terça-feira, 19 de junho de 2018

DE EQUÍVOCOS...NADA RESULTA


A derrota com a Alemanha confirmou uma evidência: o XV de Portugal não ganha jogos decisivos!
Mesmo surgindo uma sorte inesperada que foi a de aparecer como adversário a pior equipa do Championship da Rugby Europe, nada. Fomos de novo derrotados como tínhamos sido em Fevereiro de 2016, então por 50-27 e a definir a nossa descida, ou contra a Bélgica em Maio da época passada. Ou seja, contentámo-nos — sem querer perceber que jogámos sempre contra equipas de fraco nível, todas elas com posição e pontuação de ranking inferiores aos nossos—em assinalar vitórias sem qualquer significado para, deslumbrados na sem importância, nos perdermos no que realmente importa. E assim continuámos na III divisão europeia…
Uma vitória neste jogo contra a fraquíssima Alemanha — verdadeiramente não jogam algo que valha  a pena mencionar — ter-nos-ia possibilitado jogar na repescagem para o Mundial de 2019, com equipas de nível competitivo superior aos adversários que normalmente temos e que, com o jogo da fava que nos saiu para o jogo de barragem com a Roménia — o melhor ataque da Championship Rugby Europe — nos possibilitaria, nos 4 jogos, hábitos competitivos internacionais que nos poderiam ajudar a pensar seriamente na subida de grupo. Agora assim …
Não é possível deixar de pensar na absoluta incompetência que regeu a organização e preparação da selecção portuguesa. Tivemos a sorte da demagógica ideia de todos terem direito a “participar” no Campeonato do Mundo e saiu-nos uma rifa para um bota-fora num mesmo jogo que contava para o Trophy da Rugby Europe contra a República Checa acabada de chegar da IV divisão europeia… para avançarmos, graças aos erros disparatados da Roménia, Espanha e Bélgica, para um vigésimo premiado para jogar contra a pior equipa da Championship da Rugby Europe e saber quem seria o 2 da Europa. Mas tudo foi parar ao charco, naquilo que só se pode considerar como uma preparação e organização de um amadorismo confrangedor. Tão confrangedor que trazemos jogadores do estrangeiro para não jogarem ou ainda nos cremos como criativos ao alterar levianamente o código dos números dos jogadores suplentes utilizados pelo mundo fora, confundindo os pilares nos números 16 pelo 17 e 23 pelo 18… Uma equipa, para este nível competitivo, baixo mas superior ao interno habitual, não se prepara como um grupo para um encontro de um campo de férias onde basta conhecer os nomes uns dos outros. O desculpar-se com o desconhecimento da data não serve, porque não passa de mais um parâmetro na construção do plano. As questões são outras.
O segredo do sucesso dos desportos colectivos é sabido e está escrito: coesão! O que significa que os jogadores têm de demonstrar espírito de equipa activo e de poder, em jogo, “adivinhar” a leitura que o seu companheiro portador da bola fará da situação que enfrentam. E isto não se consegue por ouvir dizer, consegue-se por conhecimento: conhecimento táctico comum e conhecimento mútuo fabricados na acção com o necessário domínio das técnicas elementares.  
A Alemanha, repete-se, não tem qualidade e a sua ineficácia, excepcionando o seu chutador, é evidente - a meio do jogo perguntava-me: como é possível que uma destas duas equipas possa vir a competir até à última etapa da repescagem para o Mundial?! A selecção de Portugal também não demonstra a qualidade que gostámos de atribuir aos nossos jogadores. Por diversas razões que o jogo português demonstra todos os fins-de-semana.
Em Portugal ignora-se que o jogo exige avançar no terreno com apoio permanente para garantir a continuidade que estabelece os níveis de pressão que obriga o adversário a cometer erros ou seja, que é preciso cumprir, para garantir a eficácia, os Princípios Fundamentais do Jogo em cada movimento — por cá, como se vê na maior parte dos jogos, confunde-se um jogo de conquista com um jogo de bola. E por isso viciámo-nos a jogar para o lado. A lateralizar e não a verticalizar. E a isto juntámos ainda a comodidade de alterar a base da conquista de terreno do correr, receber e passar (run, catch, pass) para receber, correr, passar. E nem o facto do ensaio de Villax ter demonstrado que a defesa alemã não tinha forma de defender penetrações lançadas na boa sequência levou à procura da repetição. No entanto, repare-se que se Villax não tem dado o nó ao último defesa alemão, atacando o ombro interior duma linha de ombros já vista como desequilibrada, nenhum apoio teria para poder passar a bola… demonstrando o contrário de um colectivo na distracção do cada um por si.  
E assim jogámos, passando lateralmente, não atacando a linha de vantagem com jogadores lançados e, para último dos pecados, dando permanente vantagem à defesa adversária com idas para o chão que impedem a continuidade - que se faz de passes, de losangos, de uso da bola. E assim perdemos jogos que devíamos ganhar. Porque não nos preocupa ser eficazes.
Ganhar envolve mais do que os que estão num dado momento no terreno-de-jogo. Para ganhar, para ter uma equipa que faça do sucesso, embora na relatividade do nível a que tem acesso, o seu modo de vida, necessita de uma organização capaz, de hábitos competitivos de bom nível e, no fundo, no fundo, de saber para que existe. 
E começa a ser altura da comunidade do rugby português olhar para si própria, percebendo as responsabilidades de ser Utilidade Pública Desportiva e reconhecendo que a missão de uma Federação Desportiva que se estabelece na zona do rendimento é a de criar condições para que as suas equipas representativas possam competir internacionalmente. Conseguindo resultados que lhe permitam ganhar atractividade, respeito e patrocinadores.  

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