O mundo dos treinadores está em transformação. Nacional e internacionalmente. Constituindo um conjunto de formação e experiência heterogéneas, cada vez mais apoiados na ciência e em especialistas das mais variadas áreas, os treinadores, neste novo paradigma que começa a definir e a caracterizar a sua intervenção, irão contribuir para dinâmicas e alterações que levarão a patamares de desenvolvimento da prática desportiva e do alto rendimento que, até agora e por uma visão encolhida de carácter corporativista, o desporto português não tem conseguido, de forma generalizada e sustentadamente, atingir.
De parte deste novo caminho nos foi dado conta no 4º Congresso de Treinadores de Língua Portuguesa organizado pela Confederação de Treinadores de Portugal e de que a inactiva Associação Portuguesa de Treinadores de Rugby (APTR) é membro-fundador. Subordinado ao tema Boas Práticas em Português aqui se dá conta, em sumário de conclusões, de alguns pontos que pretendem resumir o pensamento expresso.
O primeiro e fulcral ponto que estrutura o pensamento de intervenção é simples, objectivo e único: é o Atleta o elemento central da actividade desportiva. E assim, não é a mesma coisa nem pode ser tratada da mesma maneira o lazer que usa a forma desportiva e o desporto que se integra na área do rendimento com projecções para o alto rendimento. Neste domínio o treinador, primeiro e mais importante apoio do atleta, tem uma função determinante no progresso e desenvolvimento das modalidades e toda a nossa atenção de treinadores portugueses será pouca em relação ao movimento que se verifica internacionalmente para definir as competências e necessidades do exercício da actividade em termos profissionais ou benévolos. Não é treinador quem quer mas apenas o que detém as necessárias competências para o ser, será o lema. Em Portugal, o Plano Nacional de Formação de Treinadores, caracterizando competências através das federações de utilidade pública desportiva, constituirá a base instrumental das transformações necessárias à aproximação mais generalizada e sustentada dos resultados a nível internacional.
Sendo o atleta o elemento central do desporto, o planeamento do treino dependerá, para além das diferenças impostas pela diferenciação das modalidades, das características próprias de cada atleta - e no Congresso foi enfatizado, como exemplo evidente da individualização, o tema da organização do treino no Desporto Adaptado - individualizando formas e planeamentos que deverão estabelecer-se, nos seus diversos ciclos de longo, médio e prazo anual, de acordo com o número e calendarização das competições importantes. Mas tudo segundo uma série de escalões adequadas ás idades e níveis de prestação competitivos que devem ter programas próprios de treino e competição. De facto, não sendo os jovens adultos pequeninos, o treino na etapa da "formação de base" não pode ser cópia do adequado a etapas como a de "especialização" ou do "alto rendimento" ou, ainda, da "manutenção dos resultados". As competições também não podem ser do mesmo tipo e tão pouco devem ter a mesma importância ou frequência. Ou seja: a cada modalidade a sua estrutura própria, a cada posição a sua especificidade, a cada atleta a sua adequação característica.
A questão do papel dos treinadores na formação desportiva enquanto elemento fundamental da "educação para os valores" foi também centro de atenção a partir da análise de conceitos míticos geralmente associados à prática desportiva como as vantagens para a saúde ou o estado puro de espaço educativo. Percebendo que o Desporto não é necessariamente bom em si mesmo e que o seu carácter positivo dependerá das qualidades da envolvente e conteúdos que formatam a sua prática e pelos quais, naturalmente, o treinador terá uma enorme responsabilidade na sua qualificação. Que envolve ainda a constante permanência dos valores da ética que se definem como espírito desportivo.
Das diversas dificuldades que o nosso desporto atravessa, o desporto no feminino também se apresentou e equacionou o facto do escasso número de mulheres treinadoras e da dificuldade - numa altura (veja-se a composição da selecção olímpica para Londres) em que o número de atletas e praticantes do género feminino tem aumentado - da sua inserção/aceitação qualificada no espaço da actividade desportiva competitiva.
O papel dos treinadores, enquanto responsáveis pelas equipas, na educação e acesso ao conhecimento de outros planos formativos foi demonstrado pela parceria com a organização Médicos do Mundo em programas realizados na área da luta contra a Sida e nos quais equipas de rugby também participaram.
As intervenções da sessão plenária realizadas por José Curado, António Vasconcelos Raposo, Cristina Almeida, Nuno Alpiarça, Helena Pinheiro e Carlos Gonçalves poderão ser integralmente consultadas no site da Confederação dos Treinadores de Portugal (aqui). Aos treinadores de rugby recomendo a leitura - pela sua óbvia importância e directo interesse - das intervenções dos dois primeiros e último dos autores.
E aproveito também para chamar a atenção, na actual situação nacional e internacional de definição de qualificações, posicionamento e enquadramento dos treinadores, o interesse da consulta do site da Confederação. Fica a saber-se como se desenrola o estado da arte.
Os treinadores de rugby não podem ficar à margem de todo este processo sob pena de perderem voz na definição do seu interesse de melhoria de competências.