sexta-feira, 7 de julho de 2017

POR UM FUTURO COM RESULTADOS

Sendo a missão das federações desportivas a criação das condições de competição desportiva que permitam a melhor preparação possível para o confronto internacional e não, como muitos gostam de julgar, a de dever espalhar a prática do desporto pelo país inteiro - isso é obrigação do Estado através da Escola e do apoio das Autarquias - têm portanto como seu objectivo e propósito, o desenvolvimento do Desporto Rendimento. 
Na actual situação, com o excesso de equívocos com que o Desporto tem sido rotulado - se não houvesse desporto para atacar tantas maleitas nem sei como existiríamos... - não será grave a co-existência, numa mesma federação, das duas componentes: Desporto-Rendimento e Desporto-Social ou Lazer. Desde que...
...desde que não haja ingerências e que exista nítida separação de meios e acções uma vez que, sendo os interesses e conteúdos distintos também o serão uma e outra das práticas. Assim o que faz sentido é separar as duas componentes em duas estruturas distintas com corpo de tomada de decisões também distinto numa adaptação das ligas profissionais à estrutura amadora das diversas federações. Ou seja: de um lado aqueles que têm capacidade organizativa para ser sustentavelmente competitivos na área do Desporto Rendimento; do outro aqueles que mais ligados à prática de lazer da modalidade não têm ainda, ou não quererão ter nunca, as estruturas necessárias para ultrapassar o conceito desportivo de lazer. O que não quer dizer que não possa haver competição para ambos os conceitos. Mas com exigências diferentes, fazendo-se a articulação (ou passagem) de um nível para o outro por candidatura demonstrativa das capacidades de cumprimento de um caderno de encargos previamente estabelecido e demonstrado ao longo de determinado tempo.
Veja-se o que se passa com as provas populares de estrada no Atletismo: partem em primeiro lugar os atletas de Alto Rendimento que são seguidos, após intervalo de tempo ou de distância, por milhares de praticantes que, embora a velocidades diferentes, fazem o mesmo percurso, cumprindo os seus objectivos próprios, mas sem interferência entre uns e outros.
A organização da federação nestes termos de separação de conteúdos não coloca qualquer problema legal como lembra o preâmbulo do Decreto-Lei nº93/2014 de 23 de Junho que procede à primeira alteração ao Decreto-Lei nº 248-B/2008 de 31 de Dezembro que estabelece o regime jurídico das federações desportivas e as condições de atribuição do estatuto de utilidade pública desportiva. Escreve-se assim no referido preâmbulo e mostrando assim o “espírito da lei”: Em sétimo lugar, são revogadas as disposições relativas às associações de clubes não profissionais e às associações territoriais de clubes, deixando à total liberdade das federações desportivas a respetiva organização interna e admitindo o agrupamento dos clubes ou sociedades desportivas da forma que entenderem mais conveniente. (sublinhado meu) 
Todos os países adversários evoluiram e se nós não encontrarmos uma saída para o marasmo actual - estamos sem resultados que garantam o interesse das pessoas e dos patrocinadores e o nível do jogo tem vindo a baixar - tenderemos à queda vertical. E o rugby, enquanto jogo de rendimento onde a superação, o resultado e a constante melhoria técnico-táctica são suas características essenciais, acaba-se. Ou seja: desaparece o jogo desportivo que conhecemos como rugby
O desporto é competição com base na superação, no rendimento e na qualidade dos resultados. Não uma forma de lazer paga pelos dinheiros públicos. Tem uma exigência de resultados qualitativos que, então sim, podem proporcionar quantidades até ao limite da capacidade da organização. Mas são precisos resultados!
O Rugby é um Desporto Colectivo de Combate. Como Desporto representa os valores que estão associados a qualquer modalidade desportiva. É o facto de ser, para além de Desporto, Colectivo e de Combate que lhe garante características próprias e que as Leis do Jogo traduzem (por exemplo, 10 metros, forma de placar, cartão amarelo, fora-de- jogo, etc. etc) e que levam a que os comportamentos sejam geralmente mais moderados do que se poderia supôr. E é esse comportamento que é (ou deveria ser) extensível às comunidades que suportam o jogo. Ou seja são as características do jogo que desenvolvem e ampliam alguns dos valores que se consideram como desportivos e que se traduzem (ou deveriam traduzir) numa forma comportamental distinta e que lhe garante uma áurea própria. Que se perde se não houver colectivismo e combate...
Fazer da modalidade um caso especial, diferente de todas as outras, é pretensioso e deslocado, retirando, por um lado, sentido crítico e, por outro, impedindo de perceber o sistema desportivo mais global  - seja interno ou externo - ao qual pertencemos. Continuar com a retórica de valores que nos tornam especiais e diferentes tem apenas servido para esconder as questões que têm diminuído a qualidade interna da modalidade. Olhar de frente os problemas e enfrentá-los é a acção necessária e urgente. Antes que o tempo nos ultrapasse.

A separação dos conteúdos que se confundem na actual federação desportiva é exigência fundamental para permitir o desenvolvimento competitivo do rugby português e possibilitar a sua aproximação aos países com quem disputamos competições internacionais. Não o fazer, diminuindo assim, por falta de resultados atractivos, a penetração no tecido patrocinador, criará as maiores dificuldades à existência da modalidade no rectângulo português. Fazê-lo, pelo contrário, permite estruturar o caminho da qualidade que, essa sim, atrairá a quantidade.

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