segunda-feira, 7 de maio de 2018

À PALAVRA DE PRATA...O LATÃO DAS ACÇÕES

O Rugby é um desporto colectivo de combate. Combate permanente pela conquista da bola e do terreno. Mas, porque se rege por regras definidas nas Leis do Jogo, não é um campo de combate para a troca de murros, pontapés ou cabeçadas. Porque é Desporto e o Desporto não é compatível com violência seja quais forem as roupagens com que esta se apresente.
A Federação Portuguesa de Rugby deu conhecimento público dos primeiros castigos sobre os acontecimentos do jogo Agronomia-Direito de sábado passado e que foram considerados “os mais graves numa série de incidentes verificados desde a primeira jornada da presente época desportiva” cujo enquadramento, como estabelece o comunicado federativo de 30 de Abril p.p., se configura na seguinte forma: “A extrema gravidade dos acontecimentos extravasa o mero âmbito dos regulamentos e exige medidas firmes, ainda que inéditas, no sentido de proteger a imagem do rugby português e os seus valores”.
Não deixa, no entanto, de ser curioso que para esta pretensa preocupação e noção federativa, não tenha havido uma preventiva atenção regulamentar e legal de considerar o jogo como de elevado risco (alínea b) do ponto 2 do artº 10º do regulamento federativo correspondente à alínea b) do ponto 2 do artº 12º da Lei 39/2009, ambas definindo a Qualificação dos Espectáculos) conforme está determinado.
Lidos os castigos no oficial Boletim Informativo e pese embora as suspensões mantidas em relação a alguns casos, a ideia que exprimem é a de que a montanha terá parido um rato.
De facto, provadas as agressões a murro, elas foram castigadas, recorrendo a uma dimensão sancionatória que contempla a "agressão a murro, de mão aberta, com o braço ou o cotovelo" com uma suspensão por um período de 3 a 8 semanas e que, para uma situação definida como de “extrema gravidade”, foram tratados como acidentes isolados e não como um conjunto de agressões entre duas equipas pegadas colectivamente em dois momentos do jogo - um inicial, outro final - ignorando-se um facto evidente: nesses dois momentos e ainda no pós-final do jogo, instalou-se um clima de violência que deveria ter retirado o Regulamento de Disciplina como base de análise, substituindo-o pelo Regulamento da Violência que replica a Lei 39/2009. Porque os factos encaram-se de frente e sem rodeios.
Mas aconteceu o previsível...
Substituindo o normal método de partir do geral - para definir o contexto - para o particular - para, então contextualizado, definir as sanções a equipas, jogadores ou dirigentes - o Conselho de Disciplina estabeleceu, dividindo, a sua visão na particularidade de cada caso. Ignorando assim a sua integração num domínio generalizado de violência. E assim se trocou a aplicação do Regulamento indicado por um outro, mais suave. Colocando-se a questão: o que é preciso para, regulamentarmente, considerar uma situação como de violência?...
Recorrendo - face à “extrema gravidade dos acontecimentos” - a um método errado que elimina a relação entre os casos, a Federação Portuguesa de Rugby - e apesar das palavras de circunstância que os seus comunicados expressam - consegue o que as suas acções - reunião com Agronomia e Belenenses e decisão de adiamento do CN1 - mostram pretender: a realização, seja quando fôr, da final. Objectivo que, pelos vistos, se sobrepõe a uma intervenção decente sobre os acontecimentos.
Dada a gravidade dos factos e conforme já defendi, esta decisão da FPR é errada e não demonstra a necessária firmeza de intenções que o momento exige e que o comunicado federativo promete. Nem serve como lição para impedir, no futuro, situações idênticas. Porque não vai obrigar ninguém, desde a formação à competição, a pensar duas vezes sobre o estado das coisas.
Sendo, no entanto, uma decisão dentro da dupla interpretação que a FPR escolheu - muito grave publicamente, mediana e acidental para o seu interior - ela corresponde à legitimidade regulamentar que lhe assiste e, portanto, uma exigência se impõe: por favor não nos atirem mais areia para os olhos com mais estórias de valores...
O Rugby é um Desporto que merece mais do que o faz-de-conta da ilustre palavra de prata. Quanto mais não seja pelo merecido e devido respeito a todos aqueles que deram e têm dado o seu melhor para o seu desenvolvimento.

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