A Roménia vem com a armada toda. Ninguém – com o Mundial à vista – apresenta estados de alma sobre jogadores internos e externos. Formam a equipa mais capaz. Ponto.
E contam, como desde sempre, com os apoios invisíveis – não esqueço, no último Mundial, a troca de olhares cúmplices de preocupação entre Baquet (presidente da FIRA-AER) e Antonin (eminência parda de uma certa forma de estar no rugby, há alguns anos ao serviço dos romenos).
A tarefa de Portugal para continuar a caminho da Nova Zelândia não é fácil. Nada fácil mesmo. De uma exigência brutal para o cinco-da-frente – de quem, já o disse, dependerá a vitória – e de um elevado nível de exigência para todos os outros.
A questão táctica será importante na construção do resultado. Os pontos fortes dos romenos são reconhecíveis e habituais: bloco de avançados forte, pesado e exímio no maul dinâmico, bom jogo ao pé – comprido e, normalmente, tacticamente correcto. Mas os seus três-quartos, embora fortes e com poder, não têm qualquer qualidade especial – o jogo de passes não é nem muito rápido, nem suficientemente fixador: faz parte do trivial movimento lateral que passa bola e adversário. Defensivamente são capazes no homem contra homem mas têm sempre dificuldades em desmultiplicar contra atacantes que os fixem e deixam espaços vazios exploráveis no jogo ao pé – principalmente rasteiros e nas costas – se jogados na cara dos defensores.
Como se joga contra estes fortes e estes fracos?. Estrategicamente é fácil: não deixando ocupar a nossa área de 22 – aí sentem-se em casa com a possibilidade de aplicar a força do maul; levando-os a circular a bola e impedindo o jogo para o interior. No fundo, colocar o início do seu jogo na distância onde o jogo ao pé faça pouco sentido e o recurso ao maul esteja ainda demasiado longe da linha de ensaio para fazer sentido – ali para o intervalo central dos dez metros. E jogar tudo nas bolas recuperadas.
Tacticamente, a coisa fia mais fino: tirar a bola da nossa área de 22 com jogo ao pé para fora do terreno – atacar no alinhamento e pressionar, contrariando a facilidade romena do jogo ao pé e organizando a subida defensiva de forma diferente do habitual. Normalmente a defesa portuguesa defende com o 2º centro em cunha – desta vez deverão fazer a defesa ao contrário, abrindo o lado de fora, propondo a circulação da bola. Assim: subida sem grande rapidez na zona 1 e 2, atraso na zona 3 para depois, aplicar uma tenaz em superioridade numérica e com a ajuda da linha lateral, com o objectivo de recuperar a bola longe dos avançados romenos. Um tipo de defesa “aberta” que o Stade Toulousain utiliza diversas vezes como alternativa.
O jogo vai, para além da importância de que se reveste, ser muito interessante de um ponto de vista da inteligência táctica – a forma e eficácia das adaptações necessárias. A experiência dos jogadores portugueses, a sua capacidade defensiva no homem-a-homem, a boa capacidade que têm demonstrado no jogo envolvente – reconhecendo rapidamente as melhores linhas de corrida, e com boa visão periférica para criar o apoio necessário – são qualidades que nos permitirão chegar à vitória. Que, repito, dependerá da capacidade e eficácia dos forçados da equipa: o seu cinco-da-frente. Que sei disponíveis para deixarem a pele em campo.