domingo, 29 de dezembro de 2019

O PÁSSARO FUGIDIO DA TAPADA

... e num último segundo tudo se virou de pernas para o ar!

Ao intervalo Agronomia ganhava por 17-10 e aos 72’, depois de um super-ensaio tirado da qualidade individual de Manuel Cardoso Pinto que, desligando-se de qualquer atilho em cima do meio-campo, atacou a linha-de-vantagem, quebrou a defesa e fintou quem lhe pareceu pela frente para marcar junto aos postes e colocar o resultado com 9 pontos de vantagem num 27-18 que parecia garantir a Taça.

Mas não foi assim...o VRAC venceu por 28-27... e conseguiu a sua terceira vitória consecutiva.

Os jogadores da equipa de Valladolid — dez deles não são espanhóis — não mostraram grandes qualidades — foram uma equipa previsível, sem soluções para encurtar, bem pelo contrário, a linha defensiva dos agrónomos, com uma permanente repetição de processos que pretendia conseguir pela força das colisões aquilo que a falta de capacidade, ou mesmo de conhecimento, da manobra não conseguia. Ou seja e como se viu durante grande parte do jogo o VRAC constitui uma equipa acessível a quem, por um lado, a sorte do jogo e, por outro, as incapacidades de Agronomia deram a vitória final.

Conseguindo, durante a primeira parte, manietar a equipa espanhola, desmultiplicando muito bem os seus defensores por obra e graça de uma inteligência táctica que permitiu não empenhar mais do que o número absolutamente necessário de jogadores em cada “ruck”, Agronomia foi desaparecendo do jogo e na segunda-parte já não mostrou o discernimento suficiente — nos “rucks” já eram utilizados mais jogadores do que o necessário — para que a possibilidade de reviravolta do resultado não começasse a ser uma hipótese provável.

Com o pássaro na mão — que diabo, 9 pontos de diferença é muita diferença para um quarto de hora final —  Agronomia deixou-o fugir por sua incapacidade manifestada em erros tácticos e falta de comando eficaz interno e externo que adaptasse o sistema à nova situação de progressão das dificuldades físicas. Com o empenho de mais jogadores nas fases estáticas, provocaram o desgaste físico dos defensores que tiveram que se multiplicar mais do que tinham feito anteriormente; com a diferença conseguida com o ensaio de Cardoso Pinto a manutenção da posse da bola foi continuada como se de processos atacantes se tratassem quando, dada a vantagem e o tempo de jogo, tudo recomendaria que o controlo se fizesse sobre o Canal 1, junto às formações, agregando e jogando com a ânsia adversária, procurando levá-los à falta. Isto é, recorrendo à inteligência táctica de que tinham dado anteriormente provas. Mas não, o jogo utilizado de procurar o contacto para a consequente formação expontânea na zona do Canal Central foi um erro evidente, desgastante e nunca alterado, resultando na derrota.

E porque terá acontecido esta mudança de sistema de uma primeira parte bem conseguida para uma segunda de incapacidade quase total? Essencialmente por abatimento físico — os jogadores de Agronomia foram-se fisicamente abaixo e a inteligência táctica deixou de existir de forma colectivamente coesa. E de muito pouco serviu a determinação mental da maior parte dos jogadores porque o físico já não ajudava...

Ou seja, o que se temia aconteceu! O jogo começou com um bom nível de intensidade, superior, aliás, ao que é habitual no actual campeonato português e o desgaste nos jogadores de Agronomia foi-se, naturalmente, acentuando. A partir daí as soluções foram-se tornando menos adaptadas, a dificuldade de quebrar a defesa adversária — que tinha, reconheça-se, acontecido praticamente por rasgos individuais — foi aumentando e desapareceu a capacidade de ocupação do território adversário. E sem uma equipa com característica de domínio territorial — factor já notado nos últimos jogos do campeonato nacional — as dificuldades foram sendo cada vez maiores, culminando na cedência da vantagem de nove pontos.

No entanto esta final perdida por nítida incapacidade de resistir à intensidade que jogos deste nível sempre impõem, ensina-nos qualquer coisa de muito importante: não é possível atingir a qualidade que o nível internacional pede sem uma época preenchida por um campeonato equilibrado e de grande competitividade. Coisa que não aconteceu na fase de apuramento que provocou uma entrada manca na fase final que agora se disputa e que causa, desde já, preocupações e apreensões sobre as capacidades competitivas que Portugal possa apresentar no jogo internacional mais importante da época — daqui a um mês, contra a Bélgica. Porque a realidade é esta: se queremos obter resultados internacionais de valia, teremos que ter um campeonato interno equilibrado que possibilite um elevado nível competitivo — preparando e habituando os jogadores a intensidades superiores.


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