terça-feira, 18 de julho de 2017

OPORTUNIDADE DESTROÇADA

O quarto lugar conseguido pela selecção portuguesa de Sevens na 4ª e última etapa do Grand Prix Series disputado em Exeter - à frente dos já apurados para o Mundial 2018, Inglaterra e França e dos pressupostos adversários directos Espanha, Alemanha e Geórgia - veio demonstrar uma evidência: se preparada de forma adequada, a equipa portuguesa tinha todas as condições para uma participação competitiva de acordo com os objectivos desportivos pretendidos de acesso a Hong-Kong e/ou entrada na corrida ao Mundial de 2018.
Infelizmente a falta de visão e a existência, até, de preconceitos sobre a variante por parte dos responsáveis da modalidade a que a comunidade rugbística assistiu sem preocupações, tornaram impossível o cumprimento da missão portuguesa. E o resultado disso viu-se na posição final: um 8º lugar sem honra nem proveito.


O facto é este: foi por decisões erradas e falta de interesse da administração da modalidade - nomeadamente colocando o Portugal-Brasil de relativa importância num patamar que não merecia e que, apesar da desonrosa derrota, não teve quaisquer consequências no modelo seguido - e não por erros cometidos dentro do campo que Portugal não conseguiu melhor do que a 8ª posição num “europeu” que, à partida, lhe permitiria chegar bem mais longe. O que é grave, porque irresponsável, para uma área do Desporto de Rendimento onde, mais do que tudo, contam os resultados.
Esta falta de responsabilidade tem ainda duas consequências também graves:
  • diz-se que “o jogo de rugby pertence aos jogadores”, conceito que alerta para qualquer tomada de assalto que o possa desvirtuar e que coloca o jogador no centro da modalidade, como seu foco essencial de atracção. Quer isto dizer que todas as acções realizadas ou decisões tomadas devem ter sempre em atenção os jogadores e as consequências que os afectem uma vez que são eles que melhor expressam o interesse desportivo. Por isso e como exemplo, a introdução de “amarelos”, as preocupações sobre as concussões, a simplificação das regras para que haja uma perfeita compreensão das ilegalidades do jogo ou o aumento do valor dos ensaios - o momento mágico para que “vivem” os jogadores. No caso da participação portuguesa no europeu de Sevens - conhecida desde que os Sevens se organizaram - as decisões tomadas nunca tiveram em qualquer atenção os jogadores que poderiam estar envolvidos nos Sevens nem tão pouco o interesse desportivo da modalidade - que ultrapassa e muito o jogo dos pequenos interesses que estão sempre presentes. Foram decisões ou não-decisões (não)tomadas.
  • sabe-se, porque vem nos livros, que o “respeito” é um dos cinco valores exigidos para a prática do rugby. Ora as decisões (não)tomadas não tiveram qualquer respeito pelos jogadores. Que são amadores, que não recebem e que têm na possibilidade de participar em grandes provas - World Rugby Sevens Series, Mundiais ou Jogos Olímpicos - a recompensa para os seus sacrifícios. E esse respeito não existiu, deixando-se que tudo fosse tratado com o ardiloso livre arbítrio de uma qualquer zona de conforto.
E por tudo isso e sem razões que o justifiquem, a selecção portuguesa de sevens viu-se, durante as 4 etapas, a braços com 10 estreias absolutas e com 20 mudanças de etapa para etapa, nunca conseguindo uma equipa com a coesão necessária ao Alto Rendimento - repito o básico: a entrada da variante para o Movimento Olímpico modificou completamente a envolvente do jogo. O rigor é outro e as exigências são absolutas. Mas estas não devem ser preocupações nossas pois que e como parece, preferimos sempre actividades não mensuráveis e que dêem uma falsa ideia de progresso.

O Alto Rendimento exige uma gestão precisa e rigorosa com uma estratégia simples, clara e determinada. Os objectivos desportivos devem ser precisos, motivadores e adequados às capacidades da equipa e capazes de serem atingidos por mais do que uma via por necessidade de respostas a imponderáveis. E estarem sempre suportados por um apoio constante que facilite os caminhos a percorrer.
A selecção portuguesa de Sevens mostrou que tinha os jogadores com as técnicas e o conhecimento táctico necessário para se bater até ao fim pelos resultados pretendidos. Mas nunca se viu envolvida por uma estratégia motivadora ou eficaz e os seus dirigentes deitaram fora uma oportunidade irrepetível para relançar uma carreira internacional decisiva para garantir os retornos necessários à continuidade do desenvolvimento.
E o Desporto de Rendimento não vive de penas ou de remorsos… vive de factos transformados em resultados.


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