A derrota dos Lobos, não sendo propriamente uma surpresa – a proximidade de pontuação no ranking IRB, embora atribuindo favoritismo a Portugal, admitia a lógica de qualquer resultado – foi, no entanto, um mau resultado com apenas uma vantagem: os vinte melhores qualificados do ranking vão estar no próximo Mundial o que, como furo de marketing, deixa imaginar o sorriso de satisfação dos dirigentes IRB…
E nem começou mal a selecção portuguesa – movimentou-se bem, circulou a bola, manteve a continuidade através de boas e adequadas linhas e ângulos de corrida, facilitando linhas de passe e o ensaio de João Correia foi um excelente exemplo da aproximação que o rugby português deve desenvolver (formação incluída!) se pretender obter resultados internacionais sustentados.
O pior foi o resto: faltas escusadas – espanta-me sempre a convicção da ignorância (estilo: não fiz nada, o árbitro é que não percebe nada disto!) – erros técnico-tácticos impossíveis – acabar de marcar para deixar cair uma bola e entregar de mão beijada a posse e o território e permitir o alimento ao adversário; não ser capaz, por falta de técnica, de impedir um ensaio de penalidade numa formação ordenada, mais faltas escusadas, um último lançamento no último alinhamento deplorável e um, ás tantas, certo deslace do colectivo. Pareceu falata de pulmão, mas o que fez falta a Portugal foi o treino da prática competitiva: aquela que é necessária para jogar ombro a ombro no espaço internacional onde pretendemos situar-nos. A que cria hábitos de decisão, de utilização das técnicas adequadas aos momentos precisos, da correcta atitude nas circunstâncias de cada momento.
Como diz o corolário que retiramos da Lei de Murphy: quando a pressão aumenta, o disparate aparece. E para o evitar só há uma forma: criar os hábitos de adaptação necessários. O que em Desporto significa habituar os jogadores a permanentes níveis elevados de competição. E não vale a pena chorar no molhado de outros jogadores (a mania dos titulares e o capote das desculpas) não terem estado presentes. A oportunidade perdida começou a desenhar-se muito mais cedo – com a desadaptação do calendário às regras competitivas necessárias. O Alto Rendimento não se compadece – verdade reconhecida – com análises e decisões amadoras feitas na base do interesse imediato e de perna curta.
As derrotas ensinam mais – até o dr. Louçã o sabe – do que as vitórias. Esta derrota – uma boa oportunidade deitada fora para deixar na memória dos dirigentes internacionais qualquer brilho fora daquele com que vão voltar da Nova Zelândia – deve ensinar alguma coisa à organização do rugby português, obrigando, nas análises e decisões, ao profissionalismo de uma estratégia alinhada pelos objectivos.