O jogo do fim-de-semana foi o Gales-Inglaterra e a vitória de Gales foi formidável: aproveitaram as oportunidades, bateram-se em cada milimetro de terreno e tiveram nos seus placadores a defesa do seu território — dos seis primeiros lugares dos placadores do Torneio até agora disputado, quatro pertencem a galeses com direito aos três primeiros lugares (Tipuric, Faletau, o capitão Wyn Jones e o pilar Tomas Francis no quinto posto) com uma média de 16 placagens por jogo. E a defesa colectiva de Gales esteve muito bem, sujeitando os ingleses a uma enorme pressão que mostraram uma enorme dificuldade para ultrapassar e que os levou a cometer 14 faltas. Algumas delas feitas nos reagrupamentos pela necessidade de atrasar a saída das bolas e conseguir tempo de reorganização dos desequilíbrios. Ganhando por 40-24 a equipa de Gales deu uma prenda inesquecível para o seu centenário George North..
Apesar da polémica que se criou em torno de duas decisões, com chamada ao TMO, do árbitro, o francês Pascal Gauzere — que se esqueceu de reparar nos quase constantes fora-de-jogo do ponta-de-lança da defesa inglesa pelas linhas atrasadas — Gales dominou a maior parte dos aspectos do jogo – basta ver as estatisticas com 55% de domínio de posse e de território que se traduziram em 4 ensaios contra os dois ingleses.
No que diz respeito à polémica sobre a arbitragem e se concordo que terá havido alguma precipitação do árbitro a declarar “time on!”, também considero que se Biggar fez o que está autorizado a fazer — jogar de imediato após a ordem do árbitro e fazendo, aliás, um pontapé de notável precisão para Adams marcar— os jogadores ingleses presumiram o pontapé aos postes galês e não verificaram os sinais do árbitro. Coisa pouco admissível neste nível competitivo onde, como o bater das asas da borboleta, o menor dos erros pode ter grandes consequências.
Quanto ao ensaio de Lian Williams e apesar das vozes que declaram — entre os quais Nigel Owen com quem não estou, de novo, de acordo — que foi um adiantado sem margem para dúvidas, eu acho que não — voltarei ao assunto em próximo post. Rees-Zammit tentou captar a bola com a mão direita, tentando, num movimento imediato, controlá-la também com a mão esquerda. A bola caiu e bateu na perna de Rees-Zammitt e foi para trás para bater noutra perna, a de um defensor inglês, que a lançou para a frente. A partir desse momento não há nem adiantado nem hipótese de fora-de-jogo de Lian Williams. E a atenção e rápida reacção deste, permitiu o ensaio...
Com esta vitória Gales conquistou a Triple Crown e abre uma estrada que o pode levar ao Grand Slam. E fez de novo acreditar que pode ter uma equipa capaz para 2023.
No Itália-Irlanda, para além de nova demonstração das fragilidades italianas, o mais interessante — e importante — foi o árbitro, o francês Mathieu Raynal, dizer, logo no princípio de jogo e em alto e bom som, que não iria admitir que os jogadores à frente do chutador não parassem e continuassem a correr no encalço da bola. De facto tem havido uma enorme permissividade, nomeadamente em Portugal, neste aspecto do jogo, colocando o três-de-trás defensivo em pior situação do que aquele que normalmente estão. Assinalar e corrigir, libertando indevida pressão, melhora o jogo e estabelee disciplina — pena é ver-se pouco...
Acima de tudo, neste fim-de-semana, recorde-se, pelo que representam, as palavras do capitão e do treinador da Inglaterra quando lhes foi pedido comentário sobre a arbitragem. Owen Farrell, o capitão, disse, ainda dentro do campo, que a sua focagem, a focagem da sua equipa, se centra naquilo que podem controlar e por isso não discutiam as decisões do árbitro. Mais tarde, respondendo a jornalistas, disse: “Não vale a pena falar disso neste momento. Isss é para outras pessoas falarem. Talvez tivessem havido decisões duras mas nós devíamos ter sido suficientemente bons para a sultrapassar.” Por sua vez Eddie Jones, o treinador, respondeu assim aos jonalistas: “Foram grandes decisões, nós não podemos debatê-las — nós não estamos autorizados a debatê-las. Tudo o que ganharia com isso seria uma multa e isso não iria ajudar seja quem fôr”.
Derrotados, possivelmente achando-se injustiçados mas mantendo a dignidade e a compostura que dizemos enquadrar o rugby. Uma boa lição a mostrar, de facto, diferenças e a dignificar um comportamento desportivo.