quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

PORTUGAL EM NOVEMBRO (II)

A ÚLTIMA FORMAÇÃO E O CISNE NEGRO
A formação ordenada do final do jogo com o Canadá – aquela oportunidade deitada fora -  chamou a atenção para uma faceta do jogo que não pode ser negligenciada: a exigência de surpreender.

Há anos, na selecção de que era responsável, tínhamos uma combinação para a linha de três-quartos que só utilizávamos em condições e necessidades muito particulares. Em Itália, perdíamos por dois pontos, o tempo estava em cima do final e conseguimos um alinhamento dentro dos 22 adversários. Era a altura ideal – bola ganha, passe do formação, movimento dos três-quartos a desviar atenções e o Paulo Maló – ponta – a entrar no meio dos centros com uma enorme auto-estrada, postes na frente e italianos a correr atrás. Para azar dos cabrais, linhas semi-marcadas do futebol e o ensaio – garantido e olímpico a dar seis pontos e a vitória – foi marcado meio metro antes da linha de ensaio.

Esta combinação – ou muito próxima – serviu, alguns anos mais tarde e de novo como responsável, em situação idêntica de terreno, para acabar com a resistência defensiva e derrotar a Holanda em Amesterdão e para o primeiro ensaio internacional do António Aguilar.

O “segredo” das combinações está sempre na construção de situações que, tirando o adversário da sua zona de conforto, o obriguem a duvidar do que vai ou pode acontecer. Juntando movimento credível.

O recurso, dentro da área de 22 adversária, a um alinhamento de dez jogadores – que com o lançador e o formação garantiam doze jogadores até aos 15 metros e que utilizámos na selecção diversas vezes com eficácia – colocava um problema de difícil solução para a defesa, permitindo duas soluções simples e directas: se o adversário seguia a lei do espelho, bola aberta para um sprint de uma diagonal enorme e garantida; se o adversário mantinha os seus três-quartos na posição habitual, jogava-se em maul com absoluta superioridade numérica e maior poder. O ensaio, pela surpresa, dúvida e improbabilidade, resultou quase sempre.

A utilização de dez jogadores – os oito habituais mais abertura e centro – em formações ordenadas a 5 metros da linha de ensaio adversária também deu resultados positivos com ensaios de empurrão do 8 ou do formação.

É óbvio que estas combinações não podem ter um uso constante e dificilmente resultarão  se repetidas num mesmo jogo e, assim, devem ser guardadas para as alturas necessárias – como acontece com as equipas de basquetebol que têm jogadas combinadas (e que parecem fechadas a sete-chaves…) para os últimos momentos de jogos de resultado encostado – para poderem surpreender.

Como um Cisne Negro – um acontecimento altamente improvável, imprevisível e com enorme poder de impacto segundo Nassim Taleb – ou como uma espécie da pequena alteração que pode ter consequências imprevisíveis como definido na Teoria do Caos de Edward Lorenz, estas combinações simples podem e tal como no Princípio 80/20 da Lei da Pareto, transformar um movimento simples num ensaio que resolva um jogo.

Na formação ordenada contra o Canadá, um Cisne Negro rugbístico deveria ter sido colocado com o objectivo de conseguir a vitória: era o momento e a posição. Colocar quatro três-quartos do lado fechado que efeito poderia ter na defesa adversária? Num primeiro momento a dúvida da resposta da defesa: espelho ou tradicional? Num segundo momento, a dúvida também colocada na 3ª linha defensora: defender o empurrão ou preocupar-se com a saída defensiva? Seja como for, a zona de conforto da defesa está atingida. E a vantagem conseguida permitiria a sequência: empurrão decidido para o ensaio, bola aberta no caso de impossibilidade e para o lado mais fraco da posição da defesa. Sempre com escolha adaptada à colocação adversária e com vantagem de tempo e espaço. Assim:



O ensaio estava lá – e a vitória seria conquistada. Colectivamente.

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores