quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ERROS

“Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos.”
Padre António Vieira (1608/1697)

Inexplicável a derrota 32-33 com a Rússia! Trinta e dois pontos marcados, quatro ensaios conseguidos, uma vantagem ao intervalo de 11 pontos, um desastre do início do segundo-tempo e derrota final por um ponto. Errol Brain, treinador principal e concordando que a entrega do resultado se fez no atípico início do segundo-tempo, aponta, numa mistura explosiva, três razões gerais para explicar a derrota: falta de concentração, demasiados erros individuais, não cumprimento do plano de jogo.

E como Portugal poderia ter ganho folgadamente... Ó se podia...

Porque não o fez? Porque teve demasiados “eus” em vez do obrigatório “nós”, pouca e curta equipa no esquecimento da obrigação dos grandes de fazer um todo superior à soma das partes. Porque falhou três-contra-um e três-contra-dois de escola, porque errou na defesa colectiva – nunca vi o recurso ao fixação-contorno (à francesa: cadrage-débordement) ser tão eficaz, para uma e outra equipa, no centro do terreno como neste jogo. E a entrada em campo para a segunda-parte deitou tudo a perder – perda de concentração num percurso demasiado longo para os balneários para um intervalo de apenas dez minutos? Tomaz Morais lembra o seu jogo contra a Roménia e as dificuldades que a distância criou na sua concentração (não tenho experiência nesta matéria, no meu jogo internacional no Estádio Nacional contra a Itália ainda não havia intervalo). Fica a nota para futuro.

“O que não se faz não existe.”, disse Vieira. Os acertos, os passes que não se fizeram, os pontapés que não se deram, as decisões que não se tomaram, não existem. Ou melhor, só existem no depois, na reflexão posterior, porque o antes dos momentos decisivos não nos trouxe o momento dos grandes jogadores mas sim o seu tempo desfasado a perder-se nas periferias do jogo individualista.

O que Portugal precisa é de uma equipa, um conjunto sólido de objectivos e vontades, de momentos sobre momentos entendidos como construção de uma vantagem final arrasadora dos adversários que nos defrontam. Uma equipa que seja muito mais do que o momento que a paixão de um Hino cria – é verdade, a paixão do Hino não cria uma equipa, cria um momento. Nada mais. O resto constrói-se em cada momento, tempo e espaço concreto.

Podíamos ter ganho, podíamos – mas isso pouco importa porque perdemos. E porque perdemos também já pouco importa o erro grosseiro da arbitragem que não atribuiu a Portugal um ensaio-de-penalidade sobre a meia-hora do jogo e na famigerada formação-ordenada em que, a escassos metros da linha de ensaio, Portugal perdeu a bola. Pouco importa porque perdemos mas teríamos ganho!


Foto da transmissão televisiva da SportTV

A formação-ordenada ainda está formada e em avanço no terreno, rodando ligeiramente para melhor garantir o destaque, e a bola – como se pode ver na foto tirada da transmissão televisiva – está ainda no seu interior e junto aos pés de Severino (nº8) que ainda não se destacou. Mas pode ver-se o nº 12 russo já com um pé dentro do terreno-de-jogo, ultrapassando a linha-de-ensaio e colocando-se em posição de fora-de-jogo. Sendo desta posição ilegal que o centro russo vai apanhar a bola, roubando-a à formação ordenada portuguesa que avançava, só há uma decisão possível de acordo com as Lei do Jogo: ensaio-de-penalidade! Coisa que não terá passado pela cabeça nem do árbitro, nem do árbitro auxiliar. Distraídos num erro imperdoável e com tremendo prejuízo para Portugal que, com a derrota, viu a sua pontuação do Ranking IRB baixar - de 59,07 para 57,91 - e ficar cada vez mais distante dos seus adversários directos – nomeadamente da Espanha (de 60,33 para 62,10) que, embora recheada de franceses que não deverão estar já disponíveis para o Mundial de 2015, cometeu a proeza europeia da jornada ao derrotar a Geórgia.     

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