terça-feira, 8 de agosto de 2017

CRUSADERS: OITAVO TÍTULO

Belo jogo para uma excelente final. Ao ponto de Spiro Zavos, jornalista australiano, escrever que esta final, pela qualidade e intensidade do seu jogo, tinha salvo o Super Rugby que tem andado perdido entre séries, números de equipa, problemas australianos, etc. Mas o jogo da final foi um bom intervalo nesses jogos de bastidores e de administradores.
Os Crusaders perderam para os Lions em quase todos os índices excepto no que é fundamental, no resultado. E mostraram a realidade das estatísticas: ganha o jogo quem marca mais ensaios. E os neozelandeses marcaram 3 ensaios contra 2 dos sul-africanos…
Placaram que se fartaram os neozelandeses (195 placagens) mas também falharam mais (39) do que os sul-africanos. Mas estes falhanços não tiveram consequências de maior porque resultaram de subidas defensivas muito rápidas (rush) que deixaram algumas vezes passar adversários. Mas essas entradas - veja-se que o número de rupturas conseguidas pelos Lions é de apenas 13, número muito inferior ao valor das placagens falhadas - eram imediatamente tapadas pela rapidez adaptativa - recurso ao conceito scramble defence - de outro companheiro defensor. 

Cientes do perigo do último quarto do jogo - os Lions têm marcado muitos ensaios nesse final - em que a altitude dos 1750 metros pesa muito na capacidade física dos jogadores de fora, os Crusaders prepararam muito bem o jogo. Nomeadamente no que diz respeito aos pontos-de-quebra onde tiveram sempre o cuidado de empenhar poucos jogadores para libertar os defensores necessários para responder às vagas do jogo de passes muito verticalizado dos sul-africanos. E foram ainda brilhantes na forma como contrariaram a poderosa arma adversária do maul nos alinhamentos. Ver como o fizeram sem cometerem faltas é uma boa lição e bom motivo de cópia.
Curiosamente os dois primeiros ensaios neozelandeses resultaram de bolas conquistadas nos pontos-de-quebra. O terceiro resultou de uma velha formula que os Crusaders já muito utilizaram (até perceberem que os adversários já o defendiam com toda a facilidade) - bola para cá, bola para lá a provocar intervalos mais largos - e Kieran Read a não se fazer rogado para marcar no meio dos postes logo nos primeiros momentos da 2ª parte.
Contra 14 jogadores e 22-3 no resultado ao início da segunda parte tudo parecia facilitado. Mas os Lions não desistiram - a sua imagem de marca como demonstraram oito dias antes contra os Hurricanes - e com a entrada de um novo médio-de-formação, Faf de Klerk, iniciaram um período de grande intensidade que colocou - já atrapalhados pelo falta de oxigénio provocada pela altitude - os Crusaders numa situação muito difícil. Mas não é fácil jogar com aquela intensidade durante muito tempo e contra uma defesa que pressiona muito e se houve um ensaio imediato, o seguinte levou tempo de mais para se tornar na reviravolta do jogo.

Nesse final difícil aos Crusaders competiu segurar a bola tanto quanto possível e fazer valer a sua maior capacidade nos alinhamentos e nas formações-ordenadas.
Para além das qualidades neozelandesas, os Lions cometeram dois terríveis erros: a preferência por escolher um alinhamento em vez de chutar aos postes e o motivo da expulsão que os reduziu a 14 jogadores.
Com o resultado desfavorável em 12-3, ainda na primeira-parte e também ainda com a equipa completa, a uma penalidade dos Crusaders resolveram, em vez de chutar aos postes e garantir 3 pontos, chutar para fora para tentar um maul após alinhamento. O erro é grosseiro, quer pelo resultado e dado o tempo de jogo, quer porque - e para isso servem as estatísticas - o local da falta garante uma enorme probabilidade ao chutador e o maul pós-alinhamento tem, entre equipas do mesmo nível elevado, uma fraquíssima percentagem de sucesso. E foi o que aconteceu: lançada a bola, viram um neozelandês conquistá-la.  
O outro erro terminou com a expulsão de Kwagga Smith por ter "virado de pernas para o ar" e provocado uma queda perigosa ao defesa neozelandês que se encontrava no ar a captar a bola. Bem pode agora vir o treinador sul-africano, Johann Ackerman, chorar por leite derramado e dizer que a expulsão virou o jogo - claro que virou! - e que não deveria haver expulsão porque numa final deveria ser amarelo porque os espectadores pagaram bilhete e não foi para verem jogar 14 contra 15 e porque...
A expulsão não foi mais do que o resultado de uma boa interpretação das leis pelo árbitro sul-africano, Jaco Peyper. O asa Kwagga Smith provocou uma perigosíssima queda ao defesa David Havili e não existe outra interpretação possível: trata-se de jogo muito perigoso a colocar a integridade física de um adversário em perigo. Portanto, penalidade e expulsão. 
A queda de David Havili provocada por Kwagga Smith
O cartão vermelho é a única resposta a um incidente daquela natureza  e só o treinador da casa - ou um ou outro fanático - levantou a voz contra a decisão. Ficou o jogo mais fácil para os Crusaders, ficou! mas a culpa disso é do jogador sul-africano que não teve a mínima necessidade de, sem fazer tenções de agarrar qualquer bola, dar uma enorme "passa" no jogador que se encontrava no ar violando de forma grosseira a Lei 10.4 i) - Placar um jogador no ar. Um jogador não deve placar, tocar, empurrar ou puxar o pé ou pés de um adversário que está a saltar para a bola quer num alinhamento quer no jogo em geral. A sanção é um pontapé de penalidade a que se pode seguir a aplicação da Lei 10.5 - Sanções a). Qualquer jogador que infrinja qualquer parte da Lei de Jogo Perigoso deve ser avisado ou advertido e suspenso temporariamente por um período de dez minutos de tempo de jogo efectivo ou ser expulso definitivamente. E o árbitro não vai preocupar-se com o interesse dos espectadores em verem um jogo de 15 contra 15 - a sua obrigação é a de aplicar as Leis do Jogo independentemente da envolvente ou contexto. O jogo deve ser seguro para os jogadores e, isso sim, deve demonstrar aos espectadores que o é. Para que não haja pais e mães que receiem deixar os seus filhos jogar rugby.
Os Crusaders cometeram uma notável proeza: conquistaram o título pela 8ª vez em doze presenças nas finais e são a única das equipas que conquistou o título jogando - pela segunda vez porque já o havia feito em 2000 em Camberra, vencendo os Brumbies - no campo do adversário. 

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