Na última jornada do 6 Nações — 3.ª jornada — a maior surpresa terá sido, pese a dominante vitória da Inglaterra sobre a Irlanda, a vitória, em Cardiff, da França sobre Gales.
Num jogo muito interessante de seguir a vitória da França assentou fundamentalmente na sua defesa — o ensaio de Ntamack, conseguido através de uma intercepção, tem na subida rápida em defesa permanente utilizada a sua principal causa. Tendo como curiosidade que, não fora a intervenção, seria Gales o obter o ensaio. Mas o segundo ensaio francês trouxe uma quase novidade nos dias que correm, fazendo uma combinação num alinhamento próximo da linha-de-ensaio galesa: peel-off pela frente a explorar o facto de no corredor de 5 metros estar um defensor de menor compacticidade do que a dos grandes do bloco francês.
Gales pode queixar-se — e com razão — de que nenhum dos membros da equipa de arbitragem considerou como “propositado adiantado” o gesto do “francês” Willemse a impedir que o passe de Owens chegasse a Adams que iria directo ao ensaio.
Mas a defesa da França, agora preparada pelo anterior responsável galês Shaun Edwards — “Wigan fez-me perceber que eu não iria ter qualquer capacidade de decisão sobre a equipa e a França propôs-me um contrato de 4 anos enquanto Gales se ficava pelos dois...”— foi o grande suporte da vitória principalmente porque conseguiu evitar, nos finais da primeira parte e quando se encontrava encostada às cordas da sua linha-de-ensaio, que os galeses marcassem ensaio.
Galeses que se mostraram muito confusos e que, de choque em previsível choque, não conseguiram ultrapassar a coesa defesa francesa de que, aliás, deveriam conhecer a forma de cor e salteado... E até tinham começado bem os galeses ao posicionarem, atrás de uma “FO a 5metros”, 4 jogadores do lado fechado e apenas dois num lado aberto de quase quarenta metros. O problema para a defesa estava colocado: seguia a “regra do espelho” e teria uma enorme dificuldade de parar um lançado portador da bola com diversas opções ou, colocaria um terceiro elemento na cobertura da enorme largura do espaço defensivo – provavelmente e com Dupont seria o que deveria ter feito...Mas o nº8 galês — provavelmente ainda prisioneiro do padrão Warrenball — resolveu ir à colisão ao invés de entregar a bola ao seu formação. E os franceses chegaram, com o amarelo a Alldritt, a estar em inferioridade numérica. Curiosamente Gales teve 31% do seus 25 minutos de tempo de posse-de-bola dentro dos 22-metros franceses... e perdeu, principalmente na desmesurada quantidade de 13 maus passes. Erros a mais numa evidente incapacidade de lidar com a pressão defensiva, provando agora o que tinham feito na época passada.
A este erro de dimensão estratégica somados aos erros técnicos, não só nos passes errados mas também nas deficiências da disponibilidade da bola em tempo útil no jogo-no-chão —a que acrescentaram uma permanente ineficácia no jogo-ao-pé onde, aliás, os franceses foram bastante mais assertivos. E agora a França está a dois passos, jogo com a Escócia para terminar com a Irlanda em Paris. de conseguir ganhar o Torneio. Mesmo com possibilidade de atingir o Grand Slam.
No jogo da Inglaterra com a Irlanda foi quer o domínio físico, a capacidade defensiva mas principalmente a qualidade do jogo-ao-pé inglês que garantiram a vitória. Com a rapidez de saída em defesa impediram as linhas atrasadas irlandesas de se mostrarem perigosas o suficiente e, com a qualidade do seu jogo-ao-pé garantiram a conquista territorial necessária ao desafogo. Conseguindo
assim um domínio territorial de 52% contra os 58% de posse de bola irlandesa e que se traduziram na anulação dos 20 minutos correspondentes de utilização irlandesa da bola.
Com esta vitória a Inglaterra que defrontará Gales em Twichenham para terminar com a Itália — se não houver adiamentos —poderá ainda conquistar a Triple Crown.
sábado, 29 de fevereiro de 2020
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