terça-feira, 29 de agosto de 2017

SORTE É...PODER TER VISTOS ESTES DOIS JOGOS

Em dia de Nova Zelândia foi uma sorte poder ter visto os dois jogos que deram a vitória, masculina, na Beledisloe Cup e, feminina, no Mundial de 2017.

Num e noutro jogo pudemos ver o resultado da formação neozelandesa - All Blacks e Black Ferns - numa demonstração da sua qualidade e eficácia. Numa e noutra equipa a capacidade de recorrer a uma ampla panóplia de técnicas para jogar de acordo com o que o adversário apresenta como pontos fracos - dir-se-ia a capacidade de exploração - é o aspecto fundamental e demonstrativo de uma formação técnico-táctica muito bem conjugada, estudada e amplamente aplicada que fomenta a construção de avanquartos - jogadores que misturam de forma consolidada o domínio técnico-táctico que se exige a avançados e três-quartos. Situação que é, aliás, parte integrante da cultura neozelandesa como demonstra a existência do mito (não corresponde à verdade histórica) de que o nome de All Blacks teria surgido da corruptela de all backs nome com que um jornalista teria designado a equipa neozelandesa - afinal The Originals - quando da 1ª digressão, em 1905, do XV da Nova Zelândia às Ilhas Britânicas.

No jogo contra os australianos e ao contrário do primeiro jogo, os neozelandeses sofriam o primeiro ensaio aos 26” - vinte e seis segundos! - de jogo para se verem a perder por 3-0 de ensaios aos 20’. 

Num jogo de 10 ensaios (!!!) e numa 2ª parte de ora ficas tu à frente, ora fico eu com ensaios para todos os gostos - o 4º neozelandês foi precedido por 22 fases e o 5º resultou de uma penetração com passe para dentro, passe para fora para acabar no meio dos postes para um 35-29 final de um excelente jogo.

Impressionante, para além da capacidade e qualidade técnica que permite a estes jogadores jogarem num metro quadrado como se tivessem todo o campo por conta, a importância do triângulo bases-Nº8. Este triângulo do lado neozelandês fez 22 placagens, transportou a bola 55 metros e do lado australiano foram feitas 26 placagens e a bola foi transportada 38 metros. E os bases ainda tiveram que dispender energias nas suas funções primeiras: garantir a sustentabilidade da formação ordenada e a conquista da bola nos alinhamentos. Brutos que só sabem empurrar e saltar? Foi tempo...

Como também foi tempo de aberturas apenas muito habilidosos, muito estrategos e muito pensadores do jogo e afastados do calor da luta. Neste Nova Zelândia - Austrália os melhores placadores - por aqui se podem ler as preferências atacantes de ambas as equipas embora algumas das placagens feitas o tenham sido, em dobras e no limite da linha defensiva - foram os dois aberturas: o neo zelandês Barrett fez 9 placagens (10% das placagens da sua equipa) e o australiano Foley fez 15 placagens (11% das placagens da sua equipa).

E a Nova Zelândia ganhou em cima do final porque mereceu - ganhou em todos os parametros do jogo - e principalmente porque demonstrou uma absoluta confiança individual e colectiva. À minha falha adversária aí se formavam as vagas em continuidade de passes de todo o tipo. 

A principal diferença para o jogo anterior esteve no lado australiano que mostrou ter apreendido o conceito de um seu antigo treinador, Jack Gibson: quero lá saber que raio de nome dão à defesa - quero é que subam rápido e plaquem! E assim fizeram, placaram... e voltaram a colocar o rugby australiano no seu devido lugar.

Na final feminina do Mundial, as neozelandeses levaram uma parte (o resultado ao intervalo era de 17-10 favorável às inglesas) até perceberem como desarticular a equipa inglesa: na segunda-parte o ataque neozelandês, deixando de lado o seu jogo expansivo, passou a focar-se nos corredores imediatos às formações... e foram 3 ensaios da “Melhor em Campo”, a pilar Toka Natua para construir a vitória por 41-32 num jogo de muito bom 
nível técnica e tacticamente e com 11 (!!!) ensaios.

O Rugby pode jogar-se de duas maneiras: ou cumprindo um cardápio pré-elaborado a fazer valer as estruturas que procuram o melhor dos dias para que o adversário não leia o suficiente e cometa os erros - nem sempre forçados - que permitam construir o melhor resultado ou então, alicerçando o seu jogo na utilização dos seus pontos fortes que se lançam, sempre com uma ou duas alternativas em suporte, sobre a descoberta - pela permanente leitura - do fraco adversário explorando-o em continuidade até à ruptura que leva á àrea de ensaio. Nos dois jogos, os neozelandeses - que à sua capacidade técnico-táctica juntam uma confiança sem limites que lhes permite correr os riscos adequados à perturbação do adversário -  mostraram preferir a segunda e mostraram-na como vitoriosa. E assim continuam a somar títulos e a manterem-se no 1º lugar do respectivo ranking.

Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores