segunda-feira, 12 de julho de 2021

ORA AÍ ESTÁ!

 Já quase não me lembro de ter visto um XV de Portugal a entrar para um jogo com a determinação, focagem e coesão como vi neste jogo entre os Países Baixos v. Portugal. E até o receio, pela paragem excessiva dos jogos competitivos em Portugal, de que a selecção nacional não estivesse capaz de se apresentar na necessária capacidade física, ficou de imediato afastada.

A equipa portuguesa entrou objectiva, com a lição bem estudada e apostada — aprendendo com erros de anteriores inícios de jogos — em não se deixar surpreender. Pelo contrário, procurou desde logo surpreender. O que conseguiu e de tal maneira que aos 13’ minutos de jogo ganhava por 21-0 com 3 ensaios marcados.

Para além da atitude competitiva que permitiu desde logo demonstrar as diferenças entre uma equipa que diz pretender estar no próximo Mundial de 2023 e outra que demonstrou estar ainda muito longe de constituir uma equipa competitiva para este nível, houve interessantes aspectos técnicos e tácticos que demonstraram — pesem embora algumas distracções que permitiram os pontos adversários — a diferença.

                                                                           Fonte: Rugby Europe
O jogo teve 13 ensaios — mais um do que o recente AllBlacks-Fidji! — com a particularidade de 5 deles terem sido marcados por Raffaele Storti que, tanto quanto possibilitam os dados disponíveis, ter-se-á tornado no melhor finalizador da Selecção Nacional. O mesmo aliás deve ser considerado, no campo das transformações de ensaios, para os 8 pontapés transformados por Samuel Marques.
A transformação que mais me agradou na equipa, para além da atitude competitiva demonstrada, foi a verificação que houve alterações em duas áreas — melhoria da capacidade técnica na disponibilização da bola na altura dos contactos, nomeadamente quando da ida ao solo e o facto de, ao contrário de jogos anteriores, ter havido uma superior concentração para evitar faltas — de uma falta resultam penalidades que se traduzem ou em perdas de muitos metros de terreno ou no aumento de 3 pontos no registo adversário…ou seja, custam demasiado para que não se evitem.
A melhor disponibilização da bola nas situações de contacto permitiu uma muito maior velocidade de utilização da bola que, por sua vez, permitiu o alargamento do jogo português — veja-se nas estatísticas que Portugal realizou o dobro de passes dos holandeses —  com a vantagem dos seus três-quartos jogarem, no mínimo, em igualdade numérica mas com intervalos defensivos suficientemente largos para que a ultrapassagem da linha-de-vantagem fosse mais fácil e mais constante. Explorando melhor as dificuldades de uma equipa que demonstrou enormes dificuldades em entender-se tacticamente na execução da defesa deslizante.
Outro factor interessante e extensível à concepção do jogo foi o de, apesar de uma posse de bola superior em 16% , que a diferença dos ensaios marcados (de 40%) se deveu, essencialmente, à boa utilização da bola. Factor que aliás é decisivo na construção das vitórias: a boa utilização da bola permite, como acontece em diversos jogos, vencer sem ter uma nítida maioria de posse da bola. Pôde aliás verificar-se que já houve, nas situações em que não era aconselhável o alargamento do perímetro do jogo, uma preocupação de manobrar o suficiente para que o avanço no terreno garantisse a ultrapassagem, por menor que fosse, da linha-de-vantagem — ultrpassagem que é a essência do ataque. E isso traduz um trabalho objectivo de treinadores e jogadores.
A esta capacidade atacante juntou-se uma boa capacidade defensiva com uma boa percentagem de placagens positivas nas 74 que foram obrigados a realizar — contra as 162 dos holandeses. Esta diferença entre o número total das placagens das duas equipas constitui uma demonstração evidente, como acima se referiu, da boa capacidade de uso da bola por parte do XV de Portugal.
A melhorar, para que a exploração dos três-quartos que se estão a mostrar suficientemente criativos para criar dificuldades a qualquer defesa, está a necessidade de conquistar um maior número de turnovers para que os desequilíbrios que a transformação do ataque em defesa estebelece possa ser eficazmente explorado — o que passa, antes do mais, pela compreensão dos jogadores das enormes vantagens que possibilita a utilização da bola nesta situações de desequilíbrio.
Com este resultado, Portugal atingiu o 20º lugar no ranking da World Rugby e coloca-se no 2º lugar da classificação da Rugby Europe Championship. E garantiu uma situação — sejam quais forem os próximos resultados, a manutenção na Championship está garantida. Olhemos, portanto e agora, para outro objectivo: apuramento para o Mundial 2023. 


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