terça-feira, 10 de abril de 2018

A FORMAÇÃO E O PORTUGAL U18 NO 4º LUGAR DO RE CHAMPIONSHIP

Ficar em 4º lugar no Rugby Europe U18 Championship é bom! É um bom resultado para Portugal. Mas sendo um bom resultado final - graças a uma vitória no primeiro dia - não nos deve entusiasmar demasiado. Porque nos dois jogos - da meia-final contra a Geórgia e do 3º/4º contra a Espanha - não marcámos um único ponto. Ou seja, dois jogos a zero - o que é grave e demonstra deficiências e incapacidades que têm de ser reconhecidas e eliminadas. Quanto antes. Modificando processos na formação e voltando aos gestos básicos nas áreas da competição.  
O principal problema técnico dos jogadores portugueses está no facto de passarem mal a bola. Passam mal, recebem mal, correm para o lado, fogem do passador, não atacam a Linha de Vantagem, preferem a facilidade da colisão à exigência da manobra, procuram mais depressa o chão do que a continuidade e gastam a energia em movimentos laterais sem qualquer verticalidade. E essa incapacidade vê-se desde a selecção nacional sénior até às equipas dos mais pequenos - como pude verificar (mais uma vez) quer na festa de inauguração do campo de relva artificial do GD Direito, quer em jogos do Portugal Rugby Youth Festival (uma excelente organização desportiva) deste último fim-de-semana. Ou seja os jogos da selecção Sub18 alertaram mais uma vez - assim como os da selecção principal - para um problema da formação: não se ensina eficazmente a passar a bola!
Quadrado Estratégico das Acções Básicas do Passar e Receber
JPBessa
E não se tendo o domínio do principal gesto técnico do jogo não é possível conseguir bons resultados contra equipas mais fortes. Porque, como ensina o treinador neozelandês campeão mundial, Graham Henry: o objectivo da posse da bola é marcar ensaios! E sem circulação da bola fica-se na dependência do gesto individual ou do grosseiro erro defensivo.
Não nos iludamos: os resultados vitoriosos das equipas portuguesas - com uma ou outra excepção - têm sido obtidos contra equipas fracas e mostram à evidência o baixo nível em que deixámos cair o nosso rugby. Por evidente decréscimo da qualidade do treino e por baixo nível competitivo interno. Não há competitividade sem equilíbrio e não há desenvolvimento técnico-táctico sem competitividade.
E se a este mal passar e mal receber se juntam um jogo-ao-pé pouco eficaz - traduz-se apenas no alívio e não permite a sua utilização como arma atacante (capacidade decisiva para combater as cada vez melhor organizadas defesas) - e uma placagem defeituosa, pouco consistente ou efectiva, temos a demonstração evidente das falhas da nossa formação. Razões?!
Para além de uma eventual má preparação técnica dos formadores, de um mau conhecimento táctico do jogo e dos seus princípios, a campionite exacerbada que se percebe existir desde as equipas mais jovens retira a lucidez à preparação devida e conveniente dos gestos básicos.
Qualquer jogador, tenha a idade que tiver, deve perceber a necessidade da corrida vertical quando em posse da bola, do tempo eficaz de passe, da recepção já com a corrida lançada, da linha de corrida em apoio para receber - em convergência, atacando o ombro interior do adversário directo e não em fuga lateral - de manter a continuidade do movimento passando antes do contacto e não se deixando ir ao chão - ir ao chão representa uma "vitória" da defesa que se pode reorganizar e assim anular o desequilíbrio que o ataque tinha conseguido. O ataque à Linha de Vantagem, procurando os intervalos, é decisivo, ao permitir "encurtar" a linha defensiva, para garantir a manutenção da superioridade numérica atacante e para que haja conquista de terreno, devendo ainda os jogadores ser ensinados a receber a bola na "linha de passe" - a linha de bola mais próxima do "adiantado" como se fosse uma corrida de estafetas - e devem ser desaconselhados a jogar no conforto do "lá atrás" (situação que só deve ser utilizada em casos muitos especiais de envolvimento de defesas muito avançadas). 
Neste sentido deixo um esquema com aquilo que considero como as acções básicas fundamental para a aprendizagem do passe e da recepção para garantir a eficácia da posse da bola que. naturalmente, devem ser desenvolvidos com exercícios próximos do jogo, isto é, com oposição e num nível de intensidade - com menos volume e duração do treino - que permita uma adaptação a hábitos superiores às situações que os jogadores irão encontrar pela frente em jogos equilibrados.
Bom seria que os treinadores responsáveis pela formação dos jovens jogadores portugueses se preocupassem, essencialmente, em formar jogadores de futuro, ensinado-lhes as ferramentas principais que lhes servirão para garantir a sua capacidade de resolução dos problemas que o jogo lhes colocará. Bom seria que os responsáveis dos clubes, olhando mais longe do que a vitória imediata, fossem exigentes na qualidade técnica da formação. Porque a verdade é esta: não se pode jogar rugby sem o domínio básico de saber passar a bola - seja qual seja a posição que se ocupa na equipa.  


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