sexta-feira, 4 de maio de 2012

O COLÉGIO MILITAR E O RUGBY

Por muito estranho que pareça - dada a qualidade do seu programa de formação desportiva - e com excepção de um curto período nos anos 80 por iniciativa do coronel Roberto Durão, nunca houve rugby no Colégio Militar. Mesmo assim muitos dos seus ex-alunos tornaram-se jogadores de rugby e bastantes foram internacionais em representação da selecção principal de Portugal de que, alguns ainda, foram capitães e seleccionadores/treinadores. Tantos o foram que, seguramente, não haverá instituição nacional de ensino que tenha, nesta matéria, contributo comparável. E terá sido assim porque, por um lado, a formação desportiva multidisciplinar recebida nos permitiu adaptar-nos muito rapidamente às exigências de um jogo novo e, por outro, porque a base da educação militar que aprendíamos estruturou uma fácil compreensão do jogo.

Faz todo o sentido que o Colégio Militar integre o rugby no programa de formação desportiva para os seus alunos. Como o está a fazer agora que transformou o velho pelado, onde treinávamos futebol para a conquista dos campeonatos escolares da Mocidade Portuguesa, em campo de relva artificial capaz de responder às exigências de segurança do rugby e criando assim condições excepcionais para a aprendizagem e prática da modalidade.
O rugby exige a aceitação de valores - coragem, solidariedade, lealdade, espírito de equipa, boa-educação, disciplina, abnegação, desportivismo, partilha, sacrifício - que o Colégio, tendo por base o lema UM POR TODOS, TODOS POR UM, transmite a quem o frequenta.
Sendo um desporto colectivo de combate organizado para a conquista de terreno - como gosto de o definir - o rugby tem relações estratégicas e tácticas com a batalha. Simplificando a complexidade de um jogo que exige avançar para marcar ensaios mas não permite passar a bola para frente, pode dizer-se que em cada jogo, em cada momento do jogo, os três sectores que formam a equipa - avançados, três-quartos e médios - têm missões significáveis em linguagem militar: o primeiro, avançados, a quem, como uma infantaria, cabe criar os desequilíbrios nas linhas adversárias que diminuam as suas capacidades operativas enquanto que aos segundos, três-quartos, caberá, como à cavalaria, a exploração do sucesso conseguido sob o comando táctico dos dois generais responsáveis pela estratégia global, o terceiro sector dos médio-de-formação e médio-de-abertura.

O que significa que o jogo exige um constante desenvolvimento das capacidades de tomada de decisão individuais e colectivas.

Com estas potencialidades pedagógicas a pergunta tem pertinência: porque é que o rugby não tem feito parte do curriculo escolar de uma escola que tem por base a educação militar?

Vá lá saber-se... Felizmente a realidade modificou-se e hoje o rugby inicia no Colégio Militar um percurso que se pretende sustentado e integrado em programas de formação desportiva multidisciplinar que tem sido a marca registada da Casa que nos educou.

O rugby português conhecerá em breve as vantagens deste passo.
(escrito a 29/ABR/2012)

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