quarta-feira, 5 de maio de 2021

A VERDADE DESPORTIVA EXIGE TRANSPARÊNCIA

O cartão vermelho em foto de Carlos Baptista

Assisti, naturalmente pela Rugby TV, ao jogo CDUP-Agronomia da 5ª jornada do Grupo do Título da Divisão de Honra, isto é, da prova mais importante do calendário rugbístico nacional. E vi o cartão vermelho mostrado pelo árbitro, Pedro Mendes Silva, ao jogador da Agronomia José Maria Rebello de Andrade. Cuja razão esteve numa cabeçada, claramente vista de que resultou um corpo estendido no chão — Pedro Cordeiro do CDUP — um fisioterapeuta a limpar o que seria, provavelmente, sangue da cara do jogador portuense e o auxiliar do árbitro — no caso, José Luís Vareta — a mostrar-se muito preocupado com o sucedido. E vi ainda Rebelo de Andrade, com certeza já arrependido como veio a manifestar posteriormente, a aproximar-se do jogador caído e procurar, numa atitude de decência, saber do seu estado. E vi-o a ser chamado pelo árbitro que lhe mostrou o “vermelho” e a sair do terreno-de-jogo com a compostura de quem reconhece o disparatado acto que cometeu. 

Como é normal nestas situações o relatório do árbitro relatou os factos ocorridos e, por isso, não me surpreenderam as 12 semanas de suspensão preventiva que li no Boletim Informativo nº 34.


Imagine-se a indignada surpresa quando, ao ler o Boletim Informativo nº35, dei com a absolvição de Rebello de Andrade. Que raio se passou? Que explicação existe para se voltar atrás — tanto quanto sei não houve qualquer alteração do relatório do árbitro que manteve a versão dos factos. Fui ver de novo o momento televisivo correspondente e não fiquei com dúvidas: houve uma agressão com a cabeça do jogador de Agronomia ao jogador do CDUP que ficou a recuperar estendido no chão, o fisioterapeuta limpou-lhe a cara, o árbitro mostrou o cartão vermelho, o jogador saiu e o jogo continuou com Agronomia com menos um jogador.


Ouço dizer que tudo voltou atrás porque o visível agredido terá declarado que não terá existido qualquer cabeçada. Difícil negação de uma evidência…




Havendo o relatório do árbitro — que aliás é um árbitro experimentado e internacional — parece-me leviana a atitude do Conselho de Disciplina: então não podem deitar um olho ao vídeo para confirmar a realidade da situação? Ou perguntar ao jogador expulso que, rigorosamente, sabe o que fez?


E o que resta da situação é simples de definir: o agressor é ilibado, o agredido não o foi e o árbitro vê-se dado publicamente como negligente e precipitado… 


… e das duas, uma: ou não houve nenhuma cabeçada e o jogador do CDUP, numa atitude claramente anti-desportiva, atirou-se para o chão para enganar o árbitro e o levar à expulsão de um jogador adversário desvirtuando assim a verdade desportiva do jogo; ou houve, como houve, cabeçada e o jogador em causa— se fôr verdade o que corre — terá mentido na sua declaração. O que, em qualquer dos casos —considerando(!) que não houve qualquer agressão — é eticamente grave e deveria ser sujeito à abertura de um inquérito por parte do Conselho de Disciplina. Porque esperam?


O Rugby é um jogo com valores —Integridade, Compromisso, Solidariedade, Disciplina, Respeito — como se define no Código do Jogo que integra as Leis do Jogo e não pode ser subvertido por distrações ou menor preocupação. Porque na situação que se relata não houve preocupação pela Disciplina, não se teve em atenção o Respeito devido ao árbitro e a espectadores e deixou-se de lado a exigível Integridade. Esquecendo-se, pelos vistos, que o Rugby e a Ética Desportiva devem andar de braço dado.


E o que resulta de tudo isto não é mais do que a ideia, para o público em geral, que a diferença no Rugby de que tanto pretende fazer-se valer, está apenas nas palavras e não nos actos… que afinal, mostram, como noutros, que os interesses falam mais alto. 


E porque o Rugby não pode, por razões éticas e de atractividade, deixar-se enrolar nesta imagem de marca, uma rápida e clara explicação, mais do que nunca e em nome da transparência, é exigível!


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