O Pedro Passos, treinador, escreveu um livro sob o título Rugby e que foi editado pela Faculdade de Motricidade Humana onde nos propõe uma aproximação ao treino mais actuante e diferente do método clássico. Utiliza um mote que o percorre: se treinarmos como os outros, na melhor das hipóteses seremos iguais a eles. E propõe, como método, o treino com oposição - a tal que retira o treino do campo do passatempo e que, permitindo a aplicação do conceito de Malcolm Maxwell de que “a eficácia depende da experiência que se viveu em casos semelhantes”, desenvolve os hábitos necessários à boa decisão.
Convidou-me para escrever o preâmbulo. O que fiz com gosto.
Aqui o transcrevo para que possa servir de aperitivo a um livro que recomendo e que, se entendido e utilizado, dará uma outra dimensão ao treino do rugby português.
Convidou-me para escrever o preâmbulo. O que fiz com gosto.
Aqui o transcrevo para que possa servir de aperitivo a um livro que recomendo e que, se entendido e utilizado, dará uma outra dimensão ao treino do rugby português.
Preâmbulo
"O papel do treinador é o de preparar os jogadores para agir eficazmente de acordo com o que as circunstâncias do jogo exigirem. O que pressupõe profundo conhecimento das Leis do Jogo e dos Princípios Fundamentais que o regem.
O jogo comanda a vida! poderia ser o mote roubado ao Poeta para nos lembrar em cada momento que o treino não é um objectivo em si mesmo.
Daí que a “contextualização” do treino – treina-se como se joga, diz-se desde sempre e a que se acrescenta, numa relação de santo e senha, o joga-se como se treina – seja advogada e desenvolvida por todos aqueles que têm a preocupação do desenvolvimento qualitativo dos jogadores e das suas equipas.
Complexo - nesta estrutura de batalha medieval em que assenta – como é o jogo de rugby é ainda um factor de emergências enquanto resultantes espontâneas das relações circunstanciais do binómio afrontamento/cooperação. O seu reconhecimento pode ser enfatizado no facto de, ao contrário da designação anglo-saxónica de ruck e maul, a escola francesa, ao considerar o termo de formação espontânea, está a dar ao rugby a sua dimensão de movimento e adaptação permanente – tão cara, aliás, a Pierre Villepreux e à sua investigação. Mas é bom que se tenha sempre em conta que a colaboração necessária à eficácia do rendimento não é um dado inato: tem que ser construída.
A posse da bola não é um princípio estratégico fundamental do jogo – é uma resultante (um sub-objectivo como o podem demonstrar todos os jogos ganhos por equipas com menor tempo de posse). O uso da bola – a forma como a bola é utilizada – esse sim, importa decisivamente. O que significa que os jogadores têm, para uma correcta tomada de decisões, de deter o conhecimento do jogo. Dominarem a cultura táctica individual e colectiva. Dominarem os Princípios do Jogo. Isto é: terem o domínio de uma série de instrumentos que a prática contextualizada – o treino relacionado com o jogo – transformará em competências.
Ganha-se com menos posse de bola e com melhor uso – sabe-se. O que coloca o desenvolvimento da cultura táctica individual como tarefa fundamental do treinador na formação dos jogadores. Isto é: acrescentando à envolvente técnica do como fazer? o ambiente propício do desenvolvimento das decisões de adaptabilidade de o que fazer? acrescidas do padrão táctico superior do quando fazer? Uma acção é má se for desadaptada daquilo que o contexto pede, afirma o autor. Conceito que representa, desde logo, uma exigência de cultura táctica que permita ler o contexto e decidir em conformidade adaptativa. A base de todo este saber fazer centrar-se-á no conhecimento dos Princípios Estratégicos do Jogo, isto é, nos conceitos que permitem definir e enquadrar o melhor caminho para atingir os objectivos pretendidos em cada sequência, em cada movimento. Garantindo propósito a cada uma das acções.
Cada jogador é um caso e, alerta-nos também o autor, não há uma “medida para todos os tamanhos”. Mas, sendo o jogo colectivo, é necessário dar unidade a este conjunto de técnicas adequadas ao melhor fazer de cada um – o que significa a necessidade do conhecimento mútuo, do conhecimento das expressões corporais de cada um e que, ao definirem os momentos das acções cruciais, garantem a continuidade do movimento. E aí a capacidade de construir constantes losangos de apoio ao portador da bola – essa espécie de ADN do jogo de movimento - torna-se essencial na capacidade de aproveitamento e exploração dos desequilíbrios defensivos. O que coloca a questão já no âmbito da tomada de decisão – não apenas do portador da bola mas também dos seus companheiros. Numa constante adaptação aos momentos e às circunstâncias – garantindo a plasticidade colectiva para a exploração de cada oportunidade. Tal qual como num voo de um bando de estorninhos, uma equipa transfigura-se em movimento para garantir o propósito de conquistar mais terreno e chegar à área de ensaio.
Na construção da sua equipa campeã mundial, Clive Woodward desenvolveu a preocupação do Thinking Correctly Under Pressure – mnemónica T-Cup – como base essencial da construção das vitórias. A curva de aprendizagem admitirá erros, mas não a sua repetição e sempre que algo não funciona, o retorno aos elementos básicos dará a rede de segurança necessária ao desenvolvimento competitivamente sustentado. O que significa que a metodologia do treino e o seu planeamento também tem que tomar em consideração a componente da alteração das situações - a manipulação dos constrangimentos a que se refere também o autor – por forma a garantir respostas adequadas na forma e no tempo às situações colocadas. O que exige a construção de simulações que serão tão mais adequadas quanto mais se aproximarem do próprio jogo. Construção que exigirá também da parte dos treinadores um profundo conhecimento da realidade do jogo – conhecendo as estatísticas que lhes permitam compreender as questões-chave quantitativas e qualitativas que caracterizam o jogo e conhecer as tendências que, a cada momento, se desenvolvem.
Neste combate colectivo organizado para a conquista de território que é o rugby, o factor decisivo da sua eficácia está no reposicionamento permanente de todos os jogadores em função da situação da bola. E é neste enquadramento que o treino se deve desenvolver.
É deste envolvimento global do rugby contemporâneo que nos dá conta o autor numa obra que deixará traço e que, espero, possa abrir novos espaços num, até agora, muito fraco panorama editorial técnico da modalidade em língua portuguesa. Que a sua leitura permita, como estou certo acontecerá, uma maior qualidade nos métodos de treino utilizados com uma consequente maior e melhor progressão do rugby português.
O jogo comanda a vida! poderia ser o mote roubado ao Poeta para nos lembrar em cada momento que o treino não é um objectivo em si mesmo.
Daí que a “contextualização” do treino – treina-se como se joga, diz-se desde sempre e a que se acrescenta, numa relação de santo e senha, o joga-se como se treina – seja advogada e desenvolvida por todos aqueles que têm a preocupação do desenvolvimento qualitativo dos jogadores e das suas equipas.
Complexo - nesta estrutura de batalha medieval em que assenta – como é o jogo de rugby é ainda um factor de emergências enquanto resultantes espontâneas das relações circunstanciais do binómio afrontamento/cooperação. O seu reconhecimento pode ser enfatizado no facto de, ao contrário da designação anglo-saxónica de ruck e maul, a escola francesa, ao considerar o termo de formação espontânea, está a dar ao rugby a sua dimensão de movimento e adaptação permanente – tão cara, aliás, a Pierre Villepreux e à sua investigação. Mas é bom que se tenha sempre em conta que a colaboração necessária à eficácia do rendimento não é um dado inato: tem que ser construída.
A posse da bola não é um princípio estratégico fundamental do jogo – é uma resultante (um sub-objectivo como o podem demonstrar todos os jogos ganhos por equipas com menor tempo de posse). O uso da bola – a forma como a bola é utilizada – esse sim, importa decisivamente. O que significa que os jogadores têm, para uma correcta tomada de decisões, de deter o conhecimento do jogo. Dominarem a cultura táctica individual e colectiva. Dominarem os Princípios do Jogo. Isto é: terem o domínio de uma série de instrumentos que a prática contextualizada – o treino relacionado com o jogo – transformará em competências.
Ganha-se com menos posse de bola e com melhor uso – sabe-se. O que coloca o desenvolvimento da cultura táctica individual como tarefa fundamental do treinador na formação dos jogadores. Isto é: acrescentando à envolvente técnica do como fazer? o ambiente propício do desenvolvimento das decisões de adaptabilidade de o que fazer? acrescidas do padrão táctico superior do quando fazer? Uma acção é má se for desadaptada daquilo que o contexto pede, afirma o autor. Conceito que representa, desde logo, uma exigência de cultura táctica que permita ler o contexto e decidir em conformidade adaptativa. A base de todo este saber fazer centrar-se-á no conhecimento dos Princípios Estratégicos do Jogo, isto é, nos conceitos que permitem definir e enquadrar o melhor caminho para atingir os objectivos pretendidos em cada sequência, em cada movimento. Garantindo propósito a cada uma das acções.
Cada jogador é um caso e, alerta-nos também o autor, não há uma “medida para todos os tamanhos”. Mas, sendo o jogo colectivo, é necessário dar unidade a este conjunto de técnicas adequadas ao melhor fazer de cada um – o que significa a necessidade do conhecimento mútuo, do conhecimento das expressões corporais de cada um e que, ao definirem os momentos das acções cruciais, garantem a continuidade do movimento. E aí a capacidade de construir constantes losangos de apoio ao portador da bola – essa espécie de ADN do jogo de movimento - torna-se essencial na capacidade de aproveitamento e exploração dos desequilíbrios defensivos. O que coloca a questão já no âmbito da tomada de decisão – não apenas do portador da bola mas também dos seus companheiros. Numa constante adaptação aos momentos e às circunstâncias – garantindo a plasticidade colectiva para a exploração de cada oportunidade. Tal qual como num voo de um bando de estorninhos, uma equipa transfigura-se em movimento para garantir o propósito de conquistar mais terreno e chegar à área de ensaio.
Na construção da sua equipa campeã mundial, Clive Woodward desenvolveu a preocupação do Thinking Correctly Under Pressure – mnemónica T-Cup – como base essencial da construção das vitórias. A curva de aprendizagem admitirá erros, mas não a sua repetição e sempre que algo não funciona, o retorno aos elementos básicos dará a rede de segurança necessária ao desenvolvimento competitivamente sustentado. O que significa que a metodologia do treino e o seu planeamento também tem que tomar em consideração a componente da alteração das situações - a manipulação dos constrangimentos a que se refere também o autor – por forma a garantir respostas adequadas na forma e no tempo às situações colocadas. O que exige a construção de simulações que serão tão mais adequadas quanto mais se aproximarem do próprio jogo. Construção que exigirá também da parte dos treinadores um profundo conhecimento da realidade do jogo – conhecendo as estatísticas que lhes permitam compreender as questões-chave quantitativas e qualitativas que caracterizam o jogo e conhecer as tendências que, a cada momento, se desenvolvem.
Neste combate colectivo organizado para a conquista de território que é o rugby, o factor decisivo da sua eficácia está no reposicionamento permanente de todos os jogadores em função da situação da bola. E é neste enquadramento que o treino se deve desenvolver.
É deste envolvimento global do rugby contemporâneo que nos dá conta o autor numa obra que deixará traço e que, espero, possa abrir novos espaços num, até agora, muito fraco panorama editorial técnico da modalidade em língua portuguesa. Que a sua leitura permita, como estou certo acontecerá, uma maior qualidade nos métodos de treino utilizados com uma consequente maior e melhor progressão do rugby português.
Lisboa, Novembro de 2009
João Paulo Bessa "
João Paulo Bessa "