Tendo apitado a final da Taça dos Campeões entre os ingleses do Exeter e os franceses do Racing 92, o galês Nigel Owen, o árbitro, teve que tomar difíceis decisões nos últimos minutos de jogo. Eis as explicações da sua visão:
“Sou humano e cometo erros. Não estou aqui a tentar justificar algumas decisões. Algumas poderiam ter sido melhores, outras deveriam ter sido tomadas e não foram. Espero que este testemunho ajude aqueles que não entendem como os árbitros agem nestes grandes momentos, como às vezes temos que fazer. "Sobre a penalidade, muito criticada, favorável, aos 75 minutos e com um resultado de 27-28, ao Exeter e quando o Racing estava a palmos do ensaio, Owens diz: "O jogador do Racing 92 que tentou chegar ao ensaio não conseguiu marcar. A bola estava antes da linha e o jogador acabou de costas com a bola em cima de si. Pedi ao jogadores para não usarem mais as mãos, para não jogarem a bola ilegalmente. Estava a dirigir-me aos jogadores que estavam no chão, que deviam largar a bola. Não aos jogadores em pé. Não era um ruck. Para mim, era apenas uma situação de placagem. Se houvesse um ruck formado, então Hidalgo-Clyne não poderia ter usado as mãos para agarrar a bola. Mas como não houve um ruck formado, as suas ações foram completamente legais. Ele estava de pé e tinha o direito de jogar aquela bola. Naquela situação", continua Owens na sua explicação, "a entrada de lado não é falta porque a linha de fora-de-jogo (para os defensores) passa a ser a linha de ensaio e não mais a linha que passa pelos pés do último jogador. Ele (Hidalgo-Clyne) estava em jogo porque estava atrás da linha de ensaio e tinha um pé sobre a linha. Assim sendo, tinha todo o direito de jogar aquela bola e foi o que fez. Ele estava em jogo e o jogador do Racing (Claassen) foi penalizado por prender a bola, estando no chão. Portanto, estou convencido de que tomei esta decisão corretamente, estou 100% convencido."
Sobre a decisão de terminar o jogo sem autorizar que o Racing realizasse o pontapé de recomeço que se julgava teriam direito, Owen clarificou: "Quando a base para pontapear aos postes chegou, pedi para recomeçarem a contagem do tempo. Por uma qualquer razão técnica não conseguirem pôr o cronometro a funcionar imediatamente. Por isso, quando o jogador chutou, o relógio do estádio marcava 79 minutos e 57 segundos. Se este tempo fosse o correcto o Racing tinha direito a realizar o pontapé-de-recomeço porque, para o jogo ser dado por terminado, o tempo deve estar no vermelho antes do jogador chutar na bola. Nesse preciso momento, necessitei de clarificar a situação, para saber se o tempo do relógio do estádio estava correcto e perguntei ao TMO. Percebeu-se então que quando a penalidade foi executada pelo chutador do Exeter, os oitenta minutos já tinham sido ultrapassados em cerca de quinze segundos. O tempo-de-jogo tinha terminado. No fim de contas e mais uma vez a decisão tinha sido correcta. É o que importa.”
E numa explicação do método: "Quando arbitrámos, julgamos o impacto que todas as pequenas faltas podem ter na continuidade do jogo. De acordo com a análise, deixamos jogar, damos uma vantagem ou apitamos. Procuramos um ponto de equilíbrio para o bem do jogo. Se esse equilíbrio estiver correto, devemos ter um bom jogo de rugby e o resultado não é afetado pelas nossas decisões. No sábado, o equilíbrio foi provavelmente atingido, pois tivemos certamente a melhor final europeia da história. E é isso que devemos lembrar-nos."
Pronto, está explicado o porquê de Nigel Owens ser considerado o melhor árbitro mundial de Rugby: conhece as Leis do Jogo como ninguém e conhece muito bem o jogo, as suas estratégias, as suas tácticas e as suas técnicas que, no seu conjunto, são a base fundamental para que a tomada de decisões corresponda à realidade do jogo.
Nota: declarações de Nigel Owen retiradas, em tradução livre, do texto de Leo Faure publicado em Rugbyrama