quinta-feira, 15 de agosto de 2019

DURA LEX SED LEX

Quadro-resumo da aplicação das novas Leis de Jogo sobre a placagem disponível no site da FPR

A tarefa de um árbitro é aplicar as Leis do Jogo. A tarefa dos comentadores televisivos de um determinado jogo é a de analisar se a aplicação arbitral das Leis do Jogo foi a correcta ou se houve erro ou omissão. A opinião sobre a bondade, eficácia ou propósito das Leis de Jogo definidas, tendo o seu lugar adequado noutros espaços e noutros momentos, deve — para que não fiquem dúvidas aos espectadores — ser sempre enquadrada pela análise efectiva da decisão do árbitro.

Vem isto a respeito da expulsão — cartão-vermelho —de Scott Barrett* no último Austrália-Nova Zelândia a contar, simultaneamente, para o Rugby Championship e para a Bledisloe Cup.

A World Rugby definiu alterações às regras da placagem no sentido de proteger a integridade física dos jogadores e que se encontram resumidas no quadro acima — tradução portuguesa da responsabilidade da FPR do quadro-resumo oficial definido pela World Rugby.

Tanto quanto julgo, este preceito legal teve como principal razão a perigosidade constante da placagem-a-dois onde o 2.º jogador entra — para manter as mãos livres para a captura da bola — em contacto com o portador através apenas do ombro. E muitas vezes, porque o portador se baixou para suportar a 1.ª placagem, atingindo o adversário na cabeça. O que significa, pela brutalidade da pancada, um perigo real para o portador da bola.

Na situação do referido jogo, o árbitro francês Jérôme Garcés seguiu o protocolo recomendado. Considerando que houve contacto — e houve! — do ombro de Scott Barrett com a cabeça ou pescoço do “capitão” australiano, Michael Hooper, seguiu — ponto 2 do quadro — o determinado: cartão-vermelho, equivalente a expulsão. E garantiu, com consulta ao TMO, a inexistência de factores atenuantes.

A esta decisão correctíssima, porque de acordo com as actuais Leis do Jogo, não se pode dizer ou escrever mais do que o que fez Oliver Trenchard no diário inglês The Guardian: Jérôme Garcés, seguindo as estritas leis da World Rugby sobre o contacto, em jogo, de cabeça, ficou com pouca margem que não expulsar o nº 4 da Nova Zelândia.(tradução livre). Sam Bruce, editor associado do site ESPN, não diz diferente

Para além da contestação, expectável, da comunicação social neozelandesa, o treinador da Inglaterra, Eddie Jones, utilizando o exemplo desta acção do árbitro, considerou — tendo presente o próximo Mundial — que a nova lei não faz sentido (pudera, o seu “capitão” Owen Farrell é “especialista” nestas cargas de ombro) porque, por um acidente casual, uma equipa pode ficar reduzida em número e sujeita ao desequilíbrio.


Existem outras opiniões discordantes sobre o assunto. Por exemplo, o treinador do Gloucester e antigo treinador dos Lions, Johan Ackerman, embora considerando que a Lei existe para proteger o jogador e sendo uma questão da sua integridade, não se podendo assim acusar os responsáveis por implementarem regras, propõe como alternativa o recurso a  um cartão de 20 minutos, verificando posteriormente o castigo a aplicar.

Ou seja, em vez de uma expulsão imediata por anúncio do cartão-vermelho, recorrer para estes casos
de contacto ombro-cabeça a um cartão-laranja que obrigue à retirada para o banco-do-pecador por um período de 20 minutos (o dobro do cartão-amarelo). O que, podendo ser uma solução, deveria, dada a perigosidade da situação, ser aplicada apenas, penso, se existirem factores atenuantes que diminuam a responsabilidade do placador.

No entanto, o mais provável é que não haja — pelo menos até ao Mundial — quaisquer alterações e é real a necessidade de jogadores, treinadores e árbitros se adaptarem ao rigor destas novas Leis do Jogo. Em Portugal também tem que haver essa adaptação cabendo aos árbitros um papel fundamental
neste aspecto de protecção da integridade física dos jogadores. E a intenção não é medida atenuante...

* Scott Barrett foi castigado com 3 semanas de suspensão pelo órgão disciplinar da SANZAAR

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