sábado, 18 de fevereiro de 2023

DECIDIR JOGAR CÁ OU LÁ

Neste fim‑de‑semana joga-se a última jornada da fase de grupos da Rugby Europe Championship. Depois de dois jogos de evidente desequilíbrio competitivo disputar-se-ão — finalmente — jogos que mostrarão a capacidade real do momento de cada equipa. 
Esta fórmula de disputa do campeonato consegue distorsões na pontuação do ranking que fazem pouco sentido: Portugal que conseguiu 2 vitórias com 119 pontos marcados e 20 sofridos, conseguindo uma diferença de 99 pontos, obteve 00,01 pontos de ranking; a Roménia, também com duas vitórias, marcando 123 pontos e sofrendo 32, numa diferença de 91 pontos, obteve 00,63 pontos de ranking. Ou seja, jogando contra as mesmas equipas, Portugal com um melhor resultado global viu a Roménia aproximar-se em 00,62 pontos de ranking. Critérios…
Mas, amanhã, no Restelo existem possibilidades de reparação. Uma vitória colocará Portugal com 66,62 pontos e, se a diferença fôr superior a 15 pontos de jogo, traduzir-se-á em 66,95 pontos. Está portanto nas nossas mãos afastar da nossa posição classificativa este também mundialista.


De novo se coloca a questão da coesão da equipa. Embora com um número mínimo de 5 para um total de 308 selecções numa média de 21, os jogadores que iniciarão o desafio procedem de 13 diferentes clubes — 3 portugueses e 10 franceses. O que, em momentos de grande pressão, podem traduzir a sua acção num “a ver se” pouco alinhado neste desporto de enorme sentido colectivo onde à informação proveniente de uma leitura comum que permita a adaptação grupal adequada à situação que se enfrenta com recurso aos engodos que, simulando, enganem o adversário a que se tem que juntar a velocidade de corrida e de técnica e de táctica para fazer a diferença final que permitirá a vantagem.
A esta proveniência clubista e com a falta do capitão Appleton, juntam-se 40% de jogadores não formados em Portugal, provenientes, portanto, de uma linguagem formativa distinta  e que pode não ajudar quando o espaço e o tempo diminuem e a exigência do melhor entendimento aumenta.
A vitória de Portugal, neste jogo entre mundialistas, significará que o jogo das meias finais contra o segundo classificado do Grupo A (Espanha provavelmente) será jogado no território português. Em caso de derrota o jogo das meias-finais será disputado muito possivelmente na Geórgia — o mais que provável vencedor do Grupo A. O que faz uma enorme diferença para o acesso às finais que se disputarão em Badajoz…
…em casa, portanto. Vamos lá à vitória!


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

FOI MESMO UM GRANDE JOGO

Como aconteceu na Super Cup onde os Lusitanos ficaram colocados no Grupo competitivamente mais fraco — com um fraquíssimo índice competitivo em relação ao outro grupo — também Portugal, nesta invenção muito pouco competitiva que a Rugby Europe criou, aconteceu o mesmo: os nossos adversários, exceptuando a Roménia, não têm qualidades para participar neste quadro de duas equipas nos primeiros vinte lugares do ranking. E são tão fracos que em dois jogos, sofreram 38 ensaios — a Polónia, 22 e a Bélgica, 16. No outro grupo, o Grupo A, pelo menos, para além da Geórgia e Espanha, estão também os Países Baixos que se mostram um pouo mais competitivos, sofrendo 9 ensaios. Repare-se que as quatro melhores equipas sofreram uma média de 3 ensaios — o que ilustra cabalmente o desequilíbrio e demonstra que o limite dos limites para este torneio deveriam ser 6 equipas. Porque o torneio assim organizado, obriga a duas jornadas de passeio sem qualquer interesse competitivo — e não vale apena argumentar que assim são permitidas experiências e novas utilizações porque nenhuma delas serve para coida alguma. No Desporto, para que os jogos possam servir de medida, é obrigatório que haja um mínimo de equilíbrio. E quando não há, é tempo perdido. Como foram estas duas primeiras jornadas… que só existem quando se deixa vingar uma mania habitual — que é a jogar com os mais fortes que se aprende. Não é!…ou só se fôr para aprender a contar.

 

No Seis Nações a conversa é naturalmente outra. Mesmo se num ou outro jogo a diferença de resultado fôr grande — como aconteceu no Escócia-Gales — mas, mesmo com essa diferença os escoceses foram obrigados a dar o seu melhor e a mostrar-se como potenciais candidatos à vitória final no torneio.


O jogo Irlanda-França foi notável com os seus 46 minutos de tempo efectivo de jogo (tempo em que a bola pode ser disputada). Com 5 ensaios (4 da Irlanda) e uma intensidade notável correspondeu absolutamente às expectativas de disputa entre os dois primeiros classificados no ranking mundial. E meteu mesmo polémica sobre as decisões arbitrais de Wayne Barnes: o cartão “amarelo” para o pilar francês Uini Atonio (que bem podia ter sido “vermelho”…) e o ensaio de James Lowe (excelente movimento colectivo para um movimento final espectacular). Vale que os próprios franceses — membros da equipa e jornalistas especializados — não consideram que a derrota se deva ao árbitro — que, diga-se, não viu, por não lhe ter sido mostrada, a única imagem que, no caso, poderia levantar dúvidas — mas que aconteceu porque a equipa irlandesa se mostrou superior nos dómínios táctico-estratégicos. 
A equipa de Gales mostrou-se de novo muito abaixo do seu normal mas a explicação deste mau momento chegou: problemas de garantias de contratos com desconhecimento do futuro, coloando a cabeça dos jogadores muito fora do campo de jogo.. E a federação galesa, depois dos problemas que mostrou e que levaram à saída do presidente, mostra um outro tipo de dificuldades que levarão o seu tempo a resolver…e o Mundial está aí a 8 meses de distância…

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

2ª JORNADA E UM GRANDE JOGO NO 6 NAÇÕES


No Rugby Europe Championship serão quatro jogos entre os mais fortes e os mais fracos não se prevendo nenhuma surpresa — ganham os visitantes…
Os Lobos jogam na Polónia com algumas alterações em relação ao jogo contra a Bélgica: retornam os habituais Mike Tadjer e Samuel Marques a que se juntam o recuperado David Wallis e o defesa Simão Bento. No banco ficará o Nuno Sousa Guedes e voltar-se-á a ver (já não era sem tempo…) o Pedro Bettencourt.
Do jogo, para além da vitória, espera-se uma maior coesão colectiva com o apoio a surgir fluido e a eficácia a dar um ar da sua graça.


No 6 Nações um jogo entre os dois melhores qualificados do ranking mundial, a Irlanda e a França, que reune as melhores expectativas. Em Dublin a Irlanda não costuma perder e, se precisa, os espectadores transportam-na à vitória. A França que contra a Itália fez 18 penalidades ou será capaz de se mostrar disciplinada ou não conseguirá impôr-se com o jogo-ao-pé no meio-campo adversário. E com Saxton de retorno, o irlandeses vão pôr a funcionar as suas excelentes linhas atrasadas. Um grande jogo em perspectiva.
Nos outros dois jogos as vitórias dos visitados, Escócia e Inglaterra, não terão, com certeza, grande discussão. Mas o Escócia-Gales deve ser um jogo interessante de ver. 


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

DUAS COMPETIÇÕES DIFERENTES: UMA DA TRETA E OUTRA DE ALTA QUALIDADE

No Rugby Europe Championship se ignorarmos o fraco resultado da Espanha percebemos o desequilíbrio desta competição que, principalmente em ano de Mundial, nunca deveria ser realizada assim. Mas os interesses, mascarados em desenvolvimento dos mais fracos, falam mais alto e cada uma das equipas apurada para o Mundial é obrigada a fazer dois jogos que nem de treino servem.


O XV de Portugal defrontou uma medíocre Bélgica que não tem capacidades para ser adversário à altura. Num jogo cheio de facilidades — os belgas não atacam nem defendem capazmente — os portuguess mostraram as incapacidades habituais e que se lhes conhecem: falta de coesão colectiva, jogando cada um para o seu lado, sem a consistência que permite garantir a eficácia da continuidade do movimento, com constantes passagens pelo chão por falta de apoio atempado e com, como habitualmente, um jogo-ao-pé que não tem qualquer incidência na criação de dificuldades ao adversário. Enfim um jogo desinteressante mas que terá de servir como alerta para uma alteração de processos de treino e escolha de jogadores para que a nossa presença no Mundial possa ter o mínimo da qualidade necessária.

Com jogos entre equipas de tal diferença e em que a intensidade é de muito baixo nível e onde as vitórias, por mais dilatadas que sejam, não conquistam pontos de ranking. Nesta demonstração de desinteresse competitivo deste mero cumprimento de calendário, ganharam todos os visitados e pronto.


No 6 Nações a conversa é totalmente outra com vitórias de todos os visitantes. E em dois dos jogos a incógnita dos vencedores manteve-se até ao final numa demonstração de verdadeiro equilíbrio competitivo — equilíbrio esse que é o factor determinante de uma competição desportiva. 

A Escócia, ganhando em Twickenham, mantendo a posse da Calcuta Cup e subindo dois lugares e ultrapassando a Inglaterra no ranking, conseguiu o melhor (e mais surpreendente) resultado da jornada num jogo com 7 ensaios que vale a pena ver. E a Itália que mostrou uma outra capacidade — radicalmente diferente (17 alterações em 23 jogadores) da que vimos no Restelo contra Portugal — e quase surpreendeu a França, vencedora da época passada e dita principal candidata a vencer o Torneio e até o Mundial e que teve neste jogo a maior das sortes porque, com susto apanhado, terão percebido — a tempo ainda de realizar as modificações necessárias e decidir o tempo e a articulação entre as inovações tácticas da dépossession e répossession bem como eliminar a indisciplina impôr que atingiu o nível assustador de 18 penalidades (10 no seu meio-campo) 1 amarelo e 1 ensaio-de-penalidade contra apenas 7 do seu adversário— que estarão ainda longe de serem verdadeiros candidatos quer ao Torneio quer ao Mundial. 

Quanto a Gales, com o seu rugby a diminuir na qualidade do jogo, restará ainda a esperança que mais tempo com Gatland possa transformar a equipa até ao Mundial… E a Irlanda, que se preparou em Portugal, no Algarve, mostrou porque é a equipa que ocupa o 1º lugar do ranking mundial, fazendo notar as qualidades necessárias para produzir um rugby atractivo e muito eficaz mostrando-se — quer na defesa quer em ataque — no bom caminho para fazer de 2023 um ano importante da sua história

No próximo fim‑de‑semana, com a recepção da França no Aviva Stadium, ficar-se-á com melhor ideia do verdadeiro potencial das duas equipas. E também do real valor da Escócia que recebe Gales. E o Torneio a mostrar-se, pelas expectativas criadas, como uma verdadeira montra internacional, ultrapassando cada jogo o limite dos seus adeptos directos. Uma festa para quem gosta da modalidade.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

COM OS OLHOS NO MUNDIAL

Com os olhos postos no Mundial 2023 as 9 equipas europeias apuradas começam amanhã a disputar o  Rugby Europe Championship e o 6 Nações.

Portugal jogará o RE Championship que apresenta um novo formato: 2 grupos de 4 equipas que apuram as duas primeiras para as meias finais (4 e 5 de Março no campo dos primeiros classificados) e cujos vencedores disputarão a final cabendo aos derrotados disputar o 3º e 4º lugares, ambos em Badajoz a 19 de Março.

Não se pode dizer que esta nova fórmula de disputa seja de grande vantagem para a equipa portuguesa uma vez que, competitivamente, apenas previlegia as equipas mais fracas — três equipas classificadas entre as 20 melhores mundiais e apuradas para o Mundial vão jogar dois dos três jogos do grupo contra equipas próximas do 30º lugar do ranking da World Rugby. Enfim, a competitividade aparecerá nos jogos a eliminar… Sistema parecido já nos aconteceu com o European Super Cup onde os Lusitanos, Para além de terem participado no grupo menos competitivo, tiveram apenas um jogo competitivo na meia-final que, aliás, perderam.  Ou seja, campeonatos organizados para satisfazer interesses e não para melhorar a capacidade competitiva daqueles que têm mostrado resultados capazes.

O primeiro jogo de Portugal será contra a Bélgica — Jamor, 19:00 de amanhã, sábado — equipa que se encontra 12 lugares abaixo de Portugal no ranking da World Rugby possibilitando assim uma previsão de vitória dos Lobos por 26 pontos de diferença. A que se espera que juntem ao resultado a demonstração de melhoria na articulação das mini-unidades da equipa e um melhor aproveitamento táctico do jogo.

Se tudo correr com a normalidade esperada, as meias-finais serão disputadas entre a Geórgia, Espanha, Roménia e, claro, Portugal. Começando então os jogos de qualidade competitiva. E percebo mal que, em ano de Mundial, as três equipas apuradas gastem tempo com jogos em que o desequilíbrio impera. Porque, dado o histórico, qualquer derrota destas 4 equipas será um escândalo — e de pouco vale achar que a Bélgica pode surpreender porque tem … um treinador novo.

Nesta primeira jornada as previsões apontam para uma totalidade de vitórias caseiras com resultados que não deixarão dúvidas sobre a diferença qualitativa entre as equipas e que deverão traduzir-se em pontos de bónus ofensivos nos quatro jogos sem qualquer ponto de bónus defensivo.

O que se espera? Uns Lobos como deve ser e com a esperança de mostrarem progresso na sua forma de jogar: À VITÓRIA!

No mesmo dia joga-se a primeira jornada do 6 Nações que, ao que se ouve, tem na França o principal favorito. Mas é bom não esquecer a Irlanda — Nº1 mundial e que tem um modelo de jogo muito interessante e para o qual — treinadores e jogadores portugueses — deveriam olhar com muita atenção.

Como jogos de maior interesse — a vitória da França em Itália mostra-se uma evidência — o Gales-Irlanda, já sem — como resultado das alterações agora verificadas na direcção da Welsh Rugby Union — o famigerado cântico da Delilah de Tom Jones considerada (e bem!) misógina e sexista — e o Inglaterra-Escócia que terá em disputa a tradicional Calcuta Cup e será realizado em Twickenham onde também não soará o “Swing Low, Sweet Chariot” pela sua proximidade com os do esclavagismo. Valendo mais tarde que nunca, estas decisões demonstram, felizmente, que o Rugby está atento ao Mundo.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A COESÃO É A BASE DO SUCESSO

Ano de Mundial e as competições internacionais aí estão para abrir, para nós espectadores, o apetite e, para os intervenientes, para permitir uma preparação num quadro competitivo de nível elevado — embora não sendo bem verdade para o caso português (mas disso trataremos mais tarde…).

Os Lobos estão apurados para o Mundial — não de forma directa mas, principalmente, pelo disparate inaudito dos espanhóis que nos abriram o caminho para a poule final de apuramento. E aí um empate de ultimo segundo, abriu-nos a porta à segunda presença junto dos melhores.

Enfim, um misto de sorte — a que se acrescenta o convencimento dos americanos —que fez esquecer a perda de jogos nos últimos minutos na fase de apuramento directo. Porque, não fossem os erros elementares — de dentro e de fora do campo — teríamos sido apurados de forma directa e sem as aflições de última hora. E era bom que, para uma presença capaz no Mundial, olhássemos para a realidade das capacidades da equipa e aproveitássemos o tempo para as melhorar tornando a equipa colectivamente mais eficaz. Porque e essencialmente, apenas nos temos mostrado — note-se os 12 ensaios marcados contra o Kenya — capazes contra equipas que não exercem mais do que uma elementar pressão defensiva.

Não vale a pena dizer que fomos formidáveis contra o Japão, contra a Itália ou contra a ArgentinaXV. Primeiro porque não fomos assim tão bons. Voltamos a cometer erros que já deviam estar ultrapassados e mostrámos pouco avanço nas modificações, técnicas e tácticas necessárias. Nomeadamente no grande número de faltas com que nos deixamos penalizar numa indisciplina inadmissível e imperdoável e também na organização do apoio atacante para garantir a continuidade do movimento sem passar pelo chão

Apesar de tudo, conseguimos o resultado necessário contra os USA: empate! Mas se vale a pena aplaudir o resultado, a exibição, a produção ou o desempenho devem servir para reflexão. Porque o sucesso, seja ele qual fôr, deve ser um instrumento de análise tão importante e minucioso como as derrotas.

Sabe-se de ciência feita que a coesão — porque garante a consistência e alinhamento da equipa — é a base do sucesso nos desportos colectivos. Coesão que não diz respeito apenas à interligação de quem está no campo mas também à equipa técnica que os orienta e à restante envolvente de proximidade bem como elementos exteriores que têm influência na sua acção — se os jogadores cometem demasiadas faltas no nível internacional muito se deve à forma de arbitrar portuguesa que parece não estar alinhada com o aplicado nas competições internacionais — maus hábitos não se transformam em virtudes por dá cá aquela palha… E é errado olhar as aparências e não ir ao fundo das questões. E esta equipa, esta selecção, tem — desde os primeiros jogos do apuramento directo que o mostra — uma enorme falta de coesão com os jogadores a mostrarem dificuldades em articular-se uns com os outros, em terem um pensamento comum e sintonizado em cada momento.

O jogo com os USA — apesar da alegria do resultado — é um bom exemplo dessas dificuldades: marcamos um bom ensaio e, depois, pouco ou quase nada fizemos — com excepção da placagem, sector onde estivemos muito bem e com a superioridade necessária para garantir a proximidade do resultado. Mas pouco conseguimos utilizar os nossos trunfos, apesar das 4 rupturas conseguidas.

Inferioridade com excepção de rupturas e placagens a que se junta um domínio territorial e de posse da bola de 47% 

E a falta de coesão da equipa mostrou-se na incapacidade de apoios a alguns movimentos que o nosso notável três-de-trás — Marta, Storti e Guedes — lançou mas a que não se deu a necessária continuidade. Falta de coesão também na constante procura directa da colisão, esquecendo a recomendação de Nuno Álvares Pereira de “no combate fazer prevalecer a manobra sobre o choque”. A procura do fraco adversário também se mostrou pouco colectiva — as dificuldades da terceira-linha em ser o suporte evidente das rupturas e avanços são evidentes — parecendo que cada um fazia por si sem que companheiros o compreendessem ou adivinhassem. O jogo ao pé também não tem propósito: chuta-se a ver se… não há exploração assertiva e adaptada à situação dos espaços no terreno. Veja-se o exemplo exemplar dessa falta de coesão do último momento do jogo — um não viu e outro parecia desinteressado da consequência… e com a vantagem concedida, ler o jogo à procura de uma oportunidade que possa ser eficazmente, é decisivo. Não o fazer significa que a coesão colectiva está limitada e tende ao cada um por si e o ressalto — técnica nada fácil — foi feito no mesmo local da penalidade. Ou seja: sem vantagem… e o “buraco” ali ao lado com um único defensor americano pessimamente posicionado.


É claro que a selecção portuguesa tem um problema de coesão de dificil solução e que exige muito tempo de treino conjunto. E esse problema diz respeito ao facto de a equipa ser constituída por jogadores provenientes de 11 clubes diferentes — 3 portugueses e 8 franceses — com processos de treino, jogo e objectivos muitas vezes distintos.

Se olharmos, por exemplo, para a selecção francesa percebemos que a dispersão por diversos clubes — mesmo sendo todos franceses e com uma base do Toulouse — exige, no claro objectivo de criar a coesão necessária para vencer o Mundial, um substancial aumento do tempo de treino conjunto (ao ponto dos internacionais falharem jornadas do TOP14…). E o número de jogadores também é elevado para que se possam fazer treinos de alta intensidade, sempre superior ao que o jogo exige. E a nós portugueses que jogámos em diferentes equipas de diferentes processos de treino e de jogo, necessidades de encontrar as soluções eficazes no aumento da coesão da equipa. Sendo uma das formas o aumento do tempo de treino colectivo. O que, jogando uns cá e outros lá, não será fácil. Mas é necessário! Ou as vitórias ao melhor nível serão miragens… Por isso os jogos do Rugby Europe Championship que agora se inicia deverá servir para aumentar o grau de colectivismo e de eficácia.

terça-feira, 31 de janeiro de 2023

NO RUGBY A SEGURANÇA DOS INTERVENIENTES É VITAL

Defino o Rugby como escrevo no cabeçalho, um desporto colectivo de combate organizado para a conquista de terreno com o propósito de marcar ensaios e que é jogado por pessoas masculinas e femininas, adultas, jovens e mesmo crianças. E por isso considera-se, como o explícita a World Rugby, a segurança dos intervenientes como um valor essencial e prioritário da modalidade. E nesse sentido, no sentido da sua protecção, vão-se alterando regras…

… como aconteceu na Formação Ordenada com a introdução dos 3 tempos e, até, do pé-à-frente do talonador.

Sendo um desporto de combate onde é permitida a placagem — paragem, com os ombros e braços, do transportador da bola, levando-o ao chão (Lei 14) — o Rugby, iniciando cada movimento com a luta pela posse da bola — exceptua-se a entrega por penalidade adversária ou por pontapé longo sem pressão imediata — e tendo o propósito de marcar ensaios, tem na ultrapassagem da linha-de-vantagem, por quebra da linha defensiva ou pelo seu envolvimento, o objectivo principal da sua movimentação atacante. Sendo o objectivo da defesa impedi-lo, este desporto de evidente e permanente contacto de elevadas quantidades de movimento, necessita de definir formas que impeçam a perigosidade da colisão de ombros, braços ou cabeça com cabeça ou pescoço. E é essa a procura que se tem realizado, alterando as Leis do Jogo, começando por limitar à altura da linha dos ombros a zona de contacto de uma placagem.

Esquema para a tomada de decisão arbitral na carga de ombro ou placagem alta

Quando comecei a jogar aprendi a placar apontando um dos ombros à zona dos calções (apaga a luz que ele tráz no bolso dos calções, ouvia) — portanto abaixo da cintura — e durante anos assim se fez (não me lembro de ter batido na cabeça de um adversário ou que tenha sido atingido por ele, limitando-se o excesso à gravata — braço à volta do pescoço que de imediato levantava um clamor de protestos dentro e fora do campo) e placava-se! levando o adversário ao chão como exige a regra. E lá fora podia assistir-se, a começar pelo 5Nações, a jogos espectaculares de placagens baixas — exceptua-se a mistura de gravata e placagem alta do neozelandês Bryan Williams ao galês John Williams a meio da jogada que proporcionou o célebre ensaio de Gareth Edwards no extraordinário jogo Barbarians-All Blacks que comemorou agora o seu 50º aniversário.

A placagem começou a subir com a ideia de impedir que o transportador passasse a bola — ombros e braços à altura da bola, pretendia-se — e daí foi um saltinho para a introdução do placador assistente — um às pernas e outro à bola — um a obrigar à queda e outro a impedir o passe… E a tendência a fazer subir a linha de ombros e braços do placador, passando-os para cima da bola, acentuou-se. E a cabeça ali tão perto…
A perigosidade aumentou e as lesões graves motivadas por concussões — choque de cabeças ou com os ombros — surgiram, tornando o jogo pouco recomendável.
Face ao panorama, a França, a Nova Zelândia e, agora, a Inglaterra, decidiram, apoiadas na análise científica, experimentar o abaixamento do limite das linhas de placagem. E os resultados têm sido promissores.
Portanto do actual limite da linha de ombros — que se manterá no jogo da élite até pelo menos ao próximo Mundial — passou-se, no nível do rugby amador, para o limite da linha do peito (externo)  que, acredito (se não fôr mais baixa…) não tardará a ser o limite para qualquer jogo de adultos (élite incluída), limitando, para o rugby juvenil, a altura da placagem, isto é, o limite do contacto de ombros e braços, à linha da cintura. 
É como jogar touch-rugby, dizem os assustados das mudanças — deixando-se dominar pelo “as mudanças dão cabo de tudo”… Mas não dão!
Vamos ter um jogo mais seguro — aumentando muito a segurança do rugby feminino — que puderá assim atrair mais jovens e que será tão espectacular como sempre foi, placando mais baixo e abrindo de novo o jogo a um maior movimento da bola — afastando cada vez mais o jogo das paragens permanentes que o aproximam do Rugby de XIII, aumentando a possibilidade de passes, de off-loads e, portanto, permitindo mais quebras de linha.
Mais seguro, mais movimentado, provavelmente mais intenso. Com maiores exigências técnicas e menos chão e também com menos colisões de brutais quantidades de movimento porque haverá uma assimetria na postura dos corpos, o jogo voltará à dominante atacante que o caracterizou desde o início. E a defesa terá que ter nova organização… mais táctica e mais pressionante. E o jogo manterá o seu interesse!
Por cá a mudança, com excepção da Divisão de Honra por aí jogarem os internacionais que irão disputar o Mundial, as mudanças deveriam ser feitas já no final da época — no rugby juvenil poderiam ser realizadas desde já. Por razões de segurança e defesa da integridade física. E de adaptação.
… e não vejo que haja razões para alarme na transformação.

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