terça-feira, 17 de abril de 2018

ACESSO AO WORLD TROPHY U20 E SISTEMA DE FORMAÇÃO


JPBessa, iPhone
Ao derrotar a Espanha na final do Rugby Europe Championship U20 por 25-3, a selecção de Portugal de Sub-20, classificou-se para o World Rugby U20 Trophy - o Mundial de nível 2 da categoria -  juntamente com Fiji, Samoa, Hong-Kong, Uruguai, Namíbia, Roménia (país organizador) e Estados Unidos ou Canadá, disputará do 9º ao 16º lugares mundiais.
Foi portanto um bom resultado - 90% de Quota de Pontos de Jogo - com consequências muito positivas - a experiência que a disputa deste Trophy irá permitir aos jogadores será muito importante para o seu desenvolvimento enquanto atletas de Alto Rendimento. 
Esta equipa comandada pelo Luis Piçarra conseguiu, até agora, o melhor resultado internacional do rugby português desta época que, aliás e pelos motivos óbvios, só pode ser suplantado pela vitória da selecção principal no jogo de barragem para a Rugby Europe Championship.
Portanto, bom resultado e uma boa alegria para jogadores, treinadores e adeptos. 
A Espanha entrou forte, parecia que iria criar muitas dificuldades a Portugal, mas… durou 10 minutos. Depois, Portugal tomou conta dos acontecimentos e estabeleceu o seu domínio nas mais diversas fases do jogo. E o resultado poderia ter atingido mais valor superior se houvesse, do lado português, chutadores-aos-postes capazes.
Tendo sido bom o resultado não devemos esquecer - as vitórias tendem a fazê-lo - o nível da qualidade da produção portuguesa. Que não foi elevada - o jogo correspondeu aquilo que era: segunda divisão europeia -  e que nos mostrou, mais uma vez e na sequência dos pontos fracos já detectados nas equipas nacionais principal e Sub-18, que é necessário, seguindo o conceito de Gates de que para melhorar alguma coisa deve procurar-se os meios que melhoram o sistema, rever e alterar o sistema de formação dos jogadores portugueses. Porque a evidência está aí: a continuar assim não conseguiremos atingir o patamar que nos permita participar no nível mais elevado das competições internacionais. E se existem óbvias dificuldades pela nossa dimensão física, a formação dos jogadores deve ser centrada no domínio técnico e conhecimento táctico que permita dar prioridade à manobra sobre o choque - como ensinava Nuno Álvares Pereira, ou seja, recorrendo à evasão e fugindo da colisão. O que envolve um outro, diferente e próprio, conceito de ensino do rugby aos jovens jogadores. Adaptado às nossas circunstâncias e com base no passe, na evasão, na placagem e no jogo-ao-pé.
Se já se viu o problema que cria a falta de um chutador eficaz - da ordem dos 80/90%, precisa-se - na construção do resultado o cumprimento da regra - uma equipa neste nível competitivo começa pela escolha do chutador - é fundamental. O que exige programação e treino sistemático.
Também o passe mostrou o que já sabemos: passamos mal, dominamos mal o seu tempo e não temos elasticidade na sua execução: se é longo é lento. Para além de que a sua direcção deixa muito a desejar… Mas placou-se bem com a preocupação primeira de colocar o adversário no chão, avançando a defesa sempre que possível e dando poucas hipóteses de penetração adversária.
Mas preocupante foi a demonstração da reduzida cultura táctica dos jogadores que provocou erros na sua tomada de decisões que não teve em conta, por demasiadas vezes, o tipo de situação defrontada. Três exemplos:
  • A decisão tomada nos ataques aos rucks adversários foi sempre idêntica e independente da situação. O que é um erro porque a regra deve ser estabelecida de acordo com a situação que se enfrenta. Ou seja, se não houve ultrapassagem da Linha de Vantagem pela defesa - isto é, se o ruck está a ser construído pelo adversário já dentro do campo defensivo - o objectivo dos defensores é o de atrasarem a saída da bola empenhando o menor número possível de jogadores para permitir a reorganização defensiva e, quando a bola for colocada em movimento pelo adversário, garantir que existe um maior número de jogadores na linha defensiva do que atacantes; a estória será outra se a defesa ultrapassou a Linha de Vantagem e obrigou o atacante a ir ao chão - isto é, placou-o - ainda dentro do seu campo: aí, porque existe superioridade numérica - os companheiros do atacante esta à sua frente - o que se pretende, empenhando quantos forem necessários, é a conquista da bola. Porque, se assim fôr, a conquista de terreno estará no mínimo assegurada e a possibilidade de ensaio mostra-se como hipótese muito provável. Portanto para duas situações distintas, duas actuações diferentes - e é disto que trata a adaptabilidade necessária que exige que as decisões sejam tomadas de acordo com o que se apresenta na frente. E Portugal teve mais do que uma situação do segundo tipo que tratou como se fosse do primeiro...
  • O outro exemplo diz respeito ao jogo ao largo em superioridade numérica - mesmo que o espaço livre seja curto, uma boa fixação pelo portador da bola vai permitir soltar um companheiro com terreno livre. E tivemos uma série de situações em que, em vez de fixar e passar, o portador resolveu entrar “para dentro”, indo ao encontro dos defensores da cobertura adversária. Ou seja, a equipa conseguiu - e bem! - encurtar a linha defensiva adversária criando espaço livre exterior e, depois, o portador preferiu ignorar a vantagem e a superioridade numérica. Sem outra solução que não fosse a ida ao chão, perdendo assim todas as vantagens do desequilíbrio conseguido.
  • O terceiro exemplo diz respeito às linhas de corrida atacantes. Se foi possível ver alguma evolução na procura da convergência pelo apoiante mais próximo do portador da bola, também se viu que o apoiante seguinte nada fazia para se aproximar do provável receptor, preparando-se apenas para receber a bola no conforto da sua posição recuada e parada. Ou seja, a uma convergência seguia-se o afastamento, terminando a vantagem de ataque aos intervalos que a primeira linha de corrida permitia. E voltava-se ao início: jogador no chão a permitir a reorganização adversária num constante desperdício das vantagens conseguidas. 
Ou seja, a equipa mostrou um modelo capaz - quer no desenvolvimento das acções defensivas, quer nas atacantes que se mostraram criadoras de vantagem - mas a ignorância táctica individual dos jogadores impediu a tradução da vantagem conseguida em pontos no marcador.
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Tratando-se de jogadores seniores à porta de entrada da selecção principal, este factor de menor cultura táctica para além de se mostrar preocupante será, se não for alterado, impeditivo de atingir resultados internacionais de melhor nível. E, por isso - repete-se - é preciso e urgente alterar o sistema de formação d@s jogador@s portugues@s.  

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