Na próxima época a Selecção Nacional tem uma tarefa importante: os resultados a obter no Seis Nações B contam para o apuramento do Mundial de 2015. Nesta situação será necessário cuidar das condições que garantam que os nossos jogadores se poderão apresentar nos compromissos internacionais tão bem preparados quanto possível.
E neste quadro - que deveria, aliás e de acordo com os estatutos federativos, ter sido pensado e alterado no tempo útil da época passada - defendo, como expus junto da direcção federativa na reunião para que fui convidado a participar, que as meias finais e final do nosso campeonato principal sejam jogadas antes da participação internacional portuguesa como forma de preparar, habituando, os nossos internacionais para os jogos decisivos em que tudo se resolve em oitenta minutos. Porque é deste teor a competição internacional, a sua cultura e exigência: oitenta minutos de tudo ou nada naquilo que gostámos de designar por jogo-teste.
Contra esta hipótese o argumento - cuja base de expressão está numa não-dúvida sistemática e, diga-se, comodamente preguiçosa, traduzida no ai-jesus do terminado o campeonato, o que fazemos? - que já ouvi de mais do que uma pessoa, rezando assim: actualmente a grande maioria dos jogadores da selecção jogam em França e por isso esse ponto (o da preparação interna conveniente e adaptada à competição de nível mais elevado) não tem uma importância decisiva.
Falso! Claro que tem!
Porquê? porque:
a) os jogadores que actuam em França só jogam na selecção porque - presume-se - estarão em melhores condições físicas e técnicas e apresentarão uma adaptação a ritmos de jogo superiores aos dos seus concorrentes internos;
a.1) ou seja e assim sendo, não existe qualquer hipótese de concorrência dos jogadores internos com os "externos franceses" quando estiver em causa a decisão para um determinado lugar;
b) Há uma exigência desportiva com a qual a federação - porque de utilidade pública desportiva - se deve preocupar: garantir a igualdade de oportunidades para os seus atletas - e nesse sentido vão os seus regulamentos de toda a ordem;
b.1) assim, é obrigação da federação, enquanto responsável pela direcção do rugby português, garantir que os jogadores do nível interno têm as melhores possibildades de se aproximarem dos seus concorrentes exteriores - quer ao nível dos jogadores seleccionáveis, quer na relação destes com os seus adversários internacionais;
c) criadas as condições de concorrência - e só existe concorrência entre iguais - ganha o rugby português interno e externo, ganha a selecção e os jogadores internacionais que assim verão recompensados, pelo nível competitivo atingido, o seu trabalho e esforço.
Durante a época desportiva e para a sua ocupação competitiva muitas provas interessantes podem ser realizadas mas se é aos Campeonatos Nacionais que clubes, equipas, jogadores e treinadores dão a maior importância é também esta prova - falo aqui do campeonato de nível mais elevado - que deve ser melhor utilizada para poder dar o maior contributo àqueles que terão a enorme responsabilidade de garantir o posicionamento internacional - aquele que verdadeiramente conta - do rugby português.
No Alto Rendimento não há milagres: há regras e procedimentos a cumprir, planeamentos a estabelecer, etapas a ultrapassar, estratégias a percorrer. E os jogos de preparação da janela de Novembro a realizar antes da participação nas competições europeias servem para preparar a equipa e não podem servir para aproximar o ritmo de jogadores diferentes. A melhoria da competição só é real se tiver como elemento percursor a própria competição. E o objectivo só pode ser um: aproximar o quadro competitivo interno das exigências do nível internacional.
O rugby português só e sustentável competitivamente no plano internacional se tiver um nível interno aceitável e tão próximo quanto possível do segundo escalão mundial. Se assim não fizermos ou quisermos - alterando os actuais sistemas internos para sistemas altamente competitivos adaptando sistemas já testados - poderemos estar certos de que estaremos a deixarmos reduzir a uma figura de cera da cena internacional. Deixando de ser e ficando pelo fomos.