A ansiada chegada de D. Sebastião numa manhã de nevoeiro para salvar o país do jugo castelhano não passa, como sabemos, de um mito. A necessidade de uma tábua de salvação para garantir a sobrevivência no mar alto e revolto só faz sentido se permitir a flutuação. Dito isto, também se sabe, da evidência dos desportos colectivos, que a derrota não é culpa de um só jogador como a vitória também não surge da capacidade única e individual. Vitórias e derrotas pertencem ao colectivo, à equipa. E as suas melhorias devem ser procuradas de acordo com as suas necessidades e com os adversários que se defrontam.
O jogo com a Roménia até começou bem: um pontapé de 58 metros como nunca se tinha visto em Portugal num jogo deste nível. Depois, como em sol de pouca dura, começaram os disparates numa sucessão de erros sistemáticos.
Tacticamente jogámos ao contrário – um amigo meu, comentava: há algo trocado, nós parecemos romenos e eles parecem nós! – atacando a linha defensiva no Canal 1, facilitando a vida aos seus pesados avançados. No fundo, em ataque ou defesa – aqui fechando demasiado – aproximamos sempre o jogo dos avançados adversários, atacando pelos seus pontos fortes e não procurando os seus fracos. Junto à linha de ensaio romena repetimos – ignorando uma das regras dos campeões de nunca os repetir - o mesmo erro cometido contra os georgianos: a insistência na passagem em força - procura egoísta de notoriedade, falta de comando táctico? - quando o espaço de circulação existia. Desfocados do jogo, nunca exploramos o enorme espaço deixado vazio atrás da defesa – esquecemos os pontapés rasteiros – não percebendo que a pressão e deslize defensivos da Roménia se baseavam no aumento do número de jogadores da linha (e, como se sabe, os jogadores são como os lençóis: se cobrem o pescoço, destapam os pés…). Jogamos 7 ou 8 minutos contra treze adversários e nada mudou – a sensação do exterior é que nem se reparou – tão pouco o uso da 3ª linha para saídas da formação ordenada... em algum sítio teriam de faltar os “amarelados”.
Claramente faltou-nos a inteligência do momento para perceber, reagir e adaptar eficazmente o colectivo às situações do jogo. Assim, a vitória romena surgiu com naturalidade. Merecidamente: jogaram mais, resolveram os poucos problemas que lhes criámos, utilizaram eficazmente as oportunidades. E defenderam bem, atacando a linha e desmultiplicando-se convenientemente.
É claro que a nossa não qualificação não aconteceu aqui: começou na primeira derrota com a Rússia – o nosso verdadeiro adversário numa análise fria e objectiva. Talvez até que a nossa não qualificação tenha começado numa ilusão de valor e capacidade que nunca atingimos e que a falta de competitividade interna nunca permitiria atingir a experiência necessária ao acompanhamento da melhoria dos adversários. Porque a realidade é esta: eles melhoraram, nós estacionámos. E o rugby português nunca pareceu querer ter uma grande perspectiva desta percepção... e assim deixámos que o rugby menor de georgianos ou russos atingisse a proximidade que lhes permitiu as vitórias e a qualificação.
E agora? Como vamos garantir o desenvolvimento futuro? Vamos procurar os meios competitivos para nos qualificarmos para 2015 ou vamos continuar a esperar que os lugares nos caiam do céu?