terça-feira, 24 de outubro de 2023

UM JOGO DE MOVIMENTO E OUTRO DE PONTAPÉS

A Nova Zelândia deu, nestas meias-finais e contra a Argentina, uma lição de rugby de movimento traduzida em 7 ensaios e uma tremenda eficácia de 4,4 pontos por cada uma das 10 entradas na área-de-22. Do lado dos argentinos, com uma bajadita, mais ou menos passada à história, e uma total incapacidade de fazer passes compridos — nos AllBlacks e para uma grande parte dos jogadores fazer passes de 15 a 20 metros parece uma trivialidade — permitiram sempre, mesmo se conseguiam superioridade numérica lateral, que a defesa dos AllBlacks se desdobrasse e tornasse qualquer ruptura como um acidente sem perigo. 

Portanto e em resumo saltou à vista no campo da eficácia um absoluto nulo argentino contra uma notável eficácia neozelandesa que explorava qualquer abertura de intervalo por onde fugia o portador e que — o notável do esquema — era imediatamente apoiado por outros jogadores que tinham detectado na sua leitura a mesma solução para funcionar numa pequena unidade decisória — os militares designam este modelo como “comando de missão” — a sua história vem da utilização pelos prussianos contra as tropas de Napoleão — e que os neozelandeses adoptaram. O que significa em rugby? que o comando e a decisão passam para o portador da bola que deve ser imediatamente apoiado pelo pequeno grupo de apoiantes que, com iniciativa, flexibilidade e mobilidade, de imediato se adaptam à realidade da situação que confrontam, com o objectivo de vencer cada duelo que se apresente ou cada oportunidade que detectem.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

A segunda meia-final entre a Inglaterra e a África do Sul teve 70 pontapés — 41 da Inglaterra com 15 para fora e 29 dos sul-africanos com 10 para fora — num jogo em que a procura da ocupação de terreno foi a constante. E com essa estratégia, a que juntaram 99%  de sucesso na conquista de rucks e 8 turnovers conquistados, os ingleses foram construindo o resultado que chegou, aos 70’, a 15~6 depois de um ressalto fabuloso — a “imitar” Wilkinson — de Owen Farrell. Mas a desintegração da formação-ordenada com 3 penalidades permitiu aos sul-africanos — com uma resiliência extraordinária que os manteve sempre como capazes de alterar o resultado — criar as condições para que Handre Pollard utilizasse a sua capacidade de pontapeador para dar a vitória numérica à sua equipa.

E de um jogo aparentemente ganho — veja-se o valor da sua média no quadro da Análise Estatística — os ingleses regressaram aos balneários a lamentar os erros estratégicos e tácticos cometidos no quarto final do jogo. Um erro estratégico que me pareceu, embora crasso, evidente foi o facto de nos 15-20 minutos finais o treinador inglês, Steve Borthwick, não ter feito entrar George Ford— só o fez em cima do final do jogo, aos 78’ — para poder contar com dois ressaltadores dentro do campo e assim criar um enorme problema defensivo aos sul-africanos. Como erros tácticos — fruto provável de enorme incapacidade — o facto de em vez do recurso ao canal 1, o canal rápido, da formação-ordenada procurara manter a bola no seu interior para o péssimo resultado global de 43% de sucesso. E num jogo aparentemente ganho, acabar por perdê-lo pela diferença de um ponto é desolador.

Note-se no entanto que o resultado — para as previsões que existiam — constitui para os ingleses uma demonstração de capacidades que a inteligência táctica colocada em campo conseguiu operar. Se péssimo no afastamento da final, foi bom no retorno competitivo.

Nota: a World Rugby decidiu, para além do aumento de provas (confirmação da Nations Cup com 12+12 equipas em duas divisões) que possibilitem um maior número de contactos internacionais, que a fase final do Mundial de 2027 será disputada por 24 equipas em 6 grupos de 4 equipas seguidos de oitavos-de-final  (apuramento dos 4 primeiros e segundos e dos 4 melhores terceiros), passando para 7 semanas de competição e com a garantia que o sorteio se fará o mais tarde possível para garantir o acordo com a competitividade mundial.

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