quinta-feira, 3 de agosto de 2017

DO QUADRO AO CAMPO

Sir Graham Henry explica os objectivos do ataque
Assim explica Sir Graham: O objectivo principal do ataque é marcar ensaios e o sub-objectivo é ultrapassar a linha de vantagem porque ficaremos em superioridade numérica e teremos maior facilidade no 2º tempo. São três os espaços onde a defesa tem maiores dificuldades - no corredor entre a fase ordenada de onde a bola parte e o abertura adversário; para lá do 2º centro e, ainda, atrás da defesa
O essencial para que o ataque seja eficaz depende da tomada de decisão dos jogadores envolvidos e que se baseia quer no conhecimento dos companheiros - factor coesão da equipa - quer na leitura que fazem da situação que enfrentam, recorrendo a uma das opções possíveis de acordo com o movimento dos defensores.
Os factores-chave para que haja eficácia no movimento do 1º tempo, são:
  1. Todos devem representar uma ameaça e assim ser levados em conta pelos defensores;
  2. Todos devem estar preparados e disponíveis para que sejam opção através da boa linha de corrida e da disponibilidade para receber a bola através de um passe que não se mostrará o mais académico; 
  3. O passe do formação deve ser "na linha" - não deixando que ninguém tenha tempo e espaço para deslizar;
  4. Os atacantes devem correr a direito - ombros paralelos às linhas de ensaio - e "fixar", pelo menos, os adversários directos;
  5. A linha de corrida do 2º centro atacante deve ser convergente, atacando o espaço entre os centros defensores para os obrigar a aproximarem-se um do outro;
  6. A tomada de decisão do 1º centro atacante é decisiva para o sucesso: se o 2º centro defensor não fecha o intervalo, passe curto para o 2º centro seu companheiro; se 2º centro defensor fecha o intervalo, passe para o abertura atacante com bola pelas costas do companheiro 2º centro; se desmultiplicação de defensores, exploração do canal do abertura defensor jogando para o interior com o seu companheiro, ponta do lado fechado  
  7.  A linha de corrida do abertura atacante - tem que ser sincronizada e deve permitir o "endireitar" para atacar o intervalo, optando por uma das duas opções possíveis - penetrar ou passar.
Nas imagens seguintes pode ver-se a passagem do esquema de quadro ao ensaio dos Hurricanes  contra os Lions no jogo da meia-final do Super Rugby 2017 (e já referido como um dos grandes momentos do jogo aqui.) A única variante em relação ao esquema apresentado foi a de utilizar o ponta-do-lado fechado - e que fez toda a diferença e provocou um 3x1 final - como primeiro receptor.
1. Linha de corrida do 2ºC atacante, Vince Aso, a fixar o 2º C
defensor depois de Ngani Laumape ter transportado a bola
até ao limite possível e, face à leitura da organização defensiva,
 ter decidido passar a bola ao nº10, Beauden Barrett.
2. Recepção de Beauden Barrett que percebe a existência de um
intervalo e o posicionamento  em "meias-águas" do ponta
defensor , tendo dois companheiros do lado de fora, tem uma
decisão fácil a tomar: penetração se o defensor o não atacar;
passe se o defensor vier sobre ele.
3. Perdido entre defender o portador da bola ou o adversário que se apresenta
no seu corredor, o ponta defensor deixa aberto um corredor por onde entrará
Beauden Barrett que, face à defesa de cobertura que se desmultiplica, passa,
saltando o seu irmão Jordie, para Wesley Goosen (que, por junto à linha,
não se vê na imagem) marcar ensaio.

A simplicidade dos conceitos e dos princípios que Graham Henry coloca nas exigências da movimentação - muito longe e até em oposição da moda em voga do modelo de estruturas - dando aos atacantes o mote organizado das diversas opções possíveis e da sua decisão face ao movimento dos defensores permite que jogadores que ele nunca treinou, mas pela facilidade dos princípios apresentados, sejam capazes de interpretar eficazmente  a situação. Esta criação de diversas opções possíveis de oposição ao movimento dos defensores já foi também eficazmente utilizada por Bob Dwyer - utilizava 3 por jogada - na Austrália campeã mundial de 1991. No fundo, esta forma de jogar tem de surpreendente um "saber como começa mas não saber nunca como acaba".
Sendo a missão dos treinadores dos desportos colectivos a de preparar - fornecendo as devidas ferramentas - os jogadores para serem colectivamente eficazes, simplificar o processo da tomada de decisão é uma das suas obrigações. E quando os treinadores simplificam... os jogadores - e as equipas - são mais eficazes.
Como é que se defendem situações destas? Principalmente garantindo que os atacantes ficam no "pé de trás" em qualquer das fases ordenadas - formação ordenada ou alinhamento - perdendo assim o tempo ideal de acção numa demonstração evidente da importância decisiva destas fases e da necessidade do seu controlo. Depois, recorrendo a essa enorme dificuldade e exigência que é a defesa adaptativa, sendo capaz de ler os sinais adversários e reorganizar-se defensivamente em movimento.  
Créditos: as fotografias foram retiradas dos sites Rugby Site (1) e ROAR (artigo de Nicholas Bishop) (1,2,3)


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