A Geórgia das 1as partes e dos três minutos finais, voltou, em duas vezes consecutivas, a colocar Os Lobos em má situação: na primeira roubando-lhes a vitória aos 78’, na segunda, conseguindo um ponto de bónus defensivo aos 80’, colocando-se à frente de Portugal e obrigando os portugueses a resultados muito difíceis para que não seja os últimos do Grupo.
Com o resultado de ontem, a Austrália, para continuar em prova, necessita de vencer Portugal com um ponto de bónus e pelo maior número de pontos de jogo possíveis e na esperança que Portugal contenha Fiji no último jogo da fase de apuramento do Mundial. E Portugal, para que não seja o último do grupo necessita de pontos de classificação e pontos de jogo no mínimo um ponto de bónus defensivo, esperando que Gales seja capaz de um resultado com grande diferença. Enfim, um Grupo C que, inicialmente parecia ter os seus dois primeiros definidos mas que acabou por encontrar um equilíbrio de resultados que deixou tudo em aberto e na dependência uns dos outros com excepção de Gales que se encontra já classificado depois das vitórias sobre a Austrália e Fiji.
E que pode fazer hoje o XV de Portugal? O algoritmo atribui-lhe uma derrota pela diferença de 14 pontos o que, se fôr o resultado final, não lhe confere o desejado ponto de bónus defensivo e que atira o seu marcados/sofridos para uma relação de 34 pontos negativos de jogo contra os actuais 25 negativos da Geórgia. Pode, portanto, haver luta até ao último dia pela fuga ao último lugar do Grupo — com a vantagem de Portugal jogar depois de conhecer o resultado de Gales contra a Geórgia…
Antes do mais há que reconhecer que a Austrália, embora ocupando o seu pior lugar de sempre, 10º, no ranking WR continua a ser um dos grandes do rugby mundial e, embora seja uma equipa internacionalmente inexperiente (396 internacionalizações contra 430 dos jogadores portugueses) tem os hábitos competitivos necessários para se impôr contra as equipas, como é o caso, do Tier 2. Lembre-se que Portugal jogou, na preparação deste Mundial e no final de Agosto, contra a Austrália A, equipa que não apresentou nenhum jogador que forma a equipa de hoje, e perdeu por 30-17 e a Austrália de hoje derrotou a Geórgia por 35-15. Portanto nada de optimismos exagerados e não exijámos aos Lobos uma normalidade de resultados que só a casualidade permitirá atingir.
Um pouco mais compacta, ligeiramente mais pesada no bloco de avançados, com a mesma média de idades, aparentemente nada parece distinguir as duas equipas. O mesmo nos dá a entender o gráfico da comparação de capacidades — embora se deva lembrar que a construção foi feita sobre adversários diferentes deste Mundial — onde em nenhum dos domínios analisados existe vantagem australiana. Mas há diferenças e grandes entre as duas equipas que dizem respeito aos hábitos competitivos de cada jogador. E isso pesa e tende a fazer-se sentir na composição do resultado final.
Mas grave é o facto da World Rugby vir, mais uma vez, demonstrar a sua falta de atenção e respeito ao nomear, esquecendo as obrigações da mulher de César e sob o manto do “no rugby somos diferentes” — o árbitro georgiano, Nika Amashukeli (um bom árbitro e que não tem nenhuma culpa no assunto) para arbitrar este jogo do Grupo onde portugueses e georgianos conflituam. Veja-se: quando Portugal entrar em campo já saberá da importância do resultado do seu jogo para a classificação final — nenhuma, se Fiji vencer com ponto de bónus, muito grande se Fiji apenas vencer, abrindo uma porta para a decisão final no jogo entre Fiji e Portugal. No entanto ainda há aqui a questão do prestígio das duas equipas europeias que pretendem evitar o último lugar do grupo. E isso pode passar, encontrando-se, as duas equipas separadas por 5 pontos na relação marcados/sofridos e com a vantagem de 1 ensaio para os georgianos, pelo controlo dos resultados e pela possibilidade de pontos de bónus defensivos. Conhecida, repete-se, a situação em que se encontrará a Geórgia antes de iniciar o jogo Austrália-Portugal, as decisões do árbitro georgiano podem ser olhadas como defensoras do interesse georgiano. E isto não se faz! Não se coloca em causa a integridade de um árbitro por erro de perspectiva, desatenção, falta de respeito ou ignorância pura e simples das mais elementares regras de equidade desportiva.
As vantagens pertencem obviamente aos australianos mas Os Lobos, mantendo a sua confiança no jogo-de-movimento, utilizando a sua capacidade de jogo-de- passes, procurando ultrapassar a linha-de-vantagem e garantindo o apoio adequado para que o tempo de reciclagem nos reagrupamentos seja curto e em tempo útil e utilizando eficazmente o jogo-ao-pé e a eficiência defensiva que nos têm mostrado, podem de novo fazer valer as suas já reconhecidas qualidades de jogo e criar o ambiente, para, independentemente do resultado final, sair do campo com satisfação e orgulho por deixarem a sua camisola numa posição de agrado geral. E nós, espectadores, não lhes exigindo tarefas que ultrapassam a sua condição, guardaremos na memória a satisfação e o orgulho pelo comportamento dos nossos Lobos.
Contra um adversário desta dimensão o que pretendemos é que a atitude, a nobreza, a entrega ao combate, o espírito de união do colectivo de Os Lobos deixem a sua marca indelével no relvado do Geoffroy-Guichard em Saint-Étienne. Bom jogo!