A França de Saint-André parece ter recuperado algo da cultura rugbística francesa original. Do jogo com a Itália fiquei com a ideia de que a defesa voltava a uma das caraterísticas que personalizavam o rugby francês: subida mais lenta - muito menos desenfreada do que os britânicos - a preparar desde logo o deslizamento lateral para utilizar uma das duas armas usuais, ou fechar o jogo atacante na zona central superiorizando defensores, impedindo a bola de circular até às faixas laterais e fazendo então o ataque defensivo, ou abrir o exterior para encurralar o movimento atacante na zona lateral e impedir a sua continuidade por jogo interior ao mesmo tempo que, com superioridade numérica defensiva, usam a linha lateral para recuperar a bola. Hoje, contra a Irlanda, em Paris, poderemos ter uma melhor percepção sobre se este retorno é real ou casual. Para além, claro, do interesse de perceber como irão os franceses posicionar-se para defender a conquista de território irlandesa pelo seu usual instrumento de jogo-ao-pé.
Embora com favoritismo óbvio dos franceses (com a obrigação de vencer, de acordo com a pontuação do ranking, por 9 pontos de diferença) o jogo vai ter momentos de inegável interesse - o irish fighting spirit pode fazer das suas e surprender alguma presunção francesa.
Domingo o jogo é outro e mais a meu gosto: Gales, em Cardiff, encontra a Escócia. O favoritismo galês é notório - têm mostrado constituir uma notável equipa de ataque e mais uma vez vamos poder ver a forma como irão explorar os espaços a partir do seu habitual posicionamento de 3+3 - como sempre achei que, ao nível das linhas atarasadas, se defendia em 4+2 e se atacava em 3+3, estou particularmente interessado neste processo e no seu desenvolvimento.
Do que temos visto, Gales tem oferecido excelentes espectáculos. Nomeadamente porque se tem apresentado numa condição física invejável e que lhe tem permitido manter ritmos de jogo muito elevados e altamente desgastantes - porque também muito variados - para os adversários. No entanto esta subida de nível têm o seu contra na cobiça de que os seus melhores jogadores começam a ser alvo - o que tem levado treinadores a apresentar novas propostas de retenção dos jogadores internacionais em clubes galeses. Para o que começam a propôr que, à semelhança da Nova Zelândia, os internacionais venham a ter, em vez de com clubes, os seus contratos profissionais realizados com a federação. O que, para um país de diminuto campo de recrutamento comparativo, pode ser uma boa solução de consequências importantes para a sustentabilidade da selecção galesa: manutenção do interesse e nível competitivo interno, proximidade e acessibilidade permanente dos melhores jogadores com maiores facilidades para a preparação da selecção principal.