quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A COESÃO É A BASE DO SUCESSO

Ano de Mundial e as competições internacionais aí estão para abrir, para nós espectadores, o apetite e, para os intervenientes, para permitir uma preparação num quadro competitivo de nível elevado — embora não sendo bem verdade para o caso português (mas disso trataremos mais tarde…).

Os Lobos estão apurados para o Mundial — não de forma directa mas, principalmente, pelo disparate inaudito dos espanhóis que nos abriram o caminho para a poule final de apuramento. E aí um empate de ultimo segundo, abriu-nos a porta à segunda presença junto dos melhores.

Enfim, um misto de sorte — a que se acrescenta o convencimento dos americanos —que fez esquecer a perda de jogos nos últimos minutos na fase de apuramento directo. Porque, não fossem os erros elementares — de dentro e de fora do campo — teríamos sido apurados de forma directa e sem as aflições de última hora. E era bom que, para uma presença capaz no Mundial, olhássemos para a realidade das capacidades da equipa e aproveitássemos o tempo para as melhorar tornando a equipa colectivamente mais eficaz. Porque e essencialmente, apenas nos temos mostrado — note-se os 12 ensaios marcados contra o Kenya — capazes contra equipas que não exercem mais do que uma elementar pressão defensiva.

Não vale a pena dizer que fomos formidáveis contra o Japão, contra a Itália ou contra a ArgentinaXV. Primeiro porque não fomos assim tão bons. Voltamos a cometer erros que já deviam estar ultrapassados e mostrámos pouco avanço nas modificações, técnicas e tácticas necessárias. Nomeadamente no grande número de faltas com que nos deixamos penalizar numa indisciplina inadmissível e imperdoável e também na organização do apoio atacante para garantir a continuidade do movimento sem passar pelo chão

Apesar de tudo, conseguimos o resultado necessário contra os USA: empate! Mas se vale a pena aplaudir o resultado, a exibição, a produção ou o desempenho devem servir para reflexão. Porque o sucesso, seja ele qual fôr, deve ser um instrumento de análise tão importante e minucioso como as derrotas.

Sabe-se de ciência feita que a coesão — porque garante a consistência e alinhamento da equipa — é a base do sucesso nos desportos colectivos. Coesão que não diz respeito apenas à interligação de quem está no campo mas também à equipa técnica que os orienta e à restante envolvente de proximidade bem como elementos exteriores que têm influência na sua acção — se os jogadores cometem demasiadas faltas no nível internacional muito se deve à forma de arbitrar portuguesa que parece não estar alinhada com o aplicado nas competições internacionais — maus hábitos não se transformam em virtudes por dá cá aquela palha… E é errado olhar as aparências e não ir ao fundo das questões. E esta equipa, esta selecção, tem — desde os primeiros jogos do apuramento directo que o mostra — uma enorme falta de coesão com os jogadores a mostrarem dificuldades em articular-se uns com os outros, em terem um pensamento comum e sintonizado em cada momento.

O jogo com os USA — apesar da alegria do resultado — é um bom exemplo dessas dificuldades: marcamos um bom ensaio e, depois, pouco ou quase nada fizemos — com excepção da placagem, sector onde estivemos muito bem e com a superioridade necessária para garantir a proximidade do resultado. Mas pouco conseguimos utilizar os nossos trunfos, apesar das 4 rupturas conseguidas.

Inferioridade com excepção de rupturas e placagens a que se junta um domínio territorial e de posse da bola de 47% 

E a falta de coesão da equipa mostrou-se na incapacidade de apoios a alguns movimentos que o nosso notável três-de-trás — Marta, Storti e Guedes — lançou mas a que não se deu a necessária continuidade. Falta de coesão também na constante procura directa da colisão, esquecendo a recomendação de Nuno Álvares Pereira de “no combate fazer prevalecer a manobra sobre o choque”. A procura do fraco adversário também se mostrou pouco colectiva — as dificuldades da terceira-linha em ser o suporte evidente das rupturas e avanços são evidentes — parecendo que cada um fazia por si sem que companheiros o compreendessem ou adivinhassem. O jogo ao pé também não tem propósito: chuta-se a ver se… não há exploração assertiva e adaptada à situação dos espaços no terreno. Veja-se o exemplo exemplar dessa falta de coesão do último momento do jogo — um não viu e outro parecia desinteressado da consequência… e com a vantagem concedida, ler o jogo à procura de uma oportunidade que possa ser eficazmente, é decisivo. Não o fazer significa que a coesão colectiva está limitada e tende ao cada um por si e o ressalto — técnica nada fácil — foi feito no mesmo local da penalidade. Ou seja: sem vantagem… e o “buraco” ali ao lado com um único defensor americano pessimamente posicionado.


É claro que a selecção portuguesa tem um problema de coesão de dificil solução e que exige muito tempo de treino conjunto. E esse problema diz respeito ao facto de a equipa ser constituída por jogadores provenientes de 11 clubes diferentes — 3 portugueses e 8 franceses — com processos de treino, jogo e objectivos muitas vezes distintos.

Se olharmos, por exemplo, para a selecção francesa percebemos que a dispersão por diversos clubes — mesmo sendo todos franceses e com uma base do Toulouse — exige, no claro objectivo de criar a coesão necessária para vencer o Mundial, um substancial aumento do tempo de treino conjunto (ao ponto dos internacionais falharem jornadas do TOP14…). E o número de jogadores também é elevado para que se possam fazer treinos de alta intensidade, sempre superior ao que o jogo exige. E a nós portugueses que jogámos em diferentes equipas de diferentes processos de treino e de jogo, necessidades de encontrar as soluções eficazes no aumento da coesão da equipa. Sendo uma das formas o aumento do tempo de treino colectivo. O que, jogando uns cá e outros lá, não será fácil. Mas é necessário! Ou as vitórias ao melhor nível serão miragens… Por isso os jogos do Rugby Europe Championship que agora se inicia deverá servir para aumentar o grau de colectivismo e de eficácia.

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