A 3.ª jornada do 6Nações tem, para além de um prognóstico que não precisa dos cuidados do João Pinto — ninguém acredita numa vitória italiana sobre os irlandeses — dois outros jogos sem qualquer certeza nos resultados finais como se pode perceber pelo quadro acima.
Em Paris, a França — com uma parelha de médios, Dupont e Ntamack (ambos do Stade Toulousain), muito jovem — tem que demonstrar aos seus adeptos que a sua passagem pelo Mundial do Japão não será um desastre que exija toda uma série de mudanças internas na organização do rugby francês para garantir uma presença competitiva condigna no Mundial de França de 2023. O título da primeira página do conhecido Midi Olympique não engana sobre o que querem os franceses da sua equipa: LEVANTEM-SE!, escrevem.
Mas o jogo que está a levantar o maior interesse é o Gales-Inglaterra. Quer pelas dúvidas sobre o resultado final ou pela possibilidade de vitória com Grand Slam (só vitórias sobre todos os adversários) ou do tradicional troféu britânico designado por Triple Crown (vitórias sobre os outros adversários britânicos), mas principalmente pelo interesses táctico que o jogo propõe: como vão responder os galeses ao bem oleado sistema inglês de “dupla verticalização”? Qual será o processo que Gatland utilizará?
Os ingleses derrotaram Irlanda e França com um sistema simples a que chamo “dupla verticalização”: penetrações em passes, normalmente baseadas num esquema 1-3-3-1, para ultrapassar a “linha de vantagem” e obrigar o três-de-trás a subir, deixando terreno livre atrás que vai possibilitar o jogo-ao-pé com perseguições eficazes porque sempre mais velozes do que os defensores obrigados a uma volta atrasadora. Mas se o “três-de-trás” não subir, os atacantes, sem o problema de jogar “entre-linhas” podem organizar a continuidade do seu movimento a que os defensores terão significativas dificuldades em parar. No fundo este sistema apresenta-se como uma espécie do cobertor que, se tapado de um lado, destapa-se no outro. Como resolver? Que estratégia? Que táctica?
Parece evidente que a melhor opção galesa será a de procurar travar o início do movimento penetrante. O que significa a necessidade de dificultar as conquistas de bola seja nas fases estáticas, seja nas fases dinâmicas. Depois existe a óbvia necessidade, de acordo com a linguagem estratégica militar de combate, de decapitar a liderança — o que será papel da terceira-linha galesa dos excelentes Navidi, Tipuric e Moriarty que não deixará um centímetro de terreno para a dupla de médios inglesa, Youngs e Farrell. A reacção inglesa para garantir o seu modelo de jogo passará então pelo recurso imediato ao bloco de avançados num jogo de colisão que prenderá a mobilidade galesa. E se a defesa galesa do jogo ao pé parece, pela qualidade do seu três-de-trás e pelo facto da habituação do seu formação à defesa de cobertura, ter capacidades de oposição eficaz, o jogo deverá decidir-se pela melhor eficácia nos “breakdows” onde rapidez de reutilização de bola será o factor essencial. Barry John não põe qualquer dúvida sobre a vitória galesa e considera que a escolha de Gatland por Anscombe em vez de Biggar para o lugar de “abertura” é a correcta pela sua maior eficácia no jogo-ao-pé e pela imprevisibilidade da sua distribuição.
Mas o jogo será mais complexo do que isto e terá muito a ver com as vantagens que as unidades da primeira-linha, terceira-linha ou três-de-trás possam estabelecer. Estas unidades são de grande categoria — o seu perfil neste 6Nações pode ser visto no quadro abaixo — e têm enorme experiência internacional. A forma como se poderão impôr aos seus adversários directos, terá toda a importância na construção do resultado final.
Um jogo a não perder.
No quadro seguinte podem ler-se os prognósticos para os resultados finais do Torneio.