domingo, 2 de fevereiro de 2020

GANHAR COMO PASSO NECESSÁRIO. FALTA O ACOMPANHAMENTO

A equipa portuguesa, apesar das dificuldades sentidas pelos anos de jogos fáceis da III divisão, fez o que lhe competia e venceu o jogo que, com grande probabilidade, permitirá a Portugal manter-se neste nível do Seis Nações B.

Entrando bem e demonstrando de imediato uma superioridade da continuidade de circulação da bola, Portugal chegou à vantagem de 14-0 com dois ensaios de belo efeito — ataque vertical à linha de defesa adversária, perfuração, apoio e continuidade do jogo de passes com adaptação das linhas e ângulos de corrida às fraquezas da organização adversária. No fundo, o recurso às melhores capacidades dos jogadores portugueses que têm no rugby-de-movimento o seu modelo de eficácia.

Com o conforto da vantagem a provocar alguma desfocagem, a equipa portuguesa deixou que os belgas tomassem o domínio do jogo e chegassem a um 17-17 que não perspectivava nada de bom. Felizmente para o rugby português a equipa belga não mostrou mais do que aparentes capacidades, ficando-se pelo poder colectivo dos mauls — marcando assim os dois ensaios — uma vez que os seus três-quartos, apenas capazes do elementar, não conseguiam criar problemas à defesa portuguesa que lhe permitissem a continuação da ocupação do meio-campo português. E como a defesa portuguesa se mostrou bem organizada e capaz da pressão necessária para limitar as opções adversárias os belgas deixaram de ser ameaça.

A necessidade de trabalhar as fases ordenadas — formações e alinhamentos — bem como trabalhar a resistência aos mauls ficou evidente no jogo. E esta necessidade vai — porque essas fases nos campeonatos nacionais estão longe de atingir os níveis competitivos dos jogos internacionais desta competição — obrigar a um trabalho muito efectivo dos seleccionados e, também, à melhor escolha de jogadores capazes para as posições do cinco-da-frente num equilíbrio necessário entre técnica e capacidades físicas. Porque sem um mínimo domínio destas fases não é possível o desenvolvimento necessário para realizar o sonho de 2023.

Entre os jogadores portugueses que se destacaram — o capitão Appleton sempre atento à exploração dos intervalos (o primeiro ensaio nasce de uma sua notável quebra de linha), Thibault Freitas ou Rebelo de Andrade, o prémio de “Homem do Jogo” foi atribuído — fiz parte do júri com Ricardo Nunes e António Henriques — a Danny Antunes, um excelente pontapeador aos postes (13 pontos conseguidos) e um jogador sempre disponível e atento para tomar iniciativas: quando o árbitro marcou “ensaio de penalidade” favorável aos belgas, Danny pegou na bola e, aproveitando-se do facto de já não haver pontapé de transformação, correu para o centro do terreno preparando-se para chutar a bola para um meio-campo onde não havia qualquer jogador belga e assim chegar ao ensaio. Valeu aos belgas o facto de o árbitro precisar ainda de mostrar um cartão amarelo a Wallis Carvalho...

Com esta vitória Portugal subiu — ultrapassando a Namíbia e o Canadá — dois lugares no ranking da World Rugby. O que sendo bom, não exclui a organização necessária para fornecer as informações correctas e elementares dos jogadores que formam a equipa. Hoje em dia para se pretender estar a este nível da competição internacional  é exigido uma capacidade de comunicação rápida e correcta e de acordo com as necessidades dos mais diversos meios de comunicação social — de outro modo perderemos, com os prejuízos óbvios que daí resultam, a possibilidade de pertença ao meio. E perdida essa confiança, deixaremos de contar... e este fim‑de‑semana, por erros elementares e falta de rigor, estivemos longe de mostrar a capacidade organizativa da comunicação necessária para sermos olhados como confiáveis. Para garantir a aceitação no mundo desportivo a que queremos pertencer não basta um terreno-de-jogo bem tratado e com as dimensões correctas, balneários capazes ou banda musical para os hinos ou polícia para mostrar segurança de espectadores e intervenientes, é preciso
garantir que a imagem não nos maltrata, não deixando que a lateral do campo se pareça com um passeio público e, mais ainda, garantindo rigor na comunicação com terceiros e para terceiros. Antes
e depois do jogo e no sentido de garantir uma imagem de credibilidade.

O Desporto de Alto Rendimento é, hoje em dia, e para além de uma exigente ética desportiva, um mundo complexo de relacionamento de resultados desportivos e da sua competente comunicação. E
quem não respeitar as regras é colocado à margem... num mais que provável acabou-se.

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