terça-feira, 15 de julho de 2025

ASSIM NÃO VAMOS LÁ


 A diferença entre as duas equipas pode ver-se, no quadro acima, no resultado do Índice de Eficácia de Uso da Bola (IEUB) que mostra uma diferença de capacidades de quase o dobro favorável aos irlandeses. Dispondo de 57 bolas utilizáveis, Portugal — para além da indisciplina de 9 contra 4 penalidades provocadas — só ultrapassou 39 vezes (contra 108 irlandesas) a Linha de Vantagem para entrar nos 22 adversários por 11 vezes (contra 30 irlandesas) para, no final de contas, conseguir marcar apenas 1 ensaio contra os 16 obtidos pelo adversário. O que demonstra bem a fraqueza da produção realizada pela equipa de Portugal. E seria possível ser de outra maneira? Duvido!

E duvido porque muito pouco daquilo que se exige a uma equipa de alto-rendimento esteve presente ao longo dos últimos meses no Rugby português. Começando mesmo pela análise — que considero abusiva como já o afirmei por diversas vezes — dos resultados do Mundial que não foram, para os mais conhecedores, o que podem aparentar. Nem permitem a confiança, que diria serôdia, que parece ter-se instalado globalmente — porque a realidade é esta: o rugby português não equilibrou nem tem equilibrada a sua equipa representativa com as equipes que se movem no Tier 1 — e um ou outro resultado aceitável ou mesmo interessante devem ser analisados numa acertada perspectiva. E se olharmos para os resultados deste fim‑de‑semana da Espanha e da Bélgica que venceram os Estados Unidos e o Canadá (ambos fora), é bom também que nos preocupemos com o Tier 2. 


Porque, sejamos realistas: o Desporto de Alto-Rendimento tem exigências de organização e rigor que  envolvem bastantes mais aspectos do que o mero campo. Tudo tem que ser coeso, desde a envolvente até à equipa, com os objectivos de competitividade pretendidos. E, pelo contrário, o nosso campeonato nacional — que o algoritmo Noll-Scully mostra ser, no domínio competitivo, um dos piores, se não o pior, campeonato europeu na sua comparação com o dos nossos adversários directos — não tem a qualidade competitiva capaz. E assim não é possível dar aos nossos jogadores as capacidades necessárias que são exigíveis no elevado nível da competição internacional. Tão pouco treiná-los de forma adequada.


A juntar a este campeonato desequilibrado em que são raros os jogos em que não se adivinha antecipadamente o vencedor, existe um calendário desfasado da necessidade sequencial com intervalos que a existência de jogos internacionais não justifica necessariamente a obrigação de parar todos os outros — para o evitar basta inventar um outro tipo de competição que obrigue à actividade uma vez que os clubes, por si, não a conseguem garantir.


Com esta visão em que vale mais o interesse de cada um do que o interesse geral de desenvolvimento do rugby português, a capacidade técnico-táctica das equipas e dos seus jogadores tem, como se tem visto nos jogos internos, descido de forma evidente. Jogámos de acordo. com um modelo que não tem saída. E viu-se isso mesmo neste jogo contra a Irlanda.


Mostrando que nunca perceberam a estratégia que Nun’ Álvares Pereira estabeleceu para ganhar Atoleiros ou Aljubarrota com um “No combate, a manobra impõe-se à colisão.”, os jogadores portugueses continuam a insistir —levando a que a forma se repita pelas diversas categorias inferiores portuguesas — no passe para o jogador do meio de um trio — o losango está esquecido — que nada mais constrói do que uma colisão, entregando a vantagem àquele que, à partida; é o mais forte, deixando o factor decisivo da inteligência fora do campo. E o que faz (fez) a Irlanda? Aproximou-se sempre da linha defensiva adversária, realizando manobras colectivas que, desequilibrando a organização defensiva, criavam os espaços necessários para estabelecer as rupturas que levam à Área de Ensaio. Impondo a manobra à colisão…


Temos portanto  que rever organização e métodos, estabelecendo a competitividade necessária aos níveis internacionais ou o Mundial da Austrália não vai ser uma alegria…


Nota pós-tristeza) Duas coisas boas que aconteceram durante o jogo Portugal-Irlanda: o responsável pelo quadro de marcação do resultado — mal a bola tinha tocado no solo, o marcador estava adaptado (e não faltaram momentos para o verificar…); como estávamos envolvidos por irlandeses, a cerveja a que tínhamos acesso na tribuna era a formidável Guiness.Estes dois aspectos, podem repetir-se no futuro— o resultado, NÃO!

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