Sobre o primeiro aspecto, jogar uma meia-final de um jogo entre equipas do Tiers 2 Europeu sem os jogadores titulares das equipas francesas onde jogam, significa surgir em campo um grupo de jogadores sem coesão, sem hábitos competitivos de bom nível e mesmo com uma fraca relação de hábitos comuns — veja-se que os dois médios, Vareiro e Camacho, apenas jogaram, até este confronto com a Espanha, alguns minutos conjuntamente. E o resultado desta inconsistência foi evidente: nada de riscos e quase nenhuma cumplicidade.
No jogo, Portugal mostrou as enormes dificuldades estratégicas do rugby português — falta de jogadores técnica e tacticamente preparados como resultado de um campeonato sofrível, como aliás demonstrei nas análises Noll-Scully que realizei. Então porque não se altera, perguntar-se-á? Porque os clubes parecem preferir estes jogos de pouca qualidade a um campeonato que obriga a alterar métodos de formação e de treino. Ou seja, que se perceba que a Divisão de Honra não é um jogo de carácter social — ou de tios como se diz na caricatura — mas sim um jogo que pertence ao domínio da Alto Rendimento. E entre o jogo-social e o jogo de Alto Rendimento há profundas diferenças e nós não queremos o esforço a que a diferença obriga.
Para jogar neste nivel é necessário garantir o correcto domínio dos princípios fundamentais. Coisa que não se viu. O ataque — “assustado” pela pressionante subida da defensiva espanhola — jogou sem velocidade e com permanente cedência de terreno — em 215 passes conseguiram 54 ultrapassagens da linha-de-vantagem e 8 rupturas (a Espanha com 150 passes, ultrapassou a linha-de-vantagem 88 vezes e marcou 3 ensaios) desperdiçando nesta vantagem, um princípio essencial que o colunista rugbístico, Spiro Zavos, define assim “Uma das grandes verdades do rugby é que a equipa que conquista a linha-de-vantagem é a equipa que ganha o jogo.”. Viu-se… a Espanha com mais ultrapassagens da linha e embora a perder no número de bolas conquistadas, ganhou o jogo sem grandes problemas — cerca dos 60´vencia por 36-17.
Neste jogo, o conjunto de jogadores portugueses mostrou ou desconhecimento das Leis do Jogo ou a falta da concentração necessária, inadmissível num jogo desta natureza — foram feitas penalidades sem sentido que custaram o espantoso número de 21 pontos a que se juntaram 3 cartões amarelos.
Nick Bishop chama a atenção para um importante valor estatístico: “o número de rupturas que são convertidas em ensaios”. Portugal com 8 rupturas para 4 ensaios e ultrapassando 32 defensores e a Espanha com 9 rupturas para 3 ensaios para 14 defensores ultrapassados. Como se pode perder com esta vantagem? Não conseguindo convertê-la em activos — apenas 45% de posse de bola e 44% de domínio territorial. Como?! Por má conquista da bola — maus lançamentos nos alinhamentos que não permitiram conquistas de bom uso, formações-ordenadas com más posições de corpos, colisões mal preparadas a criar rucks de uma demora indecorosa de reutilização — por demasiados passes e corridas laterais sem ultrapassagem da linha-de-vantagem, por falta de apoio útil com linhas de corrida adequadas — muitas vezes os possíveis receptores em vez de entrarem no passe como é tacticamente correcto, afastavam-se do portador, dificultando o exercício do passe — por mau jogo ao pé e por má leitura do jogo. Mas muito principalmente por indisciplina injustificável!
No combate, ensinou o Condestável Nuno Álvares Pereira:” a Manobra prevalece sobre a Choque” — propósito que os jogadores portugueses mostram desconhecer em absoluto, passando o tempo a responder ao passe com a procura imediata da colisão e esquecendo a manobra que desequilibra a defesa, abrindo intervalos que permitirão a continuidade do movimento em direcção à área-de-ensaio adversária. Se a isto juntarmos outra incapacidade táctica demonstrável no desconhecimento de fixação dos adversários directos do portador da boa, permitindo assim que a defesa usasse o deslizamento para cobrir a largura de terreno e impedir o avanço poertuguês. Mas marcámos 4 ensaios! Marcámos porque a defesa espanhola, sempre que fixada pelo avanço do ataque português com o apoio necessário não sabia como defender… mas a equipa portuguesa jogou lá atrás, sentada no sofá, mostrando não ter soluções para se opôr à pressão espanhola que deixava espaços profundos abertos mas que. nunca soubemos explorar enquanto estratégia — quem não vê, não lê, não decide…
Como foi possível ver, os jogadores de Portugal falharam a sua missão — baixaram um lugar no ranking WR — como reconheceram o capítão Appleton e o treinador Mannix ao afirmarem que existe uma lição a apreender, podendo assim seguir o conceito de um grande conhecedor dos valores do Desporto, Nelson Mandela, que afirmava: “Nunca perco, ou ganho ou aprendo.”
Espero que aprendam!