"Joga-se de acordo com os pontos fortes e fracos do adversário", Graham Henry
Não arriscámos, empatámos. Num péssimo jogo, de baixa nível de ambas as equipas, lembrei-me do conceito americano sobre o empate: desportivamente não faz sentido. Claro: uma série de pessoas a fazer um enorme esforço durante uma data de tempo, para terminar tudo na mesma forma em que começou. Um desperdício, portanto.
Ainda não fiz todas as contas - nem sei quando me apetecerá fazer - para perceber se este empate representa o desastre ou o prolongar da esperança. Mas que diabo! Como é que estas duas selecções, a mostrar o que mostraram hoje, pretendem estar presentes no Mundial de 2015?
De uma forma geral e visto o que viu, pode perguntar-se: que se espera para utilizar a Península Ibérica como espaço para criar, para os jogadores de ambos os países, competições que os aproximem do mais alto nível. O tempo é, embora já tardio, agora. Deixar correr vai custar muito mais à capacidade competitiva de ambos os países ibéricos.
Uma outra pergunta não pode deixar de ser feita: tendo nós um sistema de treino da Formação Ordenada reconhecido nos países europeus avançados da modalidade, como é possível que sejámos tão fracos neste domínio do jogo?
Começamos o jogo a ver o que a coisa iria dar e deixámos os espanhóis construir a confiança que tinham presa por arames - o que lhes permitiu, mesmo na mediocridade de que deram provas, aguentar o resultado até ao fim. Deste jogo, mas já visível nos jogos anteriores, há uma ilação a retirar para memória futura: não são os sistemas que ganham jogos mas sim a eficácia na utilização da bola. E ter a posse da bola e deitá-la fora com pontapés incapazes de criar qualquer problema à defesa adversária, não é forma de chegar à vitória - pelo contrário constitui uma demonstração de receio e de incapacidade. E só os confiantes chegam à vitória. Porque é preciso ter confiança e saber fazer colectivo para não deixar fugir vitórias nos últimos minutos.
Vejam-se os italianos. Há quarenta anos fiz parte da selecção portuguesa que empatou 0-0 com eles em Pádua e que perdeu em Lisboa por oito pontos de diferença. Na vitória de Coimbra, de bengalas, pude participar, a convite do seleccionador Pedro Cabrita, no antes e depois da vitória. Como responsável pela Selecção Nacional vi a equipa ser derrotada, em 1986 e em Jesi, por dois pontos com um ensaio, que nos daria a vitória, marcado na má linha no final do jogo. Hoje a que distância estamos? Muito grande se olharmos para os jogos realizados por ambas as equipas. Notável jogo, com a mão superior do francês Jacques Brunuel, que fizeram os italianos - a cada conquista da bola correspondia uma utilização eficaz com o objectivo claro de, criando enormes dificuldades à defesa irandesa, marcar pontos. O movimento e a continuidade foram constantes que permitiram o ataque à linha de vantagem. E assim, com o jogo positivo de criação e continuidade de acções, venceram França e Irlanda. E venceram bem, a jogar bem, a entusiasmar quem viu.
Contrariamente ao que os resultados de Novembro poderiam fazer parecer, Gales voltou - e só não foi uma enorme alegria pelo resultado português - a ganhar o 6 Nações. Num jogo formidável de constante, defensivo e ofensivo, avanço no terreno - jogo que deve guardar-se para quando houver necessidade de saber como se constroem vitórias - liquidaram a poderosa equipa inglesa. Sem margem para dúvidas.
Os galeses passaram por uma baixa, numa crise onde tudo parecia jogar-se ao contrário. Com trabalho - muito, com certeza - deram a chamada "volta por cima" e mostraram retornar ás capacidades que se lhes reconhecem. Venceram e convenceram! Um bom exemplo para Portugal, para os seus jogadores e treinadores, para reflectirmos sobre formas e conceitos do jogo, focalizando naquilo que importa - os princípios fundamentais do jogo - e, com trabalho adequado, voltarmos ao nível competitivo que considerámos ser o que pretendemos.
Mas não se chega lá por obra e graça de um qualquer mero desejo... só com trabalho com objectivos suportados na devida cultura táctica.