E aprendíamos como se fazia - como diziam os franceses - um "cadrage-débordement" ou uma "troca de pés" com professores tão bons como - numa lembrança breve - Cantoni, Villepreux, Jo Maso, Edwards, Gerald Davies, John Dawes, Barry John, JPR, Phil Bennett, Mike Gibson ou Ian McGeechan. E a placar com os incansáveis Slattery, John Taylor ou Rives. E com tantos outros de quem sabíamos nomes e qualidades. E que, no sonho com que nos queríamos também internacionais, queríamos imitar.
Quando havia jogos internacionais, com Portugal a jogar em casa, a romaria era garantida - todos íamos ver e vibrar com os amigos, com aqueles que víamos a treinar ou com quem treinávamos, que vestiam a camisola nacional. A "nossa" camisola.
Ver jogos ao vivo é muito diferente para muito melhor: percebi isso mesmo na primeira vez que fui a França ver um 5 Nações ao estádio. A dimensão dos homens é "palpável", a velocidade do jogo é perceptível, os contactos mostram-se na sua verdadeira dureza. Ver um jogo internacional ao vivo permite perceber onde estamos e o que nos falta - na televisão, mesmo com a vantagem da repetição, há uma distanciamento que nos afasta da realidade. Às vezes julgamos até que o que vemos é fácil.
Hoje jogam em Lisboa, Portugal - 22º classificado do ranking IRB - e Fiji - 13º classificado do mesmo ranking. Não se pode afirmar que seja um dos melhores jogos do mundo mas é um jogo disputado por duas equipas que se encontram no quinto superior do ranking mundial de 100 equipas. Não sendo um França-Nova Zelândia - 3º lugar e 1º lugar do ranking IRB respectivamente - também não é nada de deitar fora. E alguns dos jogadores presentes jogam nas melhores equipas da Europa. A começar pelo português Julien de Sousa Bardy um dos melhores "asas" do campeonato francês e a quem vimos um excelente ensaio no passado sábado a que se juntam fijianos que fazem nome por essa Europa..
Perder a oportunidade de ver estes jogadores a jogar, para além do pretencioso, é um erro. Porque é não querer aprender com quem faz melhor. Perder a oportunidade de ver como resolverão os portugueses as dificuldades que irão, certamente, encontrar é não querer saber do caminho de desenvolvimento necessário ao progresso.
Os clubes portugueses, ao marcarem os seus jogos para horas simultâneas com o jogo de Portugal ou para horas que impedem os seus jogadores de estarem presentes no Estádio Universitário de Lisboa é um erro grave. Pelo que limitam à visão dos seus próprios jogadores e pelo que representa de desrespeito pelo papel fundamental que as selecções nacionais representam no desenvolvimento e atracção da modalidade.
Não permitir que a comunidade rugbística portuguesa esteja presente neste Portugal-Fiji distancia o rugby português do Desporto para o colocar na campo das Actividades. É reduzir o rugby português a um jogo do quintal das traseiras. A um muda-aos-cinco-e-acaba-aos-dez.