Jogado num campo de superfície irregular e aparente dureza excessiva — não terá sido sequer regado antes do jogo — mas com arbitragem da principal figura do actual rugby português, Paulo Duarte, a resiliente Agronomia venceu o Belenenses por 18-10, conquistando, depois das finais anteriormente perdidas (2008 e 2018), o seu segundo campeonato nacional principal — o primeiro foi em 2007.
E ganhou bem, superiorizando-se nos diversos capítulos do jogo ao adversário Belenenses.
Sabido o seu maior poder nos avançados, restava saber o que traria tacticamente Agronomia para garantir a eficácia dessa superioridade. E o recurso foi o ataque à “dobradiça” que, aliás, proporcionando o brilhante ensaio do infeliz Vasco Ribeiro — as melhoras e paciência na recuperação — criou, embora com poucas utilizações, constantes problemas à defesa belenense.
Uma final ganha-se e o jogo, a sua qualidade, pouco conta, costuma dizer-se. Portanto o que importa é vencer.
Muito bem, seja. Mas houve jogo, houve espectadores ao vivo e pela televisão e o jogo foi muito fraco. Muito longe do esperado por espectadores neutrais de uma final e de uma modalidade que tem pretensões internacionais.
O jogo teve baixa intensidade numa confrangedora falta de continuidade e foi muito lento pelas enormes dificuldades, de uma e outra equipa, quer pela má disponibilização da bola no contacto quer pela lentidão na reciclagem nos pontos-de-quebra que impediam a exploração dos desequilíbrios anteriormente criados. E ambas as equipas, com excepção do lance do ensaio já citado, mostraram uma enorme falta de criatividade atacante, centrando-se mais esperança do erro adversário do que na sua própria capacidade de surpreender.
Como consequência da lentidão surgiu a incapacidade de ultrapassar a “linha-de-vantagem” com os “aberturas”, amarrados à disponibilidade lenta dos seus “formações”, a manterem-se no posicionamento cómodo da distância, permitindo assim a vantagem da defesa em fáceis “deslizamentos”. Ou seja, o ataque funcionou mal por incapacidades técnico-psicológicas e o jogo foi maçador. O risco foi pouco e o medo do erro afogou qualquer hipótese de generosidade.
A acrescentar a esta lentidão e distância soma-se o péssimo jogo-ao-pé, muito mais de alívio do que com propósito atacante, entregando bolas fáceis aos defensores sem qualquer hipóteses de sucesso para os perseguidores atacantes. Contra-ataques nem vê-los porque se traduziram apenas em colisões com as paragens consequentes a permitirem a reorganização defensiva. Aliás o jogo-ao-pé colocou mais problemas às equipas que o utilizaram do que aos adversários, nascendo até daí o ensaio agrónomo que retiraria quaisquer hipóteses ao Belenenses de recuperação.
Acabado o jogo, definido um campeão fica, sem saudade, o exposto: temos campeão!
A ineficácia das linhas atrasadas constituídas por jovens internacionais que no Trophy europeu se fartaram de marcar ensaios demonstra a enorme desvantagem de aí jogarmos: envolvidos numa pressão ligeiramente aumentada pelo enquadramento de um jogo sem retorno, os jogadores em causa demonstraram a sua falta de adaptação competitiva para níveis mais elevados. E com o jogo de acesso à divisão superior contra a Alemanha aí à porta, esta final não deixou espaço para grandes optimismos mas deixou dúvidas para resolver: como modificar para adaptar em tão pouco tempo o uso da posse da bola às exigências competitivas esperadas? como atacar intervalos e garantir a convergência do apoio? como usar o jogo-ao-pé para criar desequilíbrios, conquistar terreno e
provocar erros?
Um ponto crucial resulta do que se viu nesta final do principal campeonato português de rugby: se não alterarmos o rumo que temos percorrido, o jogo português vai ficar cada vez mais longe dos adversários internacionais com os quais nos deveríamos bater equilibradamente na procura de lugares de acesso às grandes competições mundiais. Se o não fizermos, a comunidade rugbística portuguesa ficará com a enorme responsabilidade de falhar os seus deveres inerentes ao posicionamento de Utilidade Pública Desportiva. Com as consequências que daí advirão.