terça-feira, 2 de novembro de 2021

UM CAMPEONATO COM POUCO EQUILÍBRIO

Com seis jogos já disputados — o primeiro-terço da prova termina na próxima jornada — o Campeonato Nacional da Divisão de Honra apresenta já desequilíbrios significativos como se pode ver no gráfico "Capacidade Competitiva" estabelecida através da média da Quota de Pontos de Jogo — percentagem dos pontos marcados por uma equipa sobre o total de pontos de cada jogo e que demonstra o domínio da equipa nos jogos efectuados — da Quota de Sucesso — percentagem do número de vitórias conseguidas nos jogos disputados, demonstrando, conjuntamente com a quota seguinte, a sua qualidade e eficácia —  e a Quota de Pontos de Classificação correspondente à percentagem de pontos de classificação conseguidos no total dos pontos possíveis. 
Pode reconhecer-se neste gráfico, a formação de 4 grupos distintos em face dos resultados conseguidos: um primeiro — o dos três primeiros classificados, Direito, Belenenses e Cascais que variam a sua capacidade entre 86% e 80%; um segundo que comporta Agronomia, CDUL, Académica e Técnico, variando entre 59% e 46%; um terceiro, comportando CDUP, Benfica, e Évora, variando a sua competitividade entre 36% e 29%; um grupo final constituído pelo S.Miguel e Montemor que tem os índices de competitividade entre, respectivamente, os 21% e os 8%.
Com estes dados factuais pode dizer-se que este campeonato tem o seu maior interesse também dividido por zonas: quais dos três se apurará directamente para as meias-finais e quem, de entre os quatro clubes seguintes, atingirá o final-four. Ficando uma dúvida que poderá aumentar o interesse pelos jogos entre os clubes intermédios: será que alguma equipa do terceiro grupo conseguirá um dos lugares de apuramento? Lembre-se que ainda há um jogo — entre Évora e Benfica — adiado que pode fazer um dos clubes aproximar-se, ou mesmo integrar — caso do Benfica — o grupo de manutenção. E lembre-se também que faltam 16 jornadas para o final e estas visões não passam de especulações ao dia de hoje — mas que mostram tendências...
Comparando os gráficos dos "Ensaios Marcados e Sofridos" com o dos resultados finais de cada jogo, percebemos que também estes dados nos aproximam da definição dos 4 grupos anteriormente referidos. E podemos ver também que existe, por parte de algumas equipas, enormes dificuldades atacantes a que se junta a fragilidade defensiva pouco adequada a uma prova principal da modalidade — o que aparentará uma muito provável impossibilidade de alterar posições. É, aliás, o que se pode presumir da relação negativa das seis equipas pior classificadas. 
O desequilíbrio, apesar de um dos jogos ter terminado empatado (0-0), é ainda visível no gráfico seguinte onde se pode verificar que dos 35 jogos realizados, treze — 37% — terminaram com uma diferença de pontos no resultado superior a 21 pontos (e 6 com diferenças superiores a 28 pontos!) para 16 dos jogos — 46% — que terminaram com uma diferença menor do que 15 pontos mas, dos quais, apenas 8 dos jogos permitiram a conquista de pontos de bónus defensivos (note-se que no Ranking da World Rugby qualquer resultado com diferença superior a 15 pontos tem uma majoração.).
Aliás, a relação entre os pontos de bónus ofensivos e defensivos — o dobro — é uma boa demonstração do desequilíbrio existente entre as equipas nos jogos que efectuados.    
Procurando encontrar uma forma de análise mais precisa, mais prática e que ajude à demonstração das hipóteses colocadas, utilizou-se o algoritmo resultante dos conceitos da dupla Noll-Scully habitualmente utilizada no desporto norte-americano que tem a noção muito clara da importância da competitividade — mantendo a indefinição do vencedor final — na atractividade pública das modalidades.
Embora com poucas jornadas ainda realizadas para se ter uma percepção mais independente do calendário e do seu grau de aleatoriedade entre adversários na distribuição de jogos e considerando que os valores acima de 1 — o ponto de equilíbrio competitivo — demonstram a existência de resultados menos equilibrados do que o esperado, a demonstração do desequilíbrio competitivo é uma realidade.
Obviamente que este desequilíbrio é essencialmente motivado pelo aumento da Divisão de Honra para 12 equipas que, como demonstram os resultados dos últimos anos, serão demasiadas para garantir o necessário equilíbrio competitivo — é fácil perceber que 6 equipas farão o campeonato ideal e que o limite para uma competição minimamente equilibrada, estará em 8 equipas.
Qual será então a vantagem — num ano de enorme importância para o rugby português — em diminuir a competitividade interna? A única explicação que encontro possível para justificar esta situação é a de que com a introdução de mais uma prova de nível internacional como a SuperCup e na qual os jogadores que têm capacidades para integrar uma selecção nacional farão um mínimo de 6 jogos e um máximo de 8 num nível competitivo superior ao nível interno — daí a sua importância — e aos quais se juntarão 2 jogos da janela internacional de Novembro e ainda 5 jogos internacionais de importância capital no pretendido acesso ao Mundial de França, a existência das 12 equipas permitirá que o campeonato nacional não seja frequentemente interrompido — como não tem sido e com boas vantagens para os jogadores não-internacionais — uma vez que a diferença de nível competitivo entre as equipas é tal que quase garante, independentemente de poderem ou não contar com todos os seus jogadores, que as melhores seis equipas dos últimos anos se apurarão para as meias-finais ou para o final-four. Ou seja: ninguém se sentirá prejudicado... e os melhores jogadores estarão sempre disponíveis para representar quer os Lusitanos, quer os Lobos, com vantagem para o importante posicionamento internacional — actualmente no 19º lugar do Ranking da World Rugby — do rugby português.
E com a cada vez maior aposta — como terá ficado estabelecido na última reunião alargada da Rugby Europe — neste tipo de prova, é bom que nos habituemos à necessidade de disponibilização dos melhores jogadores de cada clube durante cerca de uma dezena de jogos por ano.  

Nota: a derrota recente do Toulouse no TOP 14 contra o Racing 92 aconteceu em jogo onde a equipa campeã de França e da Europa não pode contar com 11 jogadores que se encontravam em Marcoussis na preparação dos jogos internacionais de Novembro da sua Selecção Nacional.   







Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores