segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

POR UM NADA...

…se perde, por um nada se ganha. E aquele pontapé que não subiu transformou-se no colapso do Estádio – último segundo, última oportunidade, o céu à vista e um tremendo nada.

Minutos antes, um três-contra-dois de escola a garantir uma oportunidade de excelência para resolver o jogo, foi pessimamente manobrada numa tomada de decisão de quem não tem treino nem qualidades para ser mais do que um finalizador. Momento de que ninguém se irá lembrar. Como pouco nos lembraremos da importância da incapacidade de conquista nos alinhamentos e da falta de soluções demonstrada. Ou a da decisão receosa de ir-aos-postes em vez do risco de um alinhamento em cima da área adversária suportado na vontade de ganhar para ficar na derrota de um ponto de distância. Na memória ficará, em vez de tudo isso, o pontapé que nos daria a vitória – como há quinze dias terá ficado junto dos seus o falhanço do chutador russo que nos garantiu a vitória por dois pontos. Um e outro nada entre vitória e derrota. Como se a estória de um jogo – esse enorme conjunto de decisões, erros, oportunidades, feitos – fosse apenas um pequeno nada. Mas ganha-se e perde-se, sabe-se, nos pormenores. E os pormenores portugueses foram maus. E quase ganhávamos…

A Geórgia até se pôs a jeito*. Mostrou-se um exemplo acabado de que velhos hábitos dificilmente se transformam – no treino que lhes vi mostraram-se muito mais interessantes, mais dinâmicos, mais movimentados. No jogo ficaram-se pelo papel de rolo compressor – usaram uma jogada treinada no ensaio – e só não perderam por acaso. Aliás, quem joga assim, quem mostra a total imperícia de utilização da enorme quantidade de bolas conquistadas, merece perder.

Porque não aconteceu? porque nós nada fizemos para ganhar, limitámo-nos, como lembra o poeta, a esperar acontecer e não saber que – quando? como? – riscos correr.
Depois das duas vitórias anteriores tudo parecia dever ser diferente. Porque foi assim?

A primeira razão: a Geórgia não é, hoje em dia, a Roménia ou a Rússia. Vale mais: tem outra experiência, outro traquejo mesmo quando, pela pressão envolvente, se limita ao jogo de afrontamento directo sem saídas de combate inteligentes.

Quando a pressão aumenta, os erros florescem. No campo desportivo o aumento de pressão, sem os hábitos de resposta adquiridos, é como se a Lei de Murphy tomasse conta de cada gesto. Tendendo ao exponencial se as coisas não estão convenientemente preparadas: e o quinze de Portugal não está convenientemente preparado para este outro nível de pressão. A maior parte dos seus jogadores não têm hábitos competitivos elevados – o nosso campeonato é fraco, fraquinho, de baixo ritmo, reduzido e sem competição capaz (as meias-finais em duas mãos é mais uma ajuda para não haver treino do agora-ou-nunca de que tratam os jogos internacionais) – e a montagem da equipa não me parece adequada.

Num jogo deste nível – a Geórgia é o 15º classificado do ranking IRB - os problemas já detectados em jogos anteriores tenderiam a ampliar-se. É fácil perceber que é um  risco desmedido utilizar jogadores em posições-chave que não têm – porque nunca tiveram ou porque já não têm – os hábitos necessários ao bom uso e desenvolvimento das situações. E o facto foi este: a equipa portuguesa não foi capaz de impor fosse o que fosse e viveu dos erros absurdos dos georgianos (se no Mundial as arbitragens não forem condescendentes com os mais fracos, não irão lá fazer nada). O que deu para disfarçar mas não para ignorar... estivemos sempre longe do controlo da vitória.

Perdeu-se uma enorme oportunidade – calendário favorável, sequência de vitórias – que, como lembra o provérbio, não voltará mais. Mas, assim sendo, também se pode dizer, trocando com a encolha de ombros, que se ganhou um enorme campo de análise sobre o rugby português, a sua condição, as suas perspectivas e estratégias, o seu futuro e a forma como o pretendemos desenvolver e posicionar – não perder esta oportunidade de pensar a realidade exposta neste jogo é uma exigência que não deve ser escamoteada com as mais que prováveis duas vitórias internacionais que se seguirão... O sinal está dado. 
*ironicamente pode dizer-se que o abertura georgiano (nº10) foi, pelo que destruiu do jogo da sua equipa, o melhor defensor português - demonstração feita com a entrada do nº22 para o seu lugar.
Com um abraço ao Miguel Carmo

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