domingo, 10 de novembro de 2013

UMA DERROTA NORMAL

A derrota de Portugal com Fiji correspondeu ao que dizem os números: a diferença de pontos de ranking estabelece, em teoria, 23 pontos de diferença no resultado. E foi o que aconteceu: diferença de 23 pontos. Portanto tudo normal.
Mas se considerarmos que, no XV inicial, havia 6 jogadores que faziam a sua estreia internacional, a normalidade do resultado toma outras dimensões. Apesar da selecção nacional ter entrado em campo com um total de 403 internacionalizações contra 285 internacionalizações dos jogadores fijianos, a inexperiência do alto nível competitivo - apesar das vantagens já adquiridas nos dois jogos da Amlin Cup - estava do lado dos portugueses.


E mais interessante é ainda podermos pensar que o resultado poderia ser bastante mais apertado não fora o falhanço de pontapés marcáveis - no nível internacional é imperdoável não traduzir em pontos as faltas conseguidas pela pressão atacante sobre o adversário - ou a oferta de dois ensaios: um porque um jogador abandonou a linha defensiva à procura de uma intercepção descabida (só se procura a intercepção em duas situações: como último recurso numa situação desesperada de inferioridade numérica ou quando se tem a certeza da sua realização) que abriu uma auto-estrada que naturalmente o experiente fijiano não desaproveitou; outro por uma oferta sem nexo, num passe directo para um ensaio sem qualquer mérito ou trabalho. Dos pontapés aos ensaios, brindes que ajudaram a desequilibrar mais cedo o resultado. Que poderia ter sido mais interessante.
Mas houve avanços com ligeira melhoria no ataque à defesa adversária - apesar do novo "abertura" (que joga no seu clube noutra posição) tenha jogado na "área de conforto" da lonjura da linha de vantagem permitindo que, sem grandes riscos, a defesa se pudesse desmultiplicar - muito embora nem sempre houvesse a preocupação de avançar antes de lateralizar o passe. 
A formação ordenada mostrou de novo os problemas da intromissão do árbitro (a 4ª voz): os próprios fijianos - com bastante mais peso - mostraram mais problemas nas suas próprias bolas. Nas nossas introduções, embora com o bom trabalho de controlo com os pés do Nº8 - Vasco Uva - as nossas linhas atrasadas foram colocadas quase sempre no "pé de trás" o que não permitiu chegar em boas condições ao "canal 3". Situação que deveria levar a penetrações centrais para que não perder a vantagem da concentração de jogadores e, do consequente, espaço disponível. Dols jogadores portugueses gostei do já nomeado Vasco Uva - provavelmente o único veterano que se encontra em condições para alinhar com estes jovens - do jovenzíssimo Pedro Bettencourt (com um bocadinho mais de experiência teria marcado um ensaio que jamais esqueceria) e o sempre notável Julien Bardy.
E visto o jogo ao vivo o que é que se pode ter visto? Logo e a impressionar a "dimensão" dos fijianos. Depois, perceber também como se deve fazer para receber a bola em velocidade e ultrapassar a defesa - perceber aqui o quando lançar-se em sintonia com o movimento da bola é uma técnica que se aprende... treinando. Ver, ao vivo, permite apreender os seus fundamentos.
E estando, poderia ter visto o excelente ensaio de Portugal: bola jogada rápida por Pinto de Magalhães, saltando, com passe tenso e rápido, um/dois jogadores para servir um já lançado Julien Bardy que ultrapassou, atacando o intervalo, a primeira barreira defensiva para, ao fixar o último defensor, dar a bola numa bandeja a Frederico Oliveira que só teve que correr para marcar. Um tratado de aplicação de princípios: velocidade, avanço e ataque aos intervalos e sobre o lado contrário do receptor, apoio em tempo útil e com a linha de passe desempedida. Lindo de ver!
A caminho do Brasil e para um jogo mais exigente no resultado - no jogo com Fiji a derrota não causa qualquer problema em termos de pontuação no ranking - e onde se espera a resultante do crescimento que os três jogos já realizados permitem esperar. Por diversas ordens de razões - entre as quais se inclui a diferença de posicionamento no ranking - a vitória portuguesa, embora - em teoria a diferença é de 8 pontos - sem se pensar em facilidades, é o único resultado possível.
Outros jogos
Nos outros jogos do fim-de-semana e para além da demonstração expressiva da superioridade do Tiers 1 sobre as equipas do Tiers 2, as maiores surpresas vieram dos nossos adversários directos do 6 Nações B que, embora em casa e enquanto a Espanha (20º) cumpria a sua obrigação de vencer fora o Chile (26º) por 26-3, conseguiram duas excelentes vitórias: a Geórgia (16º) sobre o Canadá (14º) por 19-15 ; a Roménia (17º) sobre o Tonga (11º) por 19-18.
A Inglaterra venceu naturalmente os Pumas do "nosso" Daniel Hourcade e no França-AllBkacks de camisola branca, um bom jogo, vale a pena rever o notável ensaio de Kieran Read - uma demonstração de eficácia - e fixar o nome de um jovem francês: Gael Fickou, 19 anos. A Itália, uma espécie de argentinos europeus - de menos para os de cima, de mais para os de baixo - levou uma trepa enorme dos australianos, o mesmo acontecendo com Samoa ou Japão. A África do Sul no seu jogo em força habitual - e cheio de dureza escusada (Bismark Du Plessis continua a agredir quem pode com o seu hand-off de, no mínimo, antebraço e, no pior, de cotovelo...) - venceu, para grande descontentamento meu, o País de Gales que se mostrou muito longe da equipa vencedora do último 6 Nações.
Sub-18de Portugal
Por causa de uma carambolada de meia-dúzia de automóveis na auto-estrada acabei por quase não ver a excelente vitória dos Sub-18 portugueses contra a Espanha e com o consequente conquista do acesso ao Europeu de Élite. Do que lhes vi contra os russos e do que ouvi dizer da final, há ali gente com futuro - saibamos nós encontrar-lhes a motivação necessária que os faça ultrapassar o objectivo  imediatista de "entrada para a universidade" para poder garantir o seu interesse empenhado por uma carreira internacional e a necessária sucessão pode estar garantida.

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