Se no primeiro ensaio galês se pode dizer que o árbitro terá sido precipitado na sua ordem de "Time on!, que dizer dos jogadores ingleses que presumindo que Biggar, o abertura e, na falta de Halfpenny, o habitual chutador, iria fazer uma tentativa aos postes, posicionaram-se — para uma reunião de equipa que apenas tinha por destino o aviso de que estavam a cometer muito faltas — dentro da sua área-de-ensaio criando assim um tempo de paragem e de desfocagem, ignorando a básica verificação do posicionamento dos jogadores galeses e dos gestos do árbitro. Trata-se de um erro tremendo quer de Owen Farrell quer da totalidade da equipa que se esqueceu que estava num jogo e que aquela não seria a melhor altura para estender o ordenado aviso à disciplina aos conselhos tácticos de resposta ao jogo galês.
Portanto, um primeiro ensaio para Gales facilitado por uma eventual precipitação do árbitro Pascal Gauzére mas, fundamentalmente, por negligência inglesa motivada por uma desconcentração colectiva.
Quanto ao segundo de Liam Williams depois de uma tentativa de controlo da bola por Rees-Zammit e em que a bola é impulsionada pela coxa do centro inglês, Henry Slade, na direcção da área-de-ensaio inglesa não percebo a contestação, porque:
1) Definição, nas Leis do Jogo, de Adiantado: Ocorre quando um jogador portador da bola, impulsionando a bola para a frente com as suas mãos ou braços, a bola toca no chão, num companheiro de equipa ou num adversário antes de ser de novo controlada pelo portador inicial.
2) Rees-Zammit na sua tentativa de controlo da bola não larga a bola para a frente — a bola, batendo na sua barriga da perna, vai ainda mais para trás para encontrar a coxa do centro inglês, Henry Slade;
3) Ao impulsionar com a sua coxa — e eventualmente com o joelho — a bola na direcção da sua área-de-ensaio, Henry Slade retira qualquer possibilidade de que seja considerado adiantado galês. Porque a bola veio, de Rees-Zammit, para trás como é visível nas imagens, bateu em Henry Slade e foi apanhada por Liam Williams que correu para marcar ensaio embora ainda placado por Owen Farrell.
4) O árbitro, bem colocado como se pode ver na figura 6, desde logo que não considerou qualquer adiantado. Por razões de "segurança" que, aliás, são recomendadas — o auxiliar só pode intervir para alterar uma decisão do árbitro por apenas duas razões: jogo desleal ou porque a bola saiu do campo — não assinalou o ensaio de imediato para ouvir a opinião do auxiliar que, aqui sim, interrogado, pode dizer qual a sua opinião. Que, aliás foi, como se viu nas imagens televisivas, que nada obstava a que fosse marcado ensaio favorável ao País de Gales.
Ensaio claro como água e que só é motivo de contestação porque, por um lado, o percurso da bola fugiu daquilo que é habitual ver-se com tabela aqui, tabela ali e ressalto final a ajudar e, por outro, porque houve quem se metesse no assunto sem a clareza devida.
O pior dos intrometidos terá sido o "patrão" dos árbitros da World Rugby, o francês Joel Jutge, que, em vez de estar calado como lhe competia, resolveu meter-se no assunto da pior maneira ao vir publicamente dizer que Gauzére tinha, em conversa telefónica reconhecido os seus erros. E resolveu elaborar sobre o elevado recurso ao TMO quando as decisões do que é visível devem ser tomadas pela visão do árbitro. E explicou com esta pérola:"A bola não foi controlada pelo ponta galês e caiu para a frente sobre a sua coxa [...] Mas a realidade é que se ele tivesse apitado adiantado por essa acção, ninguém teria nada a dizer... [...] houve um erda de controlo, a bola caiu para a frente, portanto é um adiantado" e remata trazendo à colação a sua certeza: "Pascal reviu a situação domingo de manhã e é o primeiro a reconhecê-lo" não sem acrescentar que o implicado continua a ser um árbitro de grande categoria internacional.
Muita explicação — esta é uma das vezes em que o silêncio é de ouro até porque a coxa é de um inglês — com base numa bola que não caiu para a frente — como o árbitro e a sua equipa viram —e onde, portanto, não houve adiantado. E não é esta a primeira vez que o sr. Jutje vem a terreiro lançar mais confusão do que aquela que os adeptos —na natureza da sua visão muito própria — lançam no final de cada jogo.
E no fundo e de facto, o jogo Gales-Inglaterra valeu muito mais do que as duas situações que parece pretender-se transformar nas razões da vitória de uma e da derrota de outra das equipas.