sábado, 28 de abril de 2018

TANTO TRABALHO PARA NADA!

Uma vergonha! Duas equipas recheadas de jogadores internacionais começaram e acabaram o jogo das meias-finais do Campeonato Nacional 2017/2018 da divisão principal da modalidade da mesma forma: numa algazarra de pancadaria colectiva.
Costuma dizer-se que o que começa mal, tarde ou nunca se endireita. O rugby português começou, ultimamente mal e tende a não se endireitar mais. E de nada vale dizer que se faz isto ou aquilo que se lança este ou aquele programa que irá desenvolver a modalidade e o seu futuro no que - na realidade - não passa de cortina de fumo feita areia para os olhos que só engana quem se quer deixar enganar. Se o nível superior da modalidade - o mais importante e o mais visível - não funciona - joga-se pouco e comporta-se mal numa doce, pretensiosa e, muitas vezes, propagandística aparência de importância desportiva - nada funciona! O topo da modalidade é o espelho da sua realidade, o resto vem por acréscimo. E como resultado dos factos, o rugby português vai de mal a pior!
Interrompeu-se a sequência do campeonato - a última jornada da fase regular realizou-se em 17 de Março p.p. - para um intervalo sem nexo disfarçado nas culpas de outros. O pouco ritmo foi-se, as cabeças desfocaram-se dos aspectos técnicos e tácticos e o jogo colocou-se no patamar do passatempo, incapaz de se adequar à natural pressão de jogos de bota-fora. E assim, perdidos no rumo e sem nexo sequencial, os actores - que deveriam ser os primeiros interessados na boa imagem da sua presença - não encontraram melhor solução do que pegarem-se à porrada. Porrada pegada entre eles dentro do campo e porrada pegada entre espectadores, fora do campo. Violência gratuita e inadmissível de um lado e outro das linhas. Violência que não é compatível quer com o sentimento de pertença quer com a ética desportiva.
E agora a pergunta que se impõe: alguém vai exigir responsabilidades pela degradação da imagem da modalidade ou - como de outras vezes - os responsáveis pelas modalidades e pelos clubes vão varrer tudo para debaixo do tapete da indiferença? Com a vergonhosa desculpa que, não se sabendo, também não haverá a perturbação das consequências.
Uma vergonha para continuar vergonhosa?
E, para espanto dos espantos, o jogo não teve árbitro oficial a dirigi-lo - teve um voluntário que, aliás, fez o que pode naquele mar de desajudas dos actores - teve assistentes não treinados para a função e não teve outro remédio que não fosse - numa acertadíssima decisão - acabar com o jogo para impedir a continuação do malhanço.

O que se passou neste jogo das meias-finais do principal campeonato da modalidade não é mais do que o reflexo da desorganização, indisciplina e desconhecimento que o rugby português demonstra. Não querendo perceber o sistema que a irresponsabilidade criou, não faltarão acusações desculpabilizadoras. Que aliás, de nada valerão. Porque é o sistema que tem de ser mudado com base no reconhecimento que o Desporto se rege por Princípios - e o Rugby por Valores - e que neste campo não pode haver qualquer tipo de cedências.

Se queremos transformar alguma coisa, reaproximando-nos dos valores significantes do espírito desportivo e do carácter da modalidade, se queremos que aquilo a que chamámos Rugby seja mais do que Rugby e seja realmente o nosso jogo, envolvendo uma comunidade que, valorizada pelo espírito desportivo, tenha os comportamentos éticos adequados a uma competição desportiva que se pretende - embora dura - leal, íntegra, solidária, disciplinada, comprometida e que envolva o respeito por uns e outros, devemos alterar o actual sistema. Quanto antes!
O jogo não valeu nada - uma equipa passou duas vezes a Linha de Vantagem, a outra nem isso. E o resultado traduziu aquilo que se conhece da fase regular da duas equipas: uma equipa a fazer faltas atrás das outras, a outra equipa, incapaz de bater as defesas adversárias, a construir o resultado, como habitualmente, na transformação de penalidades.
O jogo de hoje - uma meia-final do campeonato principal da modalidade, repete-se - ao violar os valores com que gostámos de encher a boca, demonstra o estado real a que chegou a modalidade. 
Uma vergonha! e apenas uma enorme tristeza traduz o que me vai no espírito: tanto trabalho para nada! 
Tanto trabalho de tanta gente durante muito tempo deitado fora numa leviandade que ignora regras, comportamentos e responsabilidades. A realidade é esta: o nosso jogo está nas ruas da amargura!

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