável aos neozelandeses (5 ensaios All-Blacks e 4 para os Lions). Ou seja: as dificuldades do ataque para ultrapassar as defesas foram enormes.
E, por estes parâmetros, a figura da digressão foi o treinador da defesa dos Lions, Andy Farrell, que conseguiu a proeza de fazer baixar a média de ensaios dos All-Blacks de 5,7 para 1,67 e a de pontos de 40 para 22. Feito notável e que se baseou na "scramble* defense" - defesa mista rápida e adaptativa - constituída por uma superior capacidade táctica de análise e consequente adaptação imediata às diversas situações impondo a antecipação e não através de uma estrutura pré-definida, mas com uma atitude eficaz de controlo e corte das hipóteses adversárias, nomeadamente com ocupação do espaço para corte das linhas de passe. E que exige um espírito colectivo de grande densidade - nitidamente jogando uns pelos outros. Um enorme e bem concebido trabalho que conseguiu levar os jogadores a pensarem e decidirem, colocando-se fora da área de comodidade que os sistemas estruturados propõem. (A minha curiosidade remete para o método de treino utilizado...). Como diz o próprio Andy Farrell: "Não se trata apenas de sprintar a partir da linha. Trata-se de adaptação à situação. Se a oposição consegue um offload então o sistema tem que ser mudado."
Watson soube cortar a linha de passe e recuperar a bola num momento crítico para o resultado final

OS MELHORES JOGADORES DA DIGRESSÃO
SAM WARBURTON (Gales)
Foi um capitão notável, dentro e fora do campo. Tendo começado o 1º teste no banco, a sua influência nos restantes foi visível. Atento, álerta, congregador, tacticamente influente - ainda me lembro do aviso aos companheiros: atenção ao jogar rápido! logo que o árbitro apitou penalidade. A eficácia da sua placagem (19), o contributo nos alinhamentos com 5 bolas ganhas e a capacidade de participar no início da organização defensiva foram as suas armas positivas. Para além de tudo o mais terá sido ele -pelo que se lê - que lembrou a Poit a figura de fora-de-jogo acidental...
LIAM WILLIAMS (Gales)
Lançado como defesa nos três testes jogou como se aí fosse o seu lugar de eleição. Com 151 metros de transporte de bola e o lançamento da jogada do ensaio da digressão marcado por Sean O'Brien no 1º teste, com uma movimentação notável a deixar adversários colados ao chão, o defesa dos Lions foi sempre uma ameaça atacante.
ANTHONY WATSON (Inglaterra)
A demonstração de conhecimento táctico realizada no momento de jogo em que Jonathan Davies placou, depois de uma sufocante corrida, o centro neozelandês Laumate, resistindo à tentação de ir à bola - teria que dar a volta e entrar pela "porta" - abrandar a sua corrida e cortar a linha de passe, acabando por captar o offload, foi notável e mostrou a qualidade de jogador que é. Aliás se não fosse esta sua acção dificilmente o empate das séries seria o resultado final. Um jogador a ter em atenção no caminho para o Mundial 2019
JONATHAN DAVIES (Gales)
Ter sido considerado pelos seus companheiros como o jogador da digressão basta para se perceber a sua importância. Mas se verificarmos o seu transporte de bola - participou também no ensaio de O'Brien - de 146 metros, as 5 rupturas defensivas, a consistência defensiva, a qualidade do seu jogo ao pé podemos apostar que estamos na presença de um centro de categoria mundial.
OWEN FARRELL (Inglaterra)
Não terá feito dos melhores jogos, cometeu alguns erros que iam comprometendo a equipa, mas a sua capacidade de chutar aos postes (31 pontos) e a sua consistência defensiva (20 placagens), permitindo impedir as rupturas defensivas no canal central, foram fundamentais para o resultado final.
CONOR MURRAY (Irlanda)
Foi rápido a passar e o seu jogo ao pé foi sempre tacticamente adequado e a colocar problemas ao três-de-trás adversário. Marcou um ensaio, criou 3 rupturas e ainda fez 16 placagens. Nada que se estranhe de um dos melhores médios-de-formação mundiais.
TADHG FURLONG (Irlanda)
Um senhor pilar capaz de marcar posição nas formações-ordenadas mas ainda de transportar a bola e ainda de placar 16 vezes. De facto funciona como uma verdadeira ameaça sempre que recebe a bola em movimento. Será uma figura irlandesa no próximo 6 Nações.
MARO ITOJDE (Inglaterra)
Que se pode dizer deste gigante que, para além da sua importância nos alinhamentos, faz 24 plcagens, sabe transportar a bola e ainda garante o apoio aos seus companheiros que colidiram com defensores? Não será exagero afirmar que é um dos poucos que pertence ao reduzido grupo de Bases de categoria mundial. Espera-se com expectativa o que nos vai mostrar no 6 Nações. 
SEAN O'BRIEN (Irlanda)
Na linha dos agressivos e resilientes terceiras-linhas irlandeses - lembram-se de Slatery? -  O'Brien teve enorme infuência no processo defensivo dos Lions - realizou 24 placagens e transportou a bola por 70 metros gastando alguns deles para marcar o ensaio da digressão com uma linha de corrida de apoio notável para aparecer no momento certo.
O PIOR DOS JOGADORES
KYLE SINCKLER
O pilar inglês foi preso na madrugada posterior, cerca das 3 da manhã, ao último teste "por um incidente menor que, depois dos inquéritos realizados, se demonstrou sem consequências" - segundo a polícia da Auckland que o escultou de volta ao hotel da equipa. 
Dadas as circunstâncias do comunicado policial e tendo lembrado ao jogador "as suas responsabilidades enquanto Lion que são extensíveis ao seu comportamento fora do campo", John Spencer, responsável da comitiva dos Lions e o capitão Warburton consideraram o assunto como definitivamente encerrado.
Apesar desse facto, o pilar inglês, que realmente teve um comportamento fora do expectável para um jogador internacional, fez um formal pedido de desculpas. Assim: "Peço desculpa de me ter colocado e aos Lions nesta situação e também à polícia e a quaisquer outros que tenham sido afectados.
Dois factos se salientam a demonstrar a actuação normal em casos semelhantes: o conhecimento público do acontecimento e o seu não escamoteamento por parte dos responsáveis dos Lions e o pedido de desculpas também públicas de Kyle Sinckler.

* "scramble" era a palavra utilizada pela aviação britânica quando ameaçada para colocar tão depressa quanto possível os seus aviões no ar sem qualquer formação ou ordem especial numa desordem que se transformava em ordem pelo traquejo dos pilotos e pela necessidade da eficácia.

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