É uma verdade desportiva tão reconhecida que é já um lugar-comum: um jogo só termina com o apito final do árbitro — veja-se o apuramento olímpico do Andebol português. E se os jogadores portugueses se esqueceram do dito contra a Geórgia, mostraram, contra a Roménia, que nada tinham aprendido e por isso, perderam.
Com esta derrota, Portugal perdeu 3 posições no Ranking da World Rugby |
A derrota da maneira que aconteceu, levanta diversas questões como falta de liderança, má preparação táctica, falta de entrosamento e perda de concentração competitiva. Perder assim um jogo que, ganho, nos colocaria com boas perspectivas de atingir o Mundial 2023, só é aceitável porque é a realidade... mas é dificilmente suportável!
E se no início do jogo parecia que não se tinha perdido com a Geórgia, porque se tinha aprendido: a formação-ordenada mostrava-se mais coesa e capaz de se opôr ao habitual poderio dos romenos, possibilitando a melhoria das outra fases de combate — infelizmente o final do jogo comprovou que não se aprendeu nada: dentro e fora do campo. E a desconfiança começou na mostra de teimosa estratégia para os alinhamentos — de novo se presenteava a bola ao adversário (agora com o truque de usar apenas dois (!!!???) nas bolas adversárias). Questão: num jogo em que a bola representa o motivo evidente do combate — posse que embora não garanta vitória (é a eficácia do seu uso que a pode garantir) diminui pelo menos as possibilidades do adversário — porque é que, numa fuga aos princípios, é então oferecida?! Que mensagem de conquista, de preserverança, de resiliência, de combate se pretende passar aos jogadores?
E se dizemos que a nossa vantagem é o jogo ao largo, porque não críamos as condições para que assim seja de uma forma mais constante, procurando a libertação e continuidade do movimento da bola em vez de procurar o chão? Ou procurar manobras — lembrando o ensinamento de Nun'Álvares dos idos trezentos — para atacar intervalos em vez de colisões directas. Ou porque não se vê uma estratégia de jogo-ao-pé que ultrapasse o alívio e se torne uma arma de ataque pelos problemas que impõe ao adversário?
Sendo a coesão colectiva o segredo das equipas vencedoras, ela só é possível se existir uma preocupação colectiva — uma cultura táctica comum — para criar e aceitar os meios que permitam atingir os objectivos pretendidos, diminuindo assim o stress, retirando dúvidas, aumentando a confiança e proporcionando o entrosamento para que cada um se bata por todos.
De novo as aparências pareciam credíveis — as estatísticas eram favoráveis com 52% de posse de bola, 51% de vantagem nos rucks, 96% de eficácia nas placagens e um 3-1 em ensaios a 10’ do fim — para colocarem Portugal como vencedor. Mas, no nível internacional, são os pormenores que determinam os vencedores e aqui se descrevem 7 momentos — 2 decisivos e 5 críticos — que documentam o que se escreve e demonstram — por erros e não acidentes — a perda do foco e a lenta e perturbadora fuga do resultado por entre os dedos.
1º MOMENTO DECISIVO, 32 minutos, resultado 10-9 — Penalidade favorável a Portugal no cruzamento entre a linha-de-22 e a linha-de-5 metros. Com o resultado em 10-9 foi decidido, em vez de chutar aos postes com vento favorável, pontapear para fora para criar um penalti-touche. Estaria tudo bem nesta demonstração de confiança não fosse o pontapé, perdendo-se a oportunidade, ter cruzado a linha-lateral-de-ensaio... entregando a bola à Roménia para um pontapé-de-22.
1º MOMENTO CRÍTICO, 73 minutos, resultado 27-14 — Formação ordenada perdida com penalidade. No alinhamento romeno sequente e dentro da área-de-22 portuguesa, a bola é recuperada, no corredor de 5 metros, por Tadjer que decide, sem qualquer nexo, pontapear a bola em vez de garantir a sua manutenção. Na sequência do movimento, ensaio no meio dos postes, a colocar o resultado em 27-21 e a dar o encorajamento aos romenos para os minutos finais.
2º MOMENTO DECISIVO, 76 minutos, 4 minutos de jogo informa o árbitro, resultado 27-21 — Pontapé de penalidade cerca de 1 metro dentro do meio-campo adversário e a cerca de 20 metros da linha lateral. Com o objectivo principal de manter a posse da bola para ganhar tempo e garantir a vitória, três decisões eram possíveis: tentar aos postes, conquistar terreno para um alinhamento ou jogar a bola com recurso a uma mini-unidade (aqui sim) organizando um máximo de “apanhar-e-avançar”.
Se a decisão de não chutar aos postes, por ser contra o vento, muito comprido e lateralizado
(cerca de 48% de probabilidades de sucesso) — embora a certeza de um pontapé a sair pela linha-de-fundo garantiria o gasto de 2 minutos dos sabidos 4’ existentes de jogo e com reposição feita com pontapé-de-22 — se compreende, a manutenção da posse da bola através de uma mini-unidade e consequentes “apanhar-e-avançar” seriam uma boa solução de gasto controlado do tempo. Decidiu-se pelo alinhamento e colocou-se a bola bem dentro da área-de-22 adversária — as condições estavam, embora com um risco maior, conseguidas para controlar o tempo. A decisão, a menos comprometida, mostrara-se capaz no ganho de terreno, havia que, para atingir o objectivo principal, eliminar o risco.
2º MOMENTO CRÍTICO, a 3 minutos do fim, informa o árbitro, resultado em 27-21— Num alinhamento que exigia não correr quaisquer riscos — a melhor solução seria saltador da frente seguido de maul para gastar tempo e pressionar o adversário, espreitando ainda qualquer possível oportunidade. Lançou-se comprido aumentando o risco, falhou-se o alvo e perdeu-se a bola e não se ganhou tempo...
3º MOMENTO CRÍTICO, a 2 minutos do fim, resultado 27-21 — Por erro romeno no manuseamento da bola — e por boa placagem de José Lima — Portugal consegue de novo posição favorável ao ganhar um novo alinhamento e de novo dentro da área-de-22 adversária. O propósito seria o mesmo: captar a bola e, criando um maul, aguentar o tempo necessário, mesmo passando por ruck e recorrendo ao "apanhar-e-avançar" para o jogo acabar. Mas os romenos conseguem a conquista da bola fazendo saltar o 2º homem do alinhamento enquanto que os portugueses saltavam com o 3º homem dando toda a vantagem ao adversário num erro elementar e inadmissível nesta fase do jogo. Pior, os avançados portugueses fizeram falta e com a penalidade entregaram a conquista de terreno de mão beijada aos romenos.
4º MOMENTO CRÍTICO, a 1 minuto do fim, resultado 27-21 — Alinhamento romeno com 5 jogadores a que os portugueses respondem, por visível opção táctica (não colocaram ninguém no corredor de 5 metros o que é falta!) com 2 elementos. Resultado: bola ganha de mão beijada e maul romeno que avançou até conseguir a penalidade — com cartão amarelo — que lhe possibilitasse um penalti-touche com que iria ganhar o jogo por 28-27.
5º MOMENTO CRÍTICO, início a 3 minutos de jogo e final a 1 minuto do fim do jogo — Cometendo 15 penalidades, a equipa de Portugal mostrou-se novamente muito indisciplinada e foi penalizada com 3 cartões amarelos — mais de 1/3 do jogo em inferioridade numérica — de que resultaram 10 pontos para os romenos (para além dos 6 directamente das penalidades).
Com esta derrota, o caminho pretendido de acesso ao Mundial 2023, complicou-se. Muito.