domingo, 22 de agosto de 2010

EVIDÊNCIAS

Excelente jogo este África do Sul – Nova Zelândia a possibilitar a expressão de diversas evidências:

Primeira evidência: o rugby é um desporto colectivo de combate organizado para a conquista de terreno e que, para se chegar ao nível dos all-blacks, exige um patamar de capacidade física tal que, não cedendo no centímetro, se possa ser eficiente com a técnica;

Segunda evidência: o jogo do movimento da bola exige permanente tomada de decisões. Passo ou furo? é a pergunta permanente cuja resposta dependerá da proximidade do apoio. Esta forma de jogar impõe o respeito por uma regra: se não encontrares o intervalo, vais recuar.

Terceira evidência: a boa defesa é decisiva para manter aspirações de vitória – do primeiro ao último minuto. Cada erro - a este nível em particular, mas ao nível internacional em geral – transforma-se numa pesada factura que pode ditar o resultado final (os adiantados, por desconcentração na captação da bola no ar, dos all-blacks quase impediam a vitória neozelandesa);

Quarta evidência: o jogo no chão só fixa defensores e só explora o desequilíbrio defensivo se a defesa for obrigada a recuar e a reutilização da bola se fizer num ápice – o que só se consegue atacando os intervalos e, não sendo possível o passe, indo ao chão em situação favorável de colocação da bola;

Quinta evidência: os turnovers ditam o jogo. Parece tudo feito mas um turnover reverte de imediato a situação – o que era ganho torna-se perdido. Ao mínimo descuido, à mínima hesitação do portador, o adversário recupera a bola, terminando, no melhor dos casos, o movimento atacante; criando, no pior, um espaço de contra-ataque de difícil defesa ou recuperação.

O rugby só não é um collision game (sendo que, de acordo com um velho dito, contact game é dança) porque existem equipas e jogadores que, como hoje, procuram sistematicamente os intervalos entre defensores, tornando assim o jogo mais fluído, mais rápido, mais interessante. E a África do Sul fez, neste domínio, bastantes progressos: obrigada a reconhecer que o jogo no chão exige velocidade de libertação, percebeu que só atacando intervalos isso é possível. E embora ainda lhe falte a capacidade de criação do apoio em tempo útil, o seu jogo parece já ter ultrapassado o ataque ao muro que o caracterizava.

Não deixou de ser interessante ver que o ataque neozelandês em duas linhas, fixando, pelas linhas de corrida dos primeiros, a maior parte de defesa sul-africana, permitiu uma constante superioridade numérica no último corredor a que a alternância de tipo de defesa dos springboks – rush para tentar cortar a sequência ou atraso no final para tentar, deixando penetrar, isolar os atacantes – não conseguiu pôr cobro. E por onde andaram os pilares e terceiras-linhas que se encontravam junto à linha lateral para marcarem dois ensaios?

Como nota final deve acentuar-se a determinação, vontade de vencer e capacidade de nunca desistir demonstrada pelos all-blacks que, derrotados a cinco minutos do fim, souberam ir buscar uma excelente vitória. Melhor ainda quando demonstra que é possível, com o rugby de movimento, ganhar e entusiasmar espectadores.

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