quinta-feira, 22 de outubro de 2020

DE NOVO NIGEL OWENS A QUE SE SOMA O PROCESSO DE DECISÃO


Nesta difícil decisão de Nigel Owen nos últimos minutos da final da Taça dos Campeões Europeus entre os ingleses do Exeter e os franceses do Racing 92 o que mais espanta é a capacidade do árbitro galês de eliminar hipóteses para tomar a decisão correcta. 

A situação é suficientemente complexa e a primeira eliminação de hipóteses diz respeito à Lei 21.16: "Se o jogador que transporta a bola é agarrado na área-de-ensaio de tal modo que lhe é completamente impossível fazer um toque-no-chão ou jogar a bola, a bola é considerada injogável. O jogo recomeçará com uma formação-ordenada a cinco metros, numa linha passando pelo ponto onde a bola ficou injogável e a introdução da bola será feita pela equipa que se encontra na área-de-ensaio adversário."

Se esta Lei 21.16 fosse considerada - como se precipita variadas vezes - haveria formação-ordenada a 5 metros da linha-de-ensaio e com introdução favorável ao Racing 92. Ou seja a equipa francesa continuaria próxima da linha-de-ensaio adversária e manteria a pressão territorial que a poderia levar à vitória.

Porque não considerou Owen esta hipótese? Porque se começou por perguntar: onde está o jogador que transporta a bola? dentro ou fora da área-de-ensaio? Resposta no milésimo possível: fora, foi placado fora e portanto não é, por si só, caso para considerar a bola injogável. Seguiu-se de imediato outra pergunta: que situação de jogo é esta? Ruck ou pós-placagem? Resposta imediata: Ruck não é por que a Lei 15.1 determina que um ruck só pode "ter lugar" dentro do terreno-de-jogo que exclui as áreas-de-ensaio e então será uma situação de pós-placagem. E há linhas-de-fora-de-jogo? Há! Porque há jogadores de pé e que estarão (ou estiveram) sobre a bola que serão, do lado atacante, marcadas pela parte do corpo mais recuada do último jogador desta equipa e, do lado do defensor, pela linha-de-ensaio. Nova pergunta: Onde está a bola? Dentro ou fora da área-de-ensaio? No chão ou sem contacto com o chão? Está disponível para a continuidade do jogo? Os jogadores que disputam a bola estão de pé e em posição de em-jogo?

E num repente têm que surgir as respostas: a bola está a ser agarrada junto ao peito por um jogador do Racing 92 que se encontra deitado no chão e fora da área-de-ensaio e há um jogador, do Exeter, que, de pé e em posição de em-jogo - os seus pés estão dentro e em cima da linha-de-ensaio - pretende dar continuidade ao jogo. O que não lhe é permitido pelo jogador adversário que se mantém no chão e agarrado à bola. Decisão: falta do jogador do Racing 92. Consequência; Pontapé de penalidade favorável à equipa do Exeter.

E assim o Racing 92 deitou fora - seja por precipitação ou já por incapacidade física de análise - uma excelente oportunidade de passar para a frente do marcador e, possivelmente, tornar-se campeão da Europa. O que teria sido eventualmente possível não fosse o controlo da experiência e conhecimento das Leis de Jogo demonstradas por Owen.     

Mas o mais espantoso e demonstrativo da categoria de Nigel Owen é que estas considerações que constituem o processo da tomada de decisão, foram realizadas no final de um jogo de alta intensidade numa demonstração que, sendo essencial para se atingir um elevado nível na arbitragem conhecer muito bem as Leis do Jogo e saber dos domínios estratégicos, tácticos e técnicos que formatam o jogo, é também preciso uma condição física de elevado nível que permita manter o estado de espírito necessário á fria análise dos factos de acordo com o conjunto de leis que cada momento do jogo impõe considerar para possibilitar a decisão final adequada à realidade da situação. De facto Nigel Owens foi brilhante na demonstração que nos fez do processo da tomada de decisão arbitral.   

Mostrando-nos mais: não é nada fácil, na complexidade do intricado das suas Leis, arbitrar um jogo de Rugby... que exige um constante domínio emocional que estabeleça o tom que possibilitará um relacionamento respeitoso entre todas as partes envolvidas.

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