segunda-feira, 2 de agosto de 2010

RUGBY DE MOVIMENTO

Austrália-Nova Zelândia: um jogão. Com dez ensaios, duas regras e uma consequência.

A primeira regra: duas equipas que querem ganhar e não têm medo de perder. É esta atitude que permite que os jogadores corram riscos, tentem coisas e procurem soluções colectivas. Que utilizem todo o campo, circulando a bola mais vezes do que se desfazem dela.

A segunda regra: a bola é para ser usada até ao limite das nossas possibilidades. Melhor do que todos os outros, os neozelandeses seguem esta regra – procurando o espaço livre, garantindo a superioridade numérica pelo apoio, movimentando a bola, mantendo a continuidade do movimento e criando problemas à defesa até chegar ao ensaio.

A consequência: para os australianos o corolário da Lei de Murphy – quando a pressão aumenta, shit happens! - começou a fazer das suas, obrigou a erros e a disparates que resultaram em cartões amarelos e na incapacidade de fazer frente ao poderio all-black.

Os all-blacks deram, como têm dado sempre esta época, uma lição de jogo no chão: a bola é para estar rapidamente à disposição do médio – é ele que decide da velocidade de saída mas, para isso tem que a ter disponível – e se o portador da bola tem a preocupação de garantir a colocação da bola em situação de uso, os jogadores em apoio não se limitam a cobrir o placado – cumprem o primeiro princípio fundamental do jogo e avançam no terreno, empurrando e expondo a bola. Colocando-a, visível, na vitrina.

A arbitragem foi excelente. Cumpriu as Leis do Jogo e as suas interpretações foram sempre
correctas: não de pode entrar em contacto com o adversário sem utilizar os braços – pontapé de penalidade e amarelo, ponto final; não se pode atrasar o direito de jogar do adversário (chico-espertice óbvia) – pontapé de penalidade e amarelo, ponto final. Não deixar passar esta formas de jogo perigoso ou desleal é decisivo para a limpeza do jogo e para a sua beleza e desportivismo. É como garantir o processo de sequência do jogo no chão: 1. verificar se o placador solta o placado; 2. verificar se o placado larga a bola; 3. verificar se os “limpadores” entram pela porta e se se agarram uns aos outros. Se assim não for, pontapé de penalidade; se assim for, existe a garantia de que a bola sai rápida e permite a continuidade do jogo. Ganha o jogo e a sua beleza.

O rugby jogado como neste Austrália-Nova Zelândia é um espectáculo para o qual não há arrependimento por pagar bilhete. Chama-se rugby de movimento e é o que vale a pena ver e jogar.

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