terça-feira, 14 de março de 2023

A COESÃO FAZ BOAS EQUIPAS QUE FAZEM BONS JOGOS


 Bons jogos com um Gales a mostrar que a pressão defensiva pode eliminar as capacidades atacantes, obrigando a erros e eliminando as sequências mesmo se elas se mostraram bastante interessantes em jogos anteriores — mas a troca de médio de formação chamando um veterano de 34 anos, Rhys Webb, que não jogou pela selecção galesa nos últimos 6 anos, teve uma enorme responsabilidade na vitória. E o rugby de Gales terá, com esta vitória em Roma, ganho algum alento para ultrapassar a difícil fase organizativa em que vive.

Os resultados destes três jogos mostram algumas características que merecem ser avaliadas:

- o factor casa não é assim tão decisivo como muitas vezes se gosta de afirmar — todas as vitórias, que não deixaram quaisquer dúvidas, foram conseguidas pelos visitantes;                                                                    

- só um dos jogos — o excelente Escócia-França — foi ganho pela equipa que teve mais posse de bola e maior vantagem territorial; - os metros conquistados equivalem-se (a grande diferença é feita pela derrotada Itália com uma vantagem de quase 200 metros); 

- a relação entre as bolas disponíveis e as ultrapassagens da linha-de-vantagem (LV) mostram-nos, se comparadas com a Eficácia, a capacidade organizativa da continuidade de movimento — a Itália tem 78% de ultrapassagens da LV mas apenas consegue 4% de ensaios o que significa um enorme desperdício de utilização motivadas como se disse, pela pressão defensiva galesa; Gales, por sua vez  conseguiu 49% na relação disponíveis/LV para 10% de ensaios conseguidos; 

- a Inglaterra ultrapassou, com as suas 71 bolas disponíveis, 74% das vezes a LV mas só conseguiu atingir a linha-de-ensaio 2% das vezes, marcando um ensaio, enquanto que a França com 33 bolas disponíveis conseguiu 12% de bolas que permitiram ensaios; 

- no melhor jogo da jornada — Escócia-Irlanda — com uma intensidade notável, o equilíbrio na disponibilidade das bolas e nas ultrapassagens da LV foi uma evidência mas a eficácia da Irlanda também foi visível com uma vantagem de 3% no uso eficaz da bola.


Destes dados pode concluir-se que a questão essencial para atingir o objectivo da vitória estará na EFICÁCIA - isto é na melhor capacidade das equipas no domínio da relação Táctica e Técnica — em que os jogadores saibam ler a organização defensiva, detectar as fraquezas e saber utilizar os pontos fortes numa organização colectiva de mini-unidades que, perferencialmente, se formam na adaptação livre a cada situação e tenham as técnicas necessárias para explorar as oportunidades, através de formas ortodoxas ou heterodoxas, com que se confrontam sem perda de tempo e sem permitir a reorganização defensiva adversária. E para que isto seja viável é necessário que as equipas atinjam um elevado nível de coesão — o que significa que as equipas se devem formar com o maior número possível de jogadores que se conheçam muito bel e tenham hábitos competitivos comuns — a melhor hipóteses estará no recurso, como aliás demonstra a constituição das equipas vencedoras nesta jornada, a jogadores do mesmo do mesmo clube que assim, conhecendo as reacções de uns e outros, adaptando-se facilmente a cada movimento ou situação. E neste nível são precisos mais articulações que ultrapassem o conhecimento de meia-dúzia de jogos internacionais.

Neste aspecto, veja-se a constituição das equipas iniciais deste fim‑de‑semana: a França alinhou com 8 jogadores do Toulouse, a Escócia com 8 jogadores do Glasgow, a Irlanda com 10 jogadores do Leinster, Gales com 7 jogadores dos Ospreys e mesmo a derrotada Itália apresentou 10 jogadores do Beneton mas os seus hábitos, num campeonato competitivamente bastante mais fraco, não lhes garantem as capacidades eficazes de confronto sob uma pressão defensiva permanente de Gales.

Só a Inglaterra, que foi “trocidada” pelo quinze francês, é que não consegue formar uma equipa suficientemente coesa para este nível… Recorrendo a jogadores de 8 clubes e apresentando um 9-10-12-13 de quatro clubes diferentes, a selecção inglesa foi destroçada por uma equipa que fez da adaptação e organização de mini-unidades uma força brutal — e daí as oportunidades que, depois, numa visão colectiva treinada e articulada, não se falham.
Deste fim‑de‑semana bastantes aspectos a reter por quem tenha a responsabilidade de formar equipas para competir ao nível do alto rendimento. Treino, muito treino e muita articulação sistémica…


Arquivo do blogue

Quem sou

Seguidores