terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PORTUGAL EM NOVEMBRO (III)

Nos jogos de Novembro, a Selecção portuguesa mostrou – expondo ou ignorando – diversos formas, ou modos, de rugby que devem ser analisados e relacionados com a globalidade do rugby português, a sua formação e o seu desenvolvimento.
Do lado mais o ponto principal foi, de uma forma geral, a melhoria do bloco de avançados  – maior consistência – e que expôs dois pontos de melhoria:
  1. A defesa de cobertura da 3ª linha – Com a inclusão de Julien de Sousa Bardy, a 3ª linha passou a ter uma superior capacidade de bater a linha. Por um lado porque a correcção das linhas de corrida do asa Bardy deu a possibilidade de organização mais eficaz ao Nº8 e flanqueador – cada um passou a realizar a sua função específica sem deixar o apoio mútuo. Daí resultou uma eficácia acrescida que permitiu, nomeadamente contra os Estados Unidos, uma enorme segurança da Linha de Vantagem. Como notas para o futuro – para o treino dos jogadores dos clubes – estes dois pontos:
    1. A necessidade de estabelecer claramente o papel de cada um dos membros da 3ª linha com o objectivo de constituir uma mini-unidade coerente e capaz de criar, por esse facto, as sinergias necessárias ao aumento da sua eficácia;
    2. A complementaridade de gestos técnicos com o jogador líder do movimento – o asa – capaz de placagem derrubante e os seguintes a saber dominar a posição do ruck na tentativa de recuperação da bola ou suporte imediato, impedindo qualquer recuo de possível maul, procurando sempre impor o derrube do atacante.
  2. A conquista da bolas nos alinhamentos - Houve uma maior capacidade de conquista por melhor organização. Percebe-se assim que o treino, a automatização dos gestos, a leitura e a decisão adequada de lançamento são elementos essenciais para haver também eficácia neste sector.
  3. O jogo ao pé – Com a colocação a abertura de Garden – verdadeiramente o seu único lugar para o nível internacional – a equipa ganhou uma superior capacidade de utilização do jogo ao pé, permitindo, logo que haja maior entendimento estratégico das situações do jogo, um superior uso da alternância – jogo-á-mão (penetrante e envolvente)/ jogo-ao-pé - enquanto forma de retirar a defesa da sua zona de conforto.
Mas se estes foram os principais pontos positivos, a selecção portuguesa mostrou diversas fragilidades que terão impedido a exploração positiva das oportunidades que tivemos. Os principais pontos negativos e que resultam quer da pouca exigência do nível interno, quer de uma formação deficiente que, ao contrário do que se faz correr, é fraca e deslocada do rugby que o futuro prepara, podem traduzir-se assim:
  1. O apoio – Sendo um dos princípios fundamentais do jogo, é um dos maiores problemas do rugby português. O apoio ao portador é, por norma, desarticulado, atrasado e/ou com linhas e ângulos de corrida desadequados. E estes aspectos foram constantes nos jogos de Novembro. O que tem a ver com a formação – a cultura táctica é diminuta, não se aprende como determinar as linhas de corrida (falta de conhecimento e desalinhamento do propósito) ou como construir a disponibilidade mental necessária para garantir a presença, adaptada à situação, no ponto certo e no momento exacto. Tão pouco parece haver preocupação na construção colectiva e efectiva do losango. 
  2. A continuidade – não há continuidade porque não há apoio. E entendendo-se, por erro, o apoio como fase unidimensional dificilmente se garante a continuidade quer do movimento quer da manutenção dos desequilíbrios defensivos conseguidos. O apoio é uma relação biunívoca entre o portador da bola e o apoiador: se o apoiador deve garantir linhas de passe abertas, o portador deve procurar o apoio. E se o primeiro conceito diz respeito à dimensão táctica do jogo, o segundo insere-se na dimensão técnica: exige, caso a relação de poder ou distância não aconselhe o passe-em-carga, a capacidade de dar-as-costas na entrada em contacto – um gesto próximo do velho demi-tour contact francês – procurando os companheiros para manter a bola viva que, caso não haja possibilidade de efectuar o passe, deixará aberta a ligação necessária para a realização do maul em movimento. A relação apoio/continuidade – aquilo que estabelece o poderio de uma equipa – vive de uma percepção colectiva essencial: a detecção das oportunidades e imediata adaptação do conjunto dos jogadores. Ora também aqui os jogadores portugueses – enquanto colectivo – mostram dificuldades na sua percepção. O que também significa dificuldades de formação no domínio da cultura táctica.
(continua)

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores