Como é normal nestas situações o relatório do árbitro relatou os factos ocorridos e, por isso, não me surpreenderam as 12 semanas de suspensão preventiva que li no Boletim Informativo nº 34.
Imagine-se a indignada surpresa quando, ao ler o Boletim Informativo nº35, dei com a absolvição de Rebello de Andrade. Que raio se passou? Que explicação existe para se voltar atrás — tanto quanto sei não houve qualquer alteração do relatório do árbitro que manteve a versão dos factos. Fui ver de novo o momento televisivo correspondente e não fiquei com dúvidas: houve uma agressão com a cabeça do jogador de Agronomia ao jogador do CDUP que ficou a recuperar estendido no chão, o fisioterapeuta limpou-lhe a cara, o árbitro mostrou o cartão vermelho, o jogador saiu e o jogo continuou com Agronomia com menos um jogador.
Ouço dizer que tudo voltou atrás porque o visível agredido terá declarado que não terá existido qualquer cabeçada. Difícil negação de uma evidência…
Havendo o relatório do árbitro — que aliás é um árbitro experimentado e internacional — parece-me leviana a atitude do Conselho de Disciplina: então não podem deitar um olho ao vídeo para confirmar a realidade da situação? Ou perguntar ao jogador expulso que, rigorosamente, sabe o que fez?
E o que resta da situação é simples de definir: o agressor é ilibado, o agredido não o foi e o árbitro vê-se dado publicamente como negligente e precipitado…
… e das duas, uma: ou não houve nenhuma cabeçada e o jogador do CDUP, numa atitude claramente anti-desportiva, atirou-se para o chão para enganar o árbitro e o levar à expulsão de um jogador adversário desvirtuando assim a verdade desportiva do jogo; ou houve, como houve, cabeçada e o jogador em causa— se fôr verdade o que corre — terá mentido na sua declaração. O que, em qualquer dos casos —considerando(!) que não houve qualquer agressão — é eticamente grave e deveria ser sujeito à abertura de um inquérito por parte do Conselho de Disciplina. Porque esperam?
O Rugby é um jogo com valores —Integridade, Compromisso, Solidariedade, Disciplina, Respeito — como se define no Código do Jogo que integra as Leis do Jogo e não pode ser subvertido por distrações ou menor preocupação. Porque na situação que se relata não houve preocupação pela Disciplina, não se teve em atenção o Respeito devido ao árbitro e a espectadores e deixou-se de lado a exigível Integridade. Esquecendo-se, pelos vistos, que o Rugby e a Ética Desportiva devem andar de braço dado.
E o que resulta de tudo isto não é mais do que a ideia, para o público em geral, que a diferença no Rugby de que tanto pretende fazer-se valer, está apenas nas palavras e não nos actos… que afinal, mostram, como noutros, que os interesses falam mais alto.
E porque o Rugby não pode, por razões éticas e de atractividade, deixar-se enrolar nesta imagem de marca, uma rápida e clara explicação, mais do que nunca e em nome da transparência, é exigível!