quarta-feira, 4 de outubro de 2023

INGREDIENTES: CONDIÇÃO FÍSICA E CULTURA TÁCTICA

Sendo o rugby um desporto colectivo de combate com o propósito de marcar mais pontos do que o adversário mas não podendo a bola ser passada para a frente a não ser através de pontapés e estando a área-de-ensaio lá ao fundo, é óbvio que, para o sucesso de uma equipa, é necessário ter uma estratégia definida para a conquista do terreno. Mas para isso, porque existe a placagem que permite derrubar o portador da bola, não basta escolher o caminho directo e é preciso usar a inteligência. O que implica o domínio de culturas tácticas individuais e coletivas que possam tornar eficaz a estratégia definida.


Esta proximidade ao combate torna o colectivo e as suas interacções na principal arma de diferenciação entre as duas equipas em confronto. O melhor colectivo, o mais eficaz, vence no final porque no rugby é preciso que haja um comprometimento entre todos e um duro trabalho comum que possa construir uma confiança alicerçada na técnica de cada um e que permita tomar a iniciativa e assumir o risco. O que determina que a cultura táctica individual e colectiva seja um factor determinante para garantir a eficácia da exploração das vantagens conseguidas, avançando no terreno para dominar a zona vermelha vizinha da área de ensaio.


Não chega portanto e apenas a atitude, a vontade de vencer, a coragem de enfrentar os momentos mais duros, É preciso saber o que fazer em cada momento e que esse saber seja, simultaneamente, partilhado pelo todo que é uma equipa.


 Nesta 5ª jornada, última da fase de apuramento deste Mundial 2023 que determinará, nos oito jogos da jornada, os seis quinzes que se juntarão aos já apurados, Gales e Inglaterra. E serão as equipas mais colectivas, que melhor expressão táctica demonstrem, que o conseguirão. É que muitos dos erros que se verificam não são erros técnicos individuais, mas erros de desentendimento colectivo — a título de exemplo e apesar do seu movimento estratégico atractivo, os resultados de Portugal que não conseguiram traduzir-se em vantagens classificativas, ficam mais a dever-se à falta de articulação táctica de movimentos e decisões do que a erros técnicos.

No Grupo A, a França, então já conhecedora do resultado dos neozelandeses, limitará o seu desgaste frente à Itália para garantir o 1º lugar do Grupo, fugindo assim ao primeiro classificado do Grupo B onde uma “final” Irlanda-Escócia — à Irlanda bastará a vitória ou o bónus defensivo — determinará, os eleitos num jogo que tem nos escoceses com 143 defensores ultrapassados, 44 offloads e 635 passes realizados e uma taxa de sucesso de 89% de placagens, um adversário nada fácil num jogo a não perder. A Nova Zelândia, do mesmo Grupo A, detendo a maior eficácia entre acessos à zona vermelha e marcação de pontos e com 49 quebras-de-linha-defensiva, não vai permitir, com certeza, qualquer leviandade ao Uruguai.


No Grupo C, joga Portugal que tem em Samuel Marques o maior passador do Mundial com 184 passes, defronta Fiji — com um sucesso de 100% nas formações-ordenadas e a maior capacidade média de colisões dominantes com 44,3 por jogo, mas também sendo a equipa mais castigada com 24 penalidades  obrigada a conquistar um ponto para garantir a continuação na prova. Para Portugal, com a dificuldade de apenas conseguir uma média de reciclagem da bola nos rucks de 4,10 seg. e com uma eficácia de 1,44 pontos para 9,3 entradas na zona vermelha, a difícil e dependente tarefa de ultrapassar a Geórgia e assim corresponder à simpatia que tem granjeado pelo universo oval, exige uma vitória ou um bónus defensivo cuja eficácia dependerá da ajuda do apurado Gales. No Grupo D uma outra “final” entre o Japão e Argentina ditará o quinze que acompanhará ingleses na passagem aos quartos-de-final.


De acordo com as previsões resultantes do posicionamento no ranking — ver quadro — os quinzes que passarão aos quartos-de-final, serão: França e Nova Zelândia no Grupo A, Irlanda e África do Sul no Grupo B, Gales e Fiji no Grupo C e Inglaterra e Argentina no Grupo D. 


Seja como fôr, as vitórias sorrirão aos quinzes que melhor demonstrem, para além de uma capacidade física elevada, o domínio na utilização, no tempo adequado, dos seus conhecimentos tácticos e da articulação colectiva que permitam a criação e exploração de vantagens. Ou seja, o sucesso será para o colectivo que melhor leia o desenvolvimento do jogo que passa na sua frente. Os outros doze, voltarão para casa.

                                                              (Versão do texto publicado no Público a 4 de Outubro de 2023)

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